segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Noite de Natal Azul

Noite de Natal Azul Ilustração: phermad

Dezembro. Estava uma noite de gelo. Na aldeia fazia muito frio naquela altura do ano. Dentro de casa reinava uma agitação fora do normal. A mãe preparava o bacalhau e as couves para a ceia. Na mesa já se encontravam os mexidos, a aletria, as rabanadas, as sopas secas e os sonhos. O pai nada chegado às lides da cozinha, encontrava-se sentado, com o seu ar abstraído, num pequeno banco de madeira. O mano velho desafiava o puto a brincar às escondidas na fábrica de algodão, que ficava colada à casa da avó e "suja" (era assim que a avó lhe chamava) tentava também fazer parte das brincadeiras.
O tio Tónio entra pela casa com o bolo rei na mão. Logo atrás chegam mais tios e tias, primos e primas. A avó coloca mais um canhoto no forno a lenha.
A mesa enche-se de conversas e gargalhadas. Ao longe ouve-se o sino da igreja. Era quase meia-noite. "Suja" olha para a janela e sorri. O seu Pai Natal azul acabava de chegar. Sim o Pai Natal de "suja" entrava pela porta da cozinha e chegava vestido de azul. E quando ele entrava com o seu saco azul cheio de prendas, "suja" batia palmas de tanto entusiasmo. E nessa noite adormecia junto à árvore de natal, de largo sorriso no rosto.
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Um Natal em tons de azul para todos!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Encruzilhada(s)

A Su lançou a sua Teia de Ariana e atingiu-me com mais um miminho.
O desafio chama-se Encruzilhada e tem como finalidade "compôr um post em prosa/conto ou poesia com os títulos dos últimos 10 posts, usando outras palavras, pelo meio, para dar sentido ao todo."

De… zem… broooooo!
Brrrr… brrrr… um mês gelado nos algarves ou nem tanto!
Provavelmente, o Dia Mundial do Voluntariado também deve ter sido celebrado em Gevelsberg. Não sei… Nesta cidade nunca estive.
Neste momento, questiono-me se estas palavras serão apropriadas para concorrer ao Prémio de Poesia Daniel Faria!? Obviamente que não!
E ainda neste mês espero escrever uma estória que espelhe um pouco os Contos de Natal, mas enquanto não a escrevo vou recordando os dias, em que de leiteira na mão, ia até ao Maitolaituvi. Confesso que deixava as horas passarem e a minha mãe é que não gostava nada!
Para mim, Townsville – North Queensland é um lugar de desilusões... Já da Georgia nada sei, pois nada conheci e nada vi.
Mas nem tudo começa assim, com uma Kesäaamu (summer morning)... Por vezes começa mesmo com uma manhã quase de Inverno!

As regras dizem também que tenho de seleccionar 10 eleitos. E como regras são regras aqui deixo o nome das minhas vítimas:

Canochinha: http://espacorosa.blogspot.com/
Daniela: http://declaro-mesonhadora.blogspot.com/
Fábula: http://fabulosamentelouca.blogspot.com/
Fernando Pessoa: http://oblogdos5pes.blogspot.com/
João: http://www.eremitta.blogspot.com/
Miss Alcor: http://quemdissequeerafacil.blogspot.com/
Nuvem: http://a-minha-nuvem.blogspot.com/
O autor: http://www.surrapa.blogspot.com/
Rogeriomad: http://www.georden.blogspot.com/
Ruinzolas: http://post-hits.blogspot.com/

Divirtam-se ou não! :) Beijos e abraços.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Nem tudo começa assim

Nem tudo começa assim
Dois anos voaram. 730 dias extinguiram-se. Dia após dia, semana após semana e mês após mês foram nascendo e morrendo, morrendo e nascendo. Deslizando até um passado que já não é um presente, nem ainda um futuro.
16 de Dezembro de 2005. Nem tudo começa assim. De um nada, de um vazio.
Um vazio, que na sua escuridão, procura pintar os seus tons de azul.
Os tons de azul das suas manhãs e do seu mar, das suas palavras e do seu olhar.
Os tons das muitas e muitas outras cores, que sempre tingiu de tons de azul.

domingo, 9 de dezembro de 2007

"Contos de Natal" de Charles Dickens

Contos de Natal de Charles DickensEste foi um dos livros que fez parte da minha infância. Não me pertence. É da minha mãe. Lembro-me de não ter nenhum livro, na minha prateleira, para ler e de, às escondidas, ir retirando da prateleira da sala os livros dela. No meio de tantos livros encontrei este que me chamou logo ao primeiro olhar. Toquei-lhe. Era diferente de todos os outros. Forrado em tecido, com linhas e letras em dourado e uma simples fotografia. Agora as suas letras já meio apagadas dão-lhe o uso dos anos, mas para mim este livro terá sempre o mesmo encanto.
São seis os contos, que foram seleccionados. O primeiro conto, "A Canção do Natal", é aquele que todos vocês conhecem de certeza. Lembram-se do Scrooge e dos seus três fantasmas?
Os outros contos são "O Vendedor Ambulante"; "O Guarda-Chuva do Sr. Thompson"; "Os Sete Caminhantes Pobres"; "Uma Dama Caridosa" e "Os Carrilhões".
Todos os contos estão impregnados de influências da tradição cristã e pagã, mas
Dickens transmite neles uma tamanha ternura e magia. Encontro nas suas palavras um Natal que já não existe em mim.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Dia Mundial do Voluntariado

Dia Mundial do VoluntariadoFoto: Y & R Redcell, in CGD - azul, nº 25


Em entrevista com...
Ângela Vieira, 26 anos, voluntária na Cruz Vermelha de Faro

tonsdeazul: O que te levou a ser voluntária?
Ângela:
- Há imenso tempo que pensava em ser voluntária, mas como toda a gente, o tempo não dava para isso! Trabalho, Universidade, Universidade, casa, casa, trabalho... Parecia impossível conseguir conciliar mais um horário! Foi então que, infelizmente o meu namorado teve um acidente. E se bem te lembras dessa fase, eu, por milagre consegui, para além do trabalho, da Universidade (aulas e trabalhos de grupo) e da casa, arranjar tempo para passar quase os turnos completos da visita com ele, no hospital. Desde que ele saiu, foi como uma promessa... Se consegui conciliar tudo aquilo, também conseguirei daqui em diante!
Inscrevi-me no Hospital de Faro como voluntária, porque me comoveu profundamente ver pessoas idosas, crianças e adultos debilitados à espera de uma pequena ajuda. Como nas refeições, num simples movimento para se virarem da cama, de um ouvido ou de um ombro amigo que simplesmente estivesse ali... E as auxiliares e enfermeiras sem mãos a medir. Mas, por incrível que pareça, com tanta ajuda para dar, o hospital dificulta a vida aos voluntários. Marcam-nos entrevistas não quando pudemos ir, mas sim quando eles querem; marcam a formação para dias de semana em horário laboral e esquecem-se que quem quer ser voluntário trabalha, pois não sobrevive do voluntariado!
Resumindo, o que me levou a ser voluntária foi o convívio com estas fragilidades, no tempo em que "vivi" naquele hospital. E como se costuma dizer: Há males que vêem por bem!

tonsdeazul: Voluntária na Cruz Vermelha, porquê?
Ângela Vieira:
Estava eu em trabalho, numa feira no IPJ em Faro, quando num stand quase ao lado do meu estava a Cruz Vermelha Portuguesa e um cartaz a dizer “Inscreve-te já e sê um Voluntário na Cruz Vermelha” e pronto. Nem pensei duas vezes, inscrevi-me e passado uns tempos ligaram-me para ir ajudar a dar roupa e alimentação a uns desalojados em Faro. E assim começou... Fiz um Curso de Tripulante de Ambulâncias de Socorro (TAS) pós-laboral, continuei a ter formação pós-laboral uma vez por semana, e dou a minha disponibilidade de horário para fazer piquetes. Seja em feiras, na própria unidade, em ralys, concentrações, semanas académicas, concertos, condução de ambulâncias, etc. Como durante o dia estou no trabalho, dou normalmente o meu tempo livre durante a noite, ou seja, das 20h às 07h. Não te assustes, normalmente não existe trabalho a noite toda, porque trabalhamos em conjunto com o INEM e os Bombeiros.

tonsdeazul: Sentes que a formação que tens tido é suficiente para agires em situações mais graves e que requerem uma experiência que ainda não tens?
Ângela Vieira:
É claro que não posso dizer que é suficiente, porque cada caso é um caso e o que se aprende nos livros é um bocadinho diferente ao vivê-lo na vida real. A formação ajuda-nos muito, não só a teórica, para relembrar o que demos no curso, mas os casos práticos que “representamos” são uma ajuda preciosa. Tento fazer sempre os piquetes de urgência com colegas mais experientes, porque me sinto mais à vontade. Não sei como reagirei se for necessário fazer algo de que no momento não me sinta capaz. Daí eu carregar sempre na "tecla" do novato com o experiente! Mas já me sinto muito mais à vontade, e devo isso aos turnos que tenho feito, porque é como andar de bicicleta, aprendes e não esqueces e para fazeres sempre bem e dares o teu melhor, só com a prática.

tonsdeazul: Ser voluntário é compensador?
Ângela Vieira:
Olha por acaso, tive logo essa resposta no meu primeiro dia de voluntariado. Como já referi, fui distribuir vestuário e alimentação a uns sem-abrigo em Faro. E aí apanhas de tudo. Drogados, prostitutas, mendigos... E foi uma experiência maravilhosa! Eu que por vezes até tinha medo de lhes entregar a moeda quando me “ajudavam” a estacionar o carro e ali pude conversar com eles, rir, perceber porquê a escolha daquelas vidas. Sem palavras... Só vivendo o momento! Outro caso foi no do Hospital de Faro, como a Cruz Vermelha faz lá muitos trabalhos, quando estou à espera de algum doente posso conversar, ajudar a vestir, ajudar a comer e pensar que se fosse um familiar meu, era assim que gostaria que ele fosse tratado. Para quem gosta mais de dar do que receber é o melhor que se pode ser: voluntário de qualquer coisa. Não precisa de se inscrever em lado nenhum, basta ir a um sítio destes mais carenciados de mão de obra: Santa Casa, creches, lares e dizer: “Olhe, estou aqui, vim para ajudar!” Saímos de lá com uma maneira muito diferente de ver as coisas e com uma expressão na cara que nos faz parecer uns maluquinhos, pois não deixamos de sorrir. Parece que vivemos num paraíso de tanta alegria que transborda!

tonsdeazul: Que conselho darias a futuros voluntários?
Ângela Vieira:
Não é necessário ser-se voluntário numa instituição ou associação que nos aceite, podemos sê-lo em qualquer situação! Eu felizmente sou na Cruz Vermelha, sou Dadora Voluntária de Sangue, sou Dadora Voluntária de Medula Óssea e sou Voluntária para tudo o que veja que é necessário eu DAR sem receber nada em troca.
Aconselho-os:
Que não tenham medo de não saber fazer algo, pois aprende-se;
Que não tenham medo de perguntar, pois ninguém nasce ensinado;
Que não tenham medo de tocar, falar e ouvir as pessoas, pois não é assim que se apanham as piores doenças;
Que façam o bem um bocadinho que seja, para que este mundo egoísta e preconceituoso em que vivemos possa melhorar;
Que pensem que um dia podemos ser nós a precisar desta ajuda e a não haver ninguém para a dar!
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Nota: A entrevista foi colocada na íntegra, pois retirar palavras seria cortar a sua essência.
Obrigada amiga pelas tuas palavras e por sempre teres um tempinho para mim.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Carta ao coronel | resultados

A hora dos resultados chegou.
Volto agradecer aos autores que aceitaram este desafio e aos participantes que deixaram as suas pinceladas e votaram durante estes dias. No entanto, caros amigos, não esperava um empate... e como em caso de empate sou eu que tenho a palavra... decido que não há um, mas sim dois premiados. :)
Parabéns aos quatro, em especial aos dois vencedores!
E sem mais demoras, deixo-vos com os resultados e com o nome dos autores, pois bem sei que estão curiosos para os "conhecer"!

1º lugar - com 5 votos
Carta ao coronel 2
Autor: Fernando Pessoa
Blogue: O Blog dos 5 Pês
http://oblogdos5pes.blogspot.com/

Carta ao coronel 4
Autor: Carteiro
Blogue: Selos Difusos
http://selosdifusos.blogspot.com/

2º lugar - com 4 votos
Carta ao coronel 1
Autora: Su
Blogue:Teia de Ariana
http://teiadeariana.blogspot.com/

3º lugar - com 3 votos
Carta ao coronel 3
Autora: Teté
Blogue: Quiproquó
http://pequenoquiproquo.blogspot.com/

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Nota: Os vencedores serão contactados para receber os respectivos prémios.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Festival P/Artes

Festival P/Artes"Vai decorrer nos dias 7 e 8 de Dezembro o «FESTIVAL P/ARTES – ALGARVE 2007» uma organização do Terminal Studios e da Direcção Regional do Algarve do IPJ - I.P.
Este Festival, pioneiro no país, será uma mostra colectiva de várias áreas artísticas e a sua propagação na formação e captação de novos públicos, vai desenvolver um programa de actividades com especial incidência nas áreas da BD , Cartoon, Caricatura, Ilustração, Vídeo, Música e Artes Performativas.
Durante 2 dias, vários "artistas" de todo o país, apresentam e divulgam o seu "trabalho artístico".
Do diversificado programa chamamos, desde já, a atenção para os ateliers dirigidos aos mais jovens, para a Feira de Artesanato, Livros 2ª BDmão e Mostra de Fanzines , actividades de participação gratuita mas sujeitas a marcação prévia.
As actividades vão decorrer entre espaço da entrada principal e a sala de exposições da Direcção Regional do Algarve do IPJ, entre as 14h00 e as 20h30.
O Programa detalhado com actualização da lista de participantes no «FESTIVAL P/ARTES – ALGARVE 2007» pode ser consultado no site
www.drmakete.com
Para mais informações e inscrições, deverão os interessados contactar a Direcção Regional do Algarve do Instituto Português da Juventude, na Rua da PSP - Faro (junto à Alameda), telefone 289891820 ou e-mail ipj.faro@ipj.pt
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CONVITE
p/ artistas e editores interessados em participar nas exposições ou na Feira de Fanzines, Livros 2ªBDmão e Artesanato...
Ainda é possível participar no evento..., apressem-se a contactar a organizaçao ou fazer pré-inscrição!!

p/ participar na "Banda Sonora", os músicos e as bandas devem enviar o link do vosso projecto no "myspace".
Depois entraremos em contacto convosco para mais detalhes.
(Também aceitamos sugestão de projectos musicais de quem não for músico...).
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PRAZOS
até 30 Novembro
» envio de trabalhos p/ exposição e inscrição nas actividades.

até 3 Dezembro
» envio de músicas para a Banda Sonora.
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Outros contactos:
Fernando Madeira
terminalstudios@gmail.com
"

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Carta ao coronel | início da votação

Ao longo da semana foram publicadas 4 cartas, de 4 autores.
Hoje coloco o sistema de votação online para a escolha da melhor carta ao coronel. Conto com a participação de todos que por aqui passam, até ao dia 30 de Novembro, às 19h00.
Agradeço, mais uma vez, aos autores. Boa sorte aos quatro, pois estão todos de parabéns!

Ah! Informo que em caso de empate, deixarei de estar isenta.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Carta ao coronel | 4

"Rios Perdidos, 26 de Novembro de 2007

Meu Coronel,

Espero que estas palavras o encontrem com saúde e com toda a boa disposição que sempre lhe conheci. Eu por cá vou andando, com toda a saúde e alegria de poder estar com a minha Alice, coisa que o meu Coronel bem percebe depois de todas as dificuldades dos tempos passados.
Muitos anos passaram desde aquela noite que mudou para sempre grande parte do que fomos até então. Mas há coisas que nunca mudam, como os Outonos e a forma como eles sempre trataram o meu Coronel. É esse o motivo destas palavras, pois muito me agradaria descobrir que o sabor dos anos pode transformar em açúcar os frascos de amargura que jamais serão conhecidos por terceiros. E uma vez que estes não voltam a ser precisos ao mundo, poderiam transformar-se em algo bom e útil a todos. Ou pelo menos assim o sonho e o espero. E bem sabemos que esperanças e sonhos sempre foram a maior armadura do meu Coronel.
Talvez, na leitura destas palavras, as folhas secas de mais um Outono passado já tenham desaparecido. Que passe por nós um novo Inverno, pois conhecemos a lareira adequada a cada um dos frios.
Por cá fico a aguardar palavras do meu Coronel, antes do nascer de novas folhas.
Um abraço deste que foi, um dia, apenas soldado,

E. G."
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Autor: Carteiro

Blogue: Selos Difusos http://selosdifusos.blogspot.com/

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Carta ao coronel | 3

“Caro Coronel:

Serve a presente carta para o informar que deverá contactar urgentemente a nossa empresa de advocacia, através dos endereços ou telefones patentes no cabeçalho com o nosso timbre.

Compete-nos também indicar que Dona Elena Alonzo, a nossa cliente, lhe concedeu um legado significativo de 150 mil euros, por ter literalmente salvo a vida do seu filho, José Alonzo, soldado sobre as suas ordens, em tempo de guerra.

Lamentamos só tardiamente conseguirmos encontrar o seu paradeiro – a nossa cliente faleceu em Maio de 2005 - mas como possivelmente imagina, a burocracia instalada no seu e em muitos outros países, da América Latina e também da Europa, dificultou imenso a tarefa de o localizar.

Gratos pela atenção dispensada, na perspectiva das suas notícias, subscrevemo-nos

Atentamente

Mário Clemente
(advogado)

ANEXOS:
1 – Dados inerentes à sua conta no Santander;
2 – Registos dos saldos bancários da referida conta, com os respectivos juros, desde Junho de 2005;
3 – Carta escrita pelo punho da própria Dona Elena, alguns dias antes de morrer.”
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Autora: Teté
Blogue: Quiproquó http://pequenoquiproquo.blogspot.com/

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Carta ao coronel | 2

“Macondo, 30 de Julho

Coronel,

Escrevo-lhe desta terra maravilhosa que ainda resiste à guerra, desde que ela se instalou indefinidamente na nossa pátria. Certo de que há muito que não dou notícias, quero pedir desculpa e dizer-lhe que a sua casa está à minha guarda pessoal. Todos saíram daqui. Restam 3 soldados e um deles está coxo. Foi ficando sem esperança de que alguém do exército o viesse buscar para regressar. O comboio fez a última viagem no início do ano e desde então só recebemos por barco, e uma vez por mês, mantimentos (muito poucos aliás) para esse tempo.

Devo dizer que o capitão tem a sua fama em muito boa cotação. Eu sei que somos poucos, mas eu ainda conto. Eu admiro-o e limpo o seu quadro todos os dias de manhã. Tal qual faço a minha limpeza diária. E depois o pó não tem ajudado. O deserto tem avançado sobre a cidade e a poeira é cada vez mais insuportável.

Escrevo-lhe para mostrar o meu apreço pelo facto de a sua esposa ter descoberto que o senhor tem um filho bastardo. Não sei como ela terá reagido ao saber, mas queria deixar a minha consideração ao nosso capitão que nunca deixará o de ser. Temos pedido o fim da guerra a deus, para que possamos um dia estar aos seus comandos uma vez mais.

O seu filho
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Autor:
Fernando Pessoa
Blogue: O Blog dos 5 Pês http://oblogdos5pes.blogspot.com/

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Carta ao coronel | 1

"Não há mar à minha beira. Nem escuto os gritos solitários das gaivotas que assaltam as ondas. Imagino-as. Tal como imagino o assalto solitário destas minhas palavras não abandonadas num papel qualquer, enrolado e fechado numa garrafa, que iria atirar ao mar. Não naufrago as minhas palavras porque não há mar à minha beira. Assim, não há mensagem na garrafa. Não há quem a atire e não há quem a receba, no sobressalto dourado de um final de tarde, à beira-mar.
Mas escrevo-te. Não é que tenha alguma coisa para te dar. Para além de mim mesma.
Não tenho nada para procurar porque nunca encontro nada do que eu quero. Outra vez, para além de mim mesma.
Sou o corpo materializado das palavras que navegam dentro de mim e se lançam em pontes virtuais, até ti, aquele que me lê. Aquele que, assim, me recebe. É nesta possível carta que te escrevo, que te acompanho, que me te dou. Não te peço nada. Apenas que me leves. Me tomes como a companhia indiscreta que, discretamente, se aproxima da tua consciência e que te diz que vale a pena sempre esperar. Como nunca sabemos aquilo que ainda não foi feito, o outro dia ser-nos-á, sempre, entregue como a eterna novidade das nossas vidas. Portanto, é válida a espera.
Assim como o que eu te escrevo."

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Autora: Su
Blogue: Teia de Ariana http://teiadeariana.blogspot.com/

domingo, 18 de novembro de 2007

Carta ao coronel

Portugal, 18 de Novembro de 2007

Boa noite coronel,

Enquanto que os meus dedos dedilham estas palavras, os meus pensamentos desejam encontrar-lhe a si e à sua esposa no pleno da vossa saúde física e mental.
Bem sei que estas minhas palavras não são as que esperava receber. Lamento que ao lê-las o seu rosto esmoreça com tamanha tristeza. Só que estas são as palavras que tenho e são estas palavras que vos enviarei.
Provavelmente o vosso galo até ganhou o bendito combate e provavelmente com a tamanha riqueza, que daí proveio o coronel até deixou de ir ao cais todas as sextas-feiras... O que considerando essa hipótese, as minhas palavras podem não chegar até si... Seria lamentável, pois mesmo não acrescentando nada à sua vida, gostaria de acreditar que não as escrevi em vão.
Coronel permita-me ainda dizer-lhe que admiro a sua coragem e determinação perante tanta adversidade e maleita. A desfaçatez da sua personagem ficará para sempre nos jardins da minha memória.
Um abraço sincero
tonsdeazul

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Nota: Esta carta assinala a abertura do desafio e não irá a votos.

Agradeço aos participantes e amanhã iniciarei a publicação das cartas a concurso. Até lá.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Escrevam ao Coronel

Ainda a respeito da "pintura" anterior... gostaria de lançar um novo desafio a todos os que visitam o tons de azul.
Como eu gosto de escrever e ainda mais de ler, todos os motivos são um pretexto válido para satisfazer este meu vício. Assim, desafio-vos a escrever uma carta ao coronel.
Até ao final desta semana, ou seja até domingo, aguardarei na minha caixa de correio por uma carta original (máximo de 230 palavras), que deve conter o nome do autor ou pseudónimo e nome do blogue (caso exista). Atenção as cartas devem permanecer anónimas até à divulgação do vencedor/a.
Na semana seguinte publicarei todas as cartas por ordem de entrada. A votação será feita, mais uma vez, via online e o/a vencedor/a receberá um prémio azulado.
Conto com a vossa participação! Por isso, deixem a preguiça de lado e coloquem essa massa pensante a trabalhar. Beijos, abraços e até breve!

sábado, 10 de novembro de 2007

"Ninguém Escreve ao Coronel"

Ninguém Escreve ao CoronelNo mês passado não consegui deixar aqui nenhum registo de pinceladas na escrita. Novembro entretanto já por aqui anda e sendo assim aproveito para escrever sobre o livro Ninguém escreve ao Coronel de Gabriel García Márquez.
Foi o primeiro livro que li deste autor. Um livro de poucas páginas (106 pp.) e que, de tão delicioso, se lê num ápice.

"Era Outubro. Uma manhã difícil de suportar, mesmo para um homem como ele que já sobrevivera a tantas manhãs como esta. Durante cinquenta e seis anos (...) o coronel não fizera outra coisa senão esperar. Outubro era uma das poucas coisas que chegavam."

(Outubro é mesmo um mês diferente de todos os outros. Até mesmo para um Coronel!)

O livro narra a história de um coronel e da sua mulher que perderam o seu filho. O casal recebeu como herança um galo de combate. Este dá imensa despesa, mas vendido seria uma óptima fonte de rendimento. De dia para dia, começam a viver numa situação cada vez mais miserável e são obrigados a pedir cada vez mais créditos para sobreviverem. No entanto, o coronel continua a ter a sua esperança. E é com essa esperança que sai todas as sextas-feiras em direcção ao ao cais para esperar por uma carta de um governo há muito tempo derrubado. A carta que lhe traria a prometida pensão. Só que todas as sextas-feiras o coronel chega a casa de mãos vazias. Contudo, a sua esperança não desvanece. E assim, o coronel e a sua mulher continuam a dar o pouco alimento que têm para eles... ao galo. Pois o galo, segundo o coronel, dará muito dinheiro... Se vencer no dia do combate...
E o fim não conto, é claro!
Uma história complexa, rica em emoções humanas e de personagens inesquecíveis.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

A Casa Grande

Casa Grande em Pinhel
No outro dia fiz uma escapadinha até à aldeia de Cerejo. Tive sorte e fui conhecer também a cidade de Pinhel e a aldeia de Valbom. Lugares estes pertencentes ao distrito da Guarda. Entre conversas e caminhadas, lá me foram contando algumas histórias passadas por aquelas bandas. De regresso a casa houve uma que me ficou no pensamento... A estória da Casa Grande de Pinhel... Dizem que "tem tantas portas e janelas como dias tem o ano". Não confirmo, porque não as contei. O povo conta que se trata de uma obra do Diabo, uma vez que a casa foi edificada num curto espaço de tempo. Muitos afirmam que surgiu do nada.

O certo é que a lenda existe...

"Certo dia de Verão o mestre que dirigia a obra da Casa Grande adoeceu, caindo de cama. Impossibilitado de continuar a obra, o mestre decide mandar chamar um dos seus oficiais explicando-lhe que deveria ir até aos "carrascos", nome dado à pedreira situada numa mata de vegetação a poucos quilómetros de Pinhel, buscar o granito que faltava para continuar as obras da casa. Foi então que, exigindo-lhe segredo, lhe ordenou que com ele levasse um livro e, chegado ao local da pedreira o abrisse, pois desde logo, trabalhadores saídos das páginas o iriam ajudar a levar as pedras para Pinhel e continuar assim a obra. O Homem assim o fez, seguiu viagem com o livro a tiracolo, mas quando ia já perto da Póvoa d'El Rei, a curiosidade atiçou-o e num golpe de coragem abriu o livro, enquanto isso o sol pousava no horizonte. A tentação fora mais forte do que as ordens do mestre. E logo, das páginas do alfarrábio precipitaram-se figuras demoníacas e burlescas, gritando e gesticulando de forma desordenada: "Que queres que façamos?", perguntaram-lhe. Ainda atordoado com os insólitos acontecimentos o oficial de pedreiro apenas se lembrou de mandar cortar os silvados que o rodeavam. Assim foi feito. Diz a lenda que o próprio Diabo, "em carne e osso", comandou os seus diabretes no trabalho. Assustado, o oficial de pedreiro fecha o livro e corre apressadamente para Pinhel sem mais o abrir. No dia seguinte, não houve pedra para continuar a obra. O mestre de obras, entretanto recuperado, ficou furioso com o seu oficial e acabaria ele próprio por se dirigir à pedreira com o livro. Reza a estória que foi o Diabo, em pessoa, que comandou os diabretes, transportando a pedra para obra. E foi assim que a Casa Grande surgiu, levantada pelos operários com a pedra do Diabo e dos seus diabretes."
___________________
Fonte: Vários autores, À Descoberta de Portugal, Selecções do Reader's Digest, 2ª ed., 1989.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A não perder!

BD, Cartoon e Ilustração A Direcção Regional do Algarve do Instituto Português da Juventude junta-se uma vez mais a uma iniciativa que muito me agrada.
Convido-vos a estarem presentes amanhã, dia 8 de Novembro, pelas 21h30 na Galeria de Exposições do IPJ em Faro, para a inauguração da Exposição "banda desenhada+cartoon+ilustração". Os autores são Serafim+Rocha+Phermad+Luís Peres.
A mesma estará patente ao público até dia 10 de Dezembro. Por isso não há desculpas. Apareçam!

terça-feira, 6 de novembro de 2007

despertar

despertar
Tem os dedos entorpecidos. De mãos esticadas para si, questiona os seus dedos que lhe parecem estranhos.
Não sabe por onde andou. Não sabe há quanto tempo esteve ausente. Nem tão pouco sabe aonde se esqueceu de si.
No cimo da sua mesa, por entre papeis e livros, jaz há muito uma caneta esquecida. Vislumbra-a. Suavemente pega nela, e a medo ensina-a a caminhar por entre os seus desajeitados dedos.
A tinta custa a marcar a folha pautada. Por momentos pára e vagueia nos seus pensamentos. Lentamente retoma a escrita. Apanha as letras soltas que lhe tinham fugido e forma palavras. Forma muitas e muitas palavras. Palavras que já não são escritas para um vazio, nem para um silêncio, mas para um despertar.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

ausências...


Encontros...
Silêncios...
Sonhos...
Retalhos...
Vazios...
Pensamentos...
Palavras...
Partidas...
Desencontros...
Ausências...
Silêncios...

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

uma Alma

Vista do Marvão
O que somos não pode ser transposto em palavras ou livros."
Fernando Pessoa

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Cartas a duas vozes

Já pensaste em enviar uma carta ou até mesmo um postal e poderes ser tu a escolher a imagem para os teus selos? Pois é... Os CTT, para assinalar o Dia Mundial dos Correios, lançam hoje o serviço “meuselo”.
E eu para marcar o dia de hoje, transcrevo algumas palavras de “quando não há cartas a entregar” do meu amigo carteiro. E é com estas palavras a duas vozes que vos deixo.

“quando não há cartas a entregar...
... deito-me e fico ao nível das ervas.
Observo-as como se os seus olhos estivessem em linha com os meus.
Conversamos, sem interromper o vento, as aves e os insectos.
E falamos das nossas viagens…”

carteiro, Selos difusos,#001, 28 de Maio de 2007

Quando não há cartas a receber...
Fico observando a rua deserta através da janela,
Esperando que o vento antecipe notícias,
Que hoje não chegarão até mim.

[…]

“quando não há cartas a entregar...
... sento-me. E fecho os olhos à espera do tempo.
Daquele que me fez viajar por sentimentos tão
nobres e belos que não seria preciso voltar a
fechar os olhos. Mas esse tempo viajou. E eu
espero-o, no seu regresso...”

carteiro, Selos difusos, #006, 18 de Setembro de 2007

Quando não há cartas a receber...
Fico ansiosa por notícias que tardam em chegar...
Observo a chuva miudinha a cair na varanda da minha janela...
Fecho os olhos e leio mentalmente as palavras da última carta...
E então sorrio.

“quando não há cartas a entregar...
... deito-me e adormeço, por vezes, a ler ou reler
cartas que outrora me foram entregues.
E enquanto que em Primaveras me recordo
do sabor de chuvas passadas,
nos Outonos sinto, entre o verde mais vivo,
o vermelho daquelas papoilas...”

carteiro, Selos difusos, #007, 5 de Outubro de 2007

Quando não há cartas a receber…
Olho o azul céu e observo os pássaros que voam dispersos
E notícias não me trazem.
Sento-me no jardim das minhas memórias
E escrevo outras palavras a entregar.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

"Sonho Meu, Sonho Meu"

Vila de Ponte de Lima
Sonho Meu, Sonho Meu
Sonho… Que não és meu.
Jardim… Que não és meu.

Sonho Meu, Sonho Meu
Jardim de petunias, relva e tagetes patula
Que, próximo das margens do rio Lima,
Revelas a tua deslumbrante magia.

Sonho Meu, Sonho Meu
Jardim de sonhos e fantasias
Que, esquecendo o real num outro mundo que não o teu,
Deixas o irreal ganhar formas de cores fortes.

Sonho Meu, Sonho Meu
Jardim de brincadeiras e tropelias
Que, coberto de pequenas pedras vermelhas,
Desvendas baloiços azuis em fortes oliveiras.

Sonho Meu, Sonho Meu
Jardim encantado que não conheci…
Não percorri… Não contemplei…
Não descobri… Não sonhei…

Sonho Meu, Sonho Meu
Em teu cascalho vermelho não caminhei…
Em teus baloiços azuis não baloicei…
Em teu rio de flores não mergulhei…
E em teu “barco de papel” não viajei…

Sonho Meu, Sonho Teu…


_______________________
Inspirado no Jardim Sonho Meu, Sonho Meu, de Miguel Peixoto.
Jardim que pode ser descoberto em Ponte de Lima até dia 30 de Outubro.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

No Dia Mundial da Música...

Parque da cidade de Évora" A minha ideia é que há música no ar, há música à nossa volta, o mundo está cheio de música e cada um tira para si simplesmente aquela de que precisa."

Edward Elgar

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

"Encosta-te a mim"

Vôo Nocturno de Jorge PalmaEsta noite, às 21h30, venham comigo assistir ao Vôo Nocturno de Jorge Palma, no Cine Teatro Louletano.
Enquanto esperam que a noite chegue, podem sempre ir aquecendo a voz. :)
Abraços e beijinhos!

Encosta-te a mim,
nós já vivemos cem mil anos
encosta-te a mim,
talvez eu esteja a exagerar
encosta-te a mim,
dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou,
deixa-me chegar.
Chegado da guerra,
fiz tudo p´ra sobreviver em nome da terra,
no fundo p´ra te merecer
recebe-me bem,
não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói,
não quero adormecer.

Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim.

Encosta-te a mim,
desatinamos tantas vezes
vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal
recebe esta pomba que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada, seja como for.
Eu venho do nada porque arrasei o que não quis
em nome da estrada onde só quero ser feliz
enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer.

Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo o que não vivi,
um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim

Encosta-te a mim

Encosta-te a mim

Quero-te bem.

Encosta-te a mim.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Página 161: a 5ª frase completa

A Su lançou-me a sua Teia de Ariana e fiquei sem escapatória possível. Também tratando-se de livros não dá para resistir! :)

1. Pegar no livro mais próximo;
2. Abri-lo na página 161;
3. Procurar a 5ª frase completa;
4. Colocar a frase no blog;
5. Não escolher a melhor frase nem o melhor livro (usar o mais próximo);
6. Passar o desafio a cinco pessoas.


O desafio é tentador! O pior mesmo é pegar no livro mais próximo sem fazer batota! :)
___________________
Quarta-feira, 22:10
Decidida a não fazer aldrabice, lá me dirigi ao meu quarto e de olhos fechados estiquei o braço até à prateleira. Apanhei o suposto livro que me iria dar, na página 161, a quinta frase completa. Pois… não a encontrei... o livro não tinha tantas páginas… Mais uma tentativa… Página 161 e nada novamente… a dita página estava em branco… Hum… o resultado não estava a correr nada bem… mas, lá estiquei o braço, mais uma vez, até à prateleira e com o terceiro livro na mão volto a passar as páginas até à bendita página 161… e mais uma vez não encontro a quinta frase completa!! O capítulo termina na terceira frase. Começo a rir da situação. Olho para a prateleira de cima e num ápice pego num livro e já a pensar no que me iria sair desta vez, chego até à página 161… e procuro a esquiva 5ª FRASE COMPLETA! Para surpresa minha aparece-me esta:
“Fiquei atónito.”
Fiódor Dostoievski, O Jogador

Não aguentei… tive de sorrir… só depois reparo no título do livro que tinha em mãos. Não podia ter sido melhor! Coincidências? ...

Depois desta atribulada maratona não resisto a desafiar também cinco personalidades:
Rogeriomad: Georden
Vítor:
Valencia 2007
O autor: Surrapa...
Ruinzolas:
Post-hits

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Retratos de Monchique

Retratos de Monchique
Mulher com cesto de pernas esguias
Que, esculpida por Melicio,
Revelas a tua escultural beleza.

Mulher com cesto de rosto sereno
Que, sentada no alto muro,
Deixas os teus filhos brincando nos floridos parques.

Mulher com cesto de olhar seguro
Que, de costas voltadas para o labiríntico jardim,
Esqueces o teu escultor no verde chão.

Mulher com cesto de cesto vazio
Que, de pensamentos distantes no horizonte,
Pousas teus pés descalços na pedra rugosa.

domingo, 23 de setembro de 2007

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

“Parques e Vida Selvagem”

Fins de Inverno
O Parque Biológico de Gaia convida para mais uma edição do concurso de fotografia da natureza “Parques e Vida Selvagem”, de âmbito nacional.
A inscrição é gratuita e os temas abrangem tudo o que envolva a natureza, incluindo paisagens, geologia, fungos, flora, fauna, entre outros.
As fotografias terão de ser apresentadas impressas em papel fotográfico no formato 20 x 30 cm e deverão ser entregues ou enviadas por correio e devidamente protegidas para a seguinte morada: Parque Biológico de Gaia - Revista PARQUES E VIDA SELVAGEM - Concurso de Fotografia - 4430-757 AVINTES até 1 de Outubro de 2007.

Se ficaste tentado em participar então consulta mais infomações e o regulamento. Boa sorte e nada de utilizar a minha foto. :)

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Palavras

Palavras ilustração: phermad

Palavras escritas.
Palavras pensadas.
Palavras sentidas.
Palavras perdidas.
Palavras doentias.
Palavras enlouquecidas.
Apenas palavras.
Palavras vazias,
Que o vento cobarde e fugidio,
Um dia ao amanhecer levou.
Vento que já não sopras.
Riso que te escondes.
Loucura que teimas em chegar.
Noites que aguardam o silêncio.
Pensamentos tardios que ainda esperam.
Dedos trémulos que rascunham palavras.
Apenas palavras.
Palavras vazias,
Que escrevem para o esquecimento.
Apenas palavras.
Palavras vazias,
Que escrevem para o nada.
Apenas palavras.
Palavras vazias,
Que se perdem no vazio.

domingo, 9 de setembro de 2007

"Palavra Ibérica' 08"

Prémio Internacional de Poesia
A
Câmara Municipal de Vila Real de Santo António e o Ayuntamento de Punta Umbría instituem o “Prémio Internacional de Poesia Palavra Ibérica 2008”.
Podem concorrer a este prémio, todos os escritores, nacionais e estrangeiros, desde que as obras a concurso sejam apresentadas em português ou espanhol.

Os originais em português serão dirigidos ao júri do “Prémio Internacional de Poesia Palavra Ibérica 2008”, e deverão ser entregues em mão na sede do Município de Vila Real de Santo António – Praça Marquês de Pombal – 8900 – 231 Vila Real de Santo António ou remetidos por correio registado, com aviso de recepção, para a mesma morada, até ao dia 31 de Outubro de 2007.
Os originais em espanhol deverão ser entregues na Casa de Cultura de Punta Umbría – Plaza de las Artes s/n – Punta Umbria – 21100 Huelva, España, podendo as respectivas disposições regulamentares ser consultadas em
http://www.ayto-puntaumbria.es/

Cada concorrente poderá participar apenas com um original, com um mínimo de trinta páginas e um máximo de quarenta, apresentado em triplicado, em letra Times New Roman, corpo 12 e espaço duplo.
O valor do Prémio em cada uma das modalidades, português e espanhol, é de 2.500,00€ (dois mil e quinhentos euros). As obras vencedoras serão editadas em livro, recebendo os autores cinquenta exemplares a título de direitos de autor.

Consultar mais informações e regulamento completo aqui.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Em busca de uma história

Se Numa Noite de Inverno Um Viajante de Italo CalvinoAgosto foi o mês de descanso, de praia e de colocar leituras em dia. Obviamente esta última foi uma tarefa não cumprida, pois eles, os livros, são mais que muitos! Entre os diversos livros que li houve um que se destacou pela sua diferença. Claro que todos os livros são diferentes entre si, mesmo os escritos pelo mesmo autor, mas este foi diferente do diferente. Acabei de o ler no último dia de férias e agora deixo-vos um cheirinho do início da história.

“Estás para começar a ler o novo romance Se numa noite de Inverno um viajante de Italo Calvino. Descontrai-te. Recolhe-te. Afasta de ti todos os outros pensamentos. (…)
Foi logo na montra da livraria que descobriste a capa com o título que procuravas. Atrás desta pista visual, lá foste abrindo caminho pela loja dentro através da barreira cerrada dos Livros Que Não Leste, que de cenho franzido te olhavam das mesas e das estantes procurando intimidar-te. Mas tu sabes que não te deves deixar assustar, que no meio deles se estendem por hectares e hectares os Livros Que Podes Passar Sem Ler, os Livros Feitos Para Outros Usos Além Da Leitura, os Livros Já Lidos Sem Ser Preciso Sequer Abri-los Por Pertencerem À Categoria Do Já Lido Ainda Antes De Ser Escrito. E assim transpões a primeira muralha dos baluartes e cai-te em cima a infantaria dos Livros Que Se Tivesses Mais Vidas Para Viver Certamente Lerias Também De Bom Grado Mas Infelizmente Os Dias Que Tens Para Viver São Os Que Tens Contados. Com um movimento rápido passas por cima deles e vais parar ao meio das falanges dos Livros Que Tens Intenção De Ler Mas Antes Deverias Ler Outros, dos Livros Demasiado Caros Que Podes Esperar Comprar Quando Forem Vendidos Em Saldo, (…) e dos Livros Que Todos Leram E Portanto É Quase Como Se Também Os Tivesses Lido.”

Desculpem-me. Italo Calvino surpreendeu-me logo na primeira linha, que agora não resisti e acabei por exceder-me na transcrição.
Confesso que comecei a ler o livro e minutos depois já estava a tentar fazer tudo aquilo que o autor me pedia. Arranjei a melhor posição para começar a ler, ajustei a luz, abstraí-me dos sons exteriores e tantas outras coisas.
Se Numa Noite de Inverno Um Viajante conta-nos muitas histórias dentro de uma história. O leitor é confrontado com várias situações inesperadas que o impedem de ler a suposta história do livro que adquiriu. Com isto o leitor dá consigo a ler a sua própria história. Um leitor desesperado que procura a história que parece nunca chegar. Pode-se até dizer que Calvino, com uma notável mestria, consegue causar no leitor uma sensação de frustração. De tal modo que, o autor interrompe as histórias nos momentos mais apaixonantes e depois perfidamente recusa-se a satisfazer o leitor.
Para terminar, refiro que este romance foi definido pelo próprio autor como um “romance sobre o prazer de ler”. Sendo assim, deleitem-se.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Esquecer-me...

... de mim.
(dias nebulados, com tendência para aguaceiros e alguma trovoada)
- 3:37 -

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

As horas do tempo

Mértola
"O tempo que passa não passa depressa.
O que passa depressa é o tempo que passou."
Vergílio Ferreira

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Navega com Mayra Andrade

Navega de Mayra AndradeAmanhã é dia de música no Teatro das Figuras em Faro. Mayra Andrade, a "boa esperança de Cabo Verde" actuará às 22h00 e com a sua voz promete uma noite de ritmos quentes.
A cantora nasceu em Cuba há 21 anos e cresceu entre Cabo Verde, Senegal, Angola e Alemanha. Vive em Paris desde 2003 e prefere a "liberdade dos palcos à clausura dos estúdios". Não gosta que a rotulem de “a próxima Cesária Évora” e muito menos que a música cabo-verdiana seja sempre associada à diva dos pés descalços.
Navega é o seu primeiro disco, resultado de seis anos de trabalho, onde Mayra integra três canções de sua autoria.

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quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Meio-dia: XLIV

Cem Sonetos de AmorCem Sonetos de Amor. Assim se chama o livro de Pablo Neruda (Prémio Nobel da Literatura, 1971) publicado em 1959.
Os cem sonetos estão divididos em quatro partes: Manhã, Meio-dia, Tarde e Noite. Neles, Neruda expressa todo o seu amor.
O escritor confessa à sua amada "Matilde" (e a nós leitores), que grande foi o seu sofrimento ao escrevê-los, mas que a sua alegria em oferecê-los a ela era ainda maior.
Palavras apaixonantes para este quente mês de Agosto e dos cem sonetos, este que transcrevo foi o que mais gostei.




Saberás que não te amo e que te amo
pois que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem sua metade de frio.

Amo-te para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.

Amo-te e não te amo como se tivesse
nas minhas mãos a chave da felicidade
e um incerto destino infeliz.

O meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Nuvens para sonhar

Nuvens para sonhar
"De sonhar ninguém se cansa, porque sonhar é esquecer,
e esquecer não pesa e é um sono sem sonhos
em que estamos despertos."

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"Di sognare nessuno si stanca, perché sognare é dimenticare,
e dimenticare non pesa ed é un sonno senza sogni
in cui siamo svegli."

Fernando Pessoa, in Livro do Desassossego

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Tradução: Giulio.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Papel de carta


Ao receber este abraço lembrei-me do meu amigo carteiro e das suas palavras escritas no passado mês de Junho: "escrevam cartas!".
É bem verdade que cada vez menos se escreve para alguém em papel de carta. Os marcos de correio nas calçadas começaram a ser mais um adereço, do que uma necessidade. O ter tudo à mão de um simples clique alterou os hábitos. As palavras praticamente deixaram de sair de uma Bic Cristal. O som das teclas anuncia no pequeno ecrã as palavras, que a nossa caixa electrónica encarregar-se-á de enviar para a caixa electrónica do nosso destinatário.
Por estas razões, a Austrália Post apostou nesta campanha publicitária que está surpreendente e deveras tocante.
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Nota: Obrigada lindinha pelo o envio deste mimo.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

"Partituras sob os [m]eus olhos"

Cemitério de Pianos
"A luz da manhã não sente os vidros limpos da janela no momento em que os atravessa, pousando depois nas notas de piano que saem da telefonia e flutuam por todo o ar da cozinha."

José Luís Peixoto é um dos meus escritores portugueses de eleição. Não só pela sua escrita, mas também pela pesssoa simples e simpática que demonstra ser em presença com o seu público.
Cemitério de Pianos é a sua mais recente obra e narra a história de uma família. Os avós, os pais, os filhos, os irmãos, os netos, os tios, os sobrinhos e os primos todos eles são talvez teclas de piano suspensas na vida.
Os dois personagens, pai morto e filho vivo, contam-nos, em tempos diferentes e ao longo das 314 páginas, a vida e a morte, as paixões e as traições, as frustrações e a violência doméstica, as alegrias e as tristezas da família.
O cemitério de pianos reside numa carpintaria e é o palco central. Nele há lugar para os amores e traições, para as leituras escondidas, para as brincadeiras e conversas com o narrador pai.
É uma história doce, preenchida de afectos e tristezas, que li em três actos. No primeiro devorei 100 páginas e deparei-me com um pai morto e os seus sentimentos de culpa.
No segundo, encontrei 162 páginas de maratona. Um filho vivo, que deposita as suas esperanças e os seus pensamentos inacabados em 30 quilómetros de maratona e que vai ter com um pai morto.
E no terceiro, entra novamente o pai para confirmar a morte do seu filho.
Um livro recheado de páginas ternurentas, que foram "como partituras sob os [m]eus olhos".

sexta-feira, 13 de julho de 2007

(Des)concerto

ilustração: Anoni Moss

O caos dos pensamentos, das palavras, das ideias, daquilo em que ainda acreditavam entranhou-se nos seus sentidos. O silêncio chegou.
Estavam demasiadamente perdidos e confusos.
Partiram. Deambularam horas e horas por entre sombras.
Não podiam continuar a mentir para si próprios! Só que nada neles fazia sentido! A desarrumação era completa. Não sabiam como agir.
Não queriam pensar. Não queriam falar.
O silêncio chegou.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Pedaços de mim

Pedaços de mim
Livros... Azul... Mar... Nuvens... Silêncios... Escrever... Chocolate... Estações de comboios... Confidências... Lua...

Acasos... Horas... Postais... Violinos... Sorrisos... Nadar... Gelado de limão... Conchas... Mãos... Joaninhas...

Tambores...
Verdades...
Fotografia...
Sons...
Água...
Palavras cruzadas...
Sombras...
Melão...
Lírios...

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Eram anjos. Tinham asas.

Eram anjos. Tinham asas. ilustração: dr. makete

Eram anjos. Os seus rostos serenos espelhavam brancura. Voavam. Deambulavam por entre ausências. As suas mãos a dor puxavam. A dor arrancavam. A dor levavam ao esquecimento. Eram anjos. Os seus pés caminhavam em algodão branco. Voavam. Deambulavam por entre almas perdidas. Os seus olhos tudo viram. Eram anjos. Os seus corpos carregavam a eternidade. Voavam. Deambulavam entre a cinza da terra e o azul do céu. As suas vozes falavam baixinho. Em uníssono deixavam mensagens de luz. Eram anjos. Voavam. Tinham asas. Eram anjos. Voavam. Eram anjos. Tinham asas. Eram anjos. Voavam. Tinham asas.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Mal-me-queres ou Bem-me-queres?

Mal-me-queres ou Bem-me-queres? Mal-me-quer
Bem-me-quer

Mal-me-quer

Bem-me-quer

Mal-me-quer

Bem-me-quer

Mal-me-quer

Bem-me-quer

Mal-me-quer

Bem-me-quer

Mal-me-quer

Bem-me-quer

Mal-me-quer

domingo, 24 de junho de 2007

Sombras do tempo

clique para aumentar
Quem me leva os meus fantasmas

Aquele era o tempo
Em que as mãos se fechavam
E nas noites brilhantes as palavras voavam,
Eu via que o céu me nascia dos dedos
E a Ursa Maior eram ferros acesos.
Marinheiros perdidos em portos distantes,
Em bares escondidos,
Em sonhos gigantes.
E a cidade vazia,
Da cor do asfalto,
E alguém me pedia que cantasse mais alto.

Quem me leva os meus fantasmas,
Quem me salva desta espada,
Quem me diz onde é a estrada?

Aquele era o tempo
Em que as sombras se abriam,
Em que homens negavam
O que outros erguiam.
E eu bebia da vida em goles pequenos,
Tropeçava no riso, abraçava venenos.
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala
Nem a falha no muro.
E alguém me gritava
Com voz de profeta
Que o caminho se faz
Entre o alvo e a seta.

Quem leva os meus fantasmas,
Quem me salva desta espada,
Quem me diz onde é a estrada?

De que serve ter o mapa
Se o fim está traçado,
De que serve a terra à vista
Se o barco está parado,
De que serve ter a chave
Se a porta está aberta,
De que servem as palavras
Se a casa está deserta?

Quem me leva os meus fantasmas,
Quem me salva desta espada,
Quem me diz onde é a estrada?

Pedro Abrunhosa

quinta-feira, 21 de junho de 2007

A descoberta

"Antes da nossa chegada nada faltava no mundo;
Depois da nossa partida, nada lhe faltará."
Omar Khayyam

Pinturas populares (últimos 30 dias)