"Não há mar à minha beira. Nem escuto os gritos solitários das gaivotas que assaltam as ondas. Imagino-as. Tal como imagino o assalto solitário destas minhas palavras não abandonadas num papel qualquer, enrolado e fechado numa garrafa, que iria atirar ao mar. Não naufrago as minhas palavras porque não há mar à minha beira. Assim, não há mensagem na garrafa. Não há quem a atire e não há quem a receba, no sobressalto dourado de um final de tarde, à beira-mar.
Mas escrevo-te. Não é que tenha alguma coisa para te dar. Para além de mim mesma.
Não tenho nada para procurar porque nunca encontro nada do que eu quero. Outra vez, para além de mim mesma.
Sou o corpo materializado das palavras que navegam dentro de mim e se lançam em pontes virtuais, até ti, aquele que me lê. Aquele que, assim, me recebe. É nesta possível carta que te escrevo, que te acompanho, que me te dou. Não te peço nada. Apenas que me leves. Me tomes como a companhia indiscreta que, discretamente, se aproxima da tua consciência e que te diz que vale a pena sempre esperar. Como nunca sabemos aquilo que ainda não foi feito, o outro dia ser-nos-á, sempre, entregue como a eterna novidade das nossas vidas. Portanto, é válida a espera.
Assim como o que eu te escrevo."
_______________
Autora: Su
Blogue: Teia de Ariana http://teiadeariana.blogspot.com/
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
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8 comentários:
Esta carta ao coronel está engraçada.
Boa iniciativa esta.
Bjs
Eu nunca na vida quero receber uma carta igual a esta...
Ou é ou não é? Eu diria chamaria esta escrita do "pára e arranca"... ou "Pára e bebe"... ou "abranda e estaciona"...
"Escrevo-te... mas não tenho nada para ter dar..." Mal arrancou... estacionou!
"Não tenho nada para procurar... por nunca encontro nada do que eu quero" Estacionou e parou... conformou-se com a realidade...
"Não te peço nada, apenas que me leves" - Ah! Aqui estava estacionado e arrancou...
Ui... Apenas que me leves para onde? ah! Pois é...
Que taradice... esta carta devia ser censurada... Tanta hesitação... para subtilmente pedir sexo...
Enfim...
Logo vi que esta carta era do tipo letras do Quim Barreiro...
"Ponho o carro tiro o carro"...
ai ai marota... ou maroto...
Rogeriomad: Tu és sempre muito participativo, não és? Só lamento é que nunca concorras nos meus desafios, porque eu gostava de ver-te do outro lado também!! :)
Rogeriomad realmente tens uma perspectiva oposta da minha, mas também tu és sempre tão polémico!!Até tem uma certa graça vista por esse lado, mas não exageremos. :)
A carta tem um sentimento de nostalgia e de alguém que em parte se sente perdido, mas que mesmo assim sente uma necessidade de partilhar algumas palavras com o coronel. Gostei do seu aspecto poético e apenas falha por não ter um nome de remetente.
Encontramo-nos na votação.
Confesso que senti dificuldades em compreender a carta..mas até é uma ideia engraçada..talvez se sente identificada com o coronel..pelo facto de estarem os dois a espera de alguma coisa..talvez?'será uma carta por pena??"pronto ninguém escreve, coitado..vou escrever-lhe..e nisto desabafo também??"
mas concordo mais uma vez com a Marisa (olá!!ta tudo bem??)é uma boa carta e consegue passar sentimento..também nos sentimos perdidos..até nos identificamos com algumas palavras..
boa sorte pra sexta..
bijinhos vane
Olá Vane, mais uma vez. :)
Uma carta escrita por pena!!?? Então não se vê logo que foi escrita, porque dava direito a prémio!! Ehehe
Esta carta, na minha opinião, é a mais poética (e já o tinha dito ontem) e daí o/a remetente partilha confidências com o seu coronel. Anda sem dúvida perdido/a, mas escrever ao coronel conforta-lhe. :)
A música popular do Quim também tem o seu lado poético...
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