segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Noite de Natal Azul

Noite de Natal Azul Ilustração: phermad

Dezembro. Estava uma noite de gelo. Na aldeia fazia muito frio naquela altura do ano. Dentro de casa reinava uma agitação fora do normal. A mãe preparava o bacalhau e as couves para a ceia. Na mesa já se encontravam os mexidos, a aletria, as rabanadas, as sopas secas e os sonhos. O pai nada chegado às lides da cozinha, encontrava-se sentado, com o seu ar abstraído, num pequeno banco de madeira. O mano velho desafiava o puto a brincar às escondidas na fábrica de algodão, que ficava colada à casa da avó e "suja" (era assim que a avó lhe chamava) tentava também fazer parte das brincadeiras.
O tio Tónio entra pela casa com o bolo rei na mão. Logo atrás chegam mais tios e tias, primos e primas. A avó coloca mais um canhoto no forno a lenha.
A mesa enche-se de conversas e gargalhadas. Ao longe ouve-se o sino da igreja. Era quase meia-noite. "Suja" olha para a janela e sorri. O seu Pai Natal azul acabava de chegar. Sim o Pai Natal de "suja" entrava pela porta da cozinha e chegava vestido de azul. E quando ele entrava com o seu saco azul cheio de prendas, "suja" batia palmas de tanto entusiasmo. E nessa noite adormecia junto à árvore de natal, de largo sorriso no rosto.
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Um Natal em tons de azul para todos!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Encruzilhada(s)

A Su lançou a sua Teia de Ariana e atingiu-me com mais um miminho.
O desafio chama-se Encruzilhada e tem como finalidade "compôr um post em prosa/conto ou poesia com os títulos dos últimos 10 posts, usando outras palavras, pelo meio, para dar sentido ao todo."

De… zem… broooooo!
Brrrr… brrrr… um mês gelado nos algarves ou nem tanto!
Provavelmente, o Dia Mundial do Voluntariado também deve ter sido celebrado em Gevelsberg. Não sei… Nesta cidade nunca estive.
Neste momento, questiono-me se estas palavras serão apropriadas para concorrer ao Prémio de Poesia Daniel Faria!? Obviamente que não!
E ainda neste mês espero escrever uma estória que espelhe um pouco os Contos de Natal, mas enquanto não a escrevo vou recordando os dias, em que de leiteira na mão, ia até ao Maitolaituvi. Confesso que deixava as horas passarem e a minha mãe é que não gostava nada!
Para mim, Townsville – North Queensland é um lugar de desilusões... Já da Georgia nada sei, pois nada conheci e nada vi.
Mas nem tudo começa assim, com uma Kesäaamu (summer morning)... Por vezes começa mesmo com uma manhã quase de Inverno!

As regras dizem também que tenho de seleccionar 10 eleitos. E como regras são regras aqui deixo o nome das minhas vítimas:

Canochinha: http://espacorosa.blogspot.com/
Daniela: http://declaro-mesonhadora.blogspot.com/
Fábula: http://fabulosamentelouca.blogspot.com/
Fernando Pessoa: http://oblogdos5pes.blogspot.com/
João: http://www.eremitta.blogspot.com/
Miss Alcor: http://quemdissequeerafacil.blogspot.com/
Nuvem: http://a-minha-nuvem.blogspot.com/
O autor: http://www.surrapa.blogspot.com/
Rogeriomad: http://www.georden.blogspot.com/
Ruinzolas: http://post-hits.blogspot.com/

Divirtam-se ou não! :) Beijos e abraços.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Nem tudo começa assim

Nem tudo começa assim
Dois anos voaram. 730 dias extinguiram-se. Dia após dia, semana após semana e mês após mês foram nascendo e morrendo, morrendo e nascendo. Deslizando até um passado que já não é um presente, nem ainda um futuro.
16 de Dezembro de 2005. Nem tudo começa assim. De um nada, de um vazio.
Um vazio, que na sua escuridão, procura pintar os seus tons de azul.
Os tons de azul das suas manhãs e do seu mar, das suas palavras e do seu olhar.
Os tons das muitas e muitas outras cores, que sempre tingiu de tons de azul.

domingo, 9 de dezembro de 2007

"Contos de Natal" de Charles Dickens

Contos de Natal de Charles DickensEste foi um dos livros que fez parte da minha infância. Não me pertence. É da minha mãe. Lembro-me de não ter nenhum livro, na minha prateleira, para ler e de, às escondidas, ir retirando da prateleira da sala os livros dela. No meio de tantos livros encontrei este que me chamou logo ao primeiro olhar. Toquei-lhe. Era diferente de todos os outros. Forrado em tecido, com linhas e letras em dourado e uma simples fotografia. Agora as suas letras já meio apagadas dão-lhe o uso dos anos, mas para mim este livro terá sempre o mesmo encanto.
São seis os contos, que foram seleccionados. O primeiro conto, "A Canção do Natal", é aquele que todos vocês conhecem de certeza. Lembram-se do Scrooge e dos seus três fantasmas?
Os outros contos são "O Vendedor Ambulante"; "O Guarda-Chuva do Sr. Thompson"; "Os Sete Caminhantes Pobres"; "Uma Dama Caridosa" e "Os Carrilhões".
Todos os contos estão impregnados de influências da tradição cristã e pagã, mas
Dickens transmite neles uma tamanha ternura e magia. Encontro nas suas palavras um Natal que já não existe em mim.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Dia Mundial do Voluntariado

Dia Mundial do VoluntariadoFoto: Y & R Redcell, in CGD - azul, nº 25


Em entrevista com...
Ângela Vieira, 26 anos, voluntária na Cruz Vermelha de Faro

tonsdeazul: O que te levou a ser voluntária?
Ângela:
- Há imenso tempo que pensava em ser voluntária, mas como toda a gente, o tempo não dava para isso! Trabalho, Universidade, Universidade, casa, casa, trabalho... Parecia impossível conseguir conciliar mais um horário! Foi então que, infelizmente o meu namorado teve um acidente. E se bem te lembras dessa fase, eu, por milagre consegui, para além do trabalho, da Universidade (aulas e trabalhos de grupo) e da casa, arranjar tempo para passar quase os turnos completos da visita com ele, no hospital. Desde que ele saiu, foi como uma promessa... Se consegui conciliar tudo aquilo, também conseguirei daqui em diante!
Inscrevi-me no Hospital de Faro como voluntária, porque me comoveu profundamente ver pessoas idosas, crianças e adultos debilitados à espera de uma pequena ajuda. Como nas refeições, num simples movimento para se virarem da cama, de um ouvido ou de um ombro amigo que simplesmente estivesse ali... E as auxiliares e enfermeiras sem mãos a medir. Mas, por incrível que pareça, com tanta ajuda para dar, o hospital dificulta a vida aos voluntários. Marcam-nos entrevistas não quando pudemos ir, mas sim quando eles querem; marcam a formação para dias de semana em horário laboral e esquecem-se que quem quer ser voluntário trabalha, pois não sobrevive do voluntariado!
Resumindo, o que me levou a ser voluntária foi o convívio com estas fragilidades, no tempo em que "vivi" naquele hospital. E como se costuma dizer: Há males que vêem por bem!

tonsdeazul: Voluntária na Cruz Vermelha, porquê?
Ângela Vieira:
Estava eu em trabalho, numa feira no IPJ em Faro, quando num stand quase ao lado do meu estava a Cruz Vermelha Portuguesa e um cartaz a dizer “Inscreve-te já e sê um Voluntário na Cruz Vermelha” e pronto. Nem pensei duas vezes, inscrevi-me e passado uns tempos ligaram-me para ir ajudar a dar roupa e alimentação a uns desalojados em Faro. E assim começou... Fiz um Curso de Tripulante de Ambulâncias de Socorro (TAS) pós-laboral, continuei a ter formação pós-laboral uma vez por semana, e dou a minha disponibilidade de horário para fazer piquetes. Seja em feiras, na própria unidade, em ralys, concentrações, semanas académicas, concertos, condução de ambulâncias, etc. Como durante o dia estou no trabalho, dou normalmente o meu tempo livre durante a noite, ou seja, das 20h às 07h. Não te assustes, normalmente não existe trabalho a noite toda, porque trabalhamos em conjunto com o INEM e os Bombeiros.

tonsdeazul: Sentes que a formação que tens tido é suficiente para agires em situações mais graves e que requerem uma experiência que ainda não tens?
Ângela Vieira:
É claro que não posso dizer que é suficiente, porque cada caso é um caso e o que se aprende nos livros é um bocadinho diferente ao vivê-lo na vida real. A formação ajuda-nos muito, não só a teórica, para relembrar o que demos no curso, mas os casos práticos que “representamos” são uma ajuda preciosa. Tento fazer sempre os piquetes de urgência com colegas mais experientes, porque me sinto mais à vontade. Não sei como reagirei se for necessário fazer algo de que no momento não me sinta capaz. Daí eu carregar sempre na "tecla" do novato com o experiente! Mas já me sinto muito mais à vontade, e devo isso aos turnos que tenho feito, porque é como andar de bicicleta, aprendes e não esqueces e para fazeres sempre bem e dares o teu melhor, só com a prática.

tonsdeazul: Ser voluntário é compensador?
Ângela Vieira:
Olha por acaso, tive logo essa resposta no meu primeiro dia de voluntariado. Como já referi, fui distribuir vestuário e alimentação a uns sem-abrigo em Faro. E aí apanhas de tudo. Drogados, prostitutas, mendigos... E foi uma experiência maravilhosa! Eu que por vezes até tinha medo de lhes entregar a moeda quando me “ajudavam” a estacionar o carro e ali pude conversar com eles, rir, perceber porquê a escolha daquelas vidas. Sem palavras... Só vivendo o momento! Outro caso foi no do Hospital de Faro, como a Cruz Vermelha faz lá muitos trabalhos, quando estou à espera de algum doente posso conversar, ajudar a vestir, ajudar a comer e pensar que se fosse um familiar meu, era assim que gostaria que ele fosse tratado. Para quem gosta mais de dar do que receber é o melhor que se pode ser: voluntário de qualquer coisa. Não precisa de se inscrever em lado nenhum, basta ir a um sítio destes mais carenciados de mão de obra: Santa Casa, creches, lares e dizer: “Olhe, estou aqui, vim para ajudar!” Saímos de lá com uma maneira muito diferente de ver as coisas e com uma expressão na cara que nos faz parecer uns maluquinhos, pois não deixamos de sorrir. Parece que vivemos num paraíso de tanta alegria que transborda!

tonsdeazul: Que conselho darias a futuros voluntários?
Ângela Vieira:
Não é necessário ser-se voluntário numa instituição ou associação que nos aceite, podemos sê-lo em qualquer situação! Eu felizmente sou na Cruz Vermelha, sou Dadora Voluntária de Sangue, sou Dadora Voluntária de Medula Óssea e sou Voluntária para tudo o que veja que é necessário eu DAR sem receber nada em troca.
Aconselho-os:
Que não tenham medo de não saber fazer algo, pois aprende-se;
Que não tenham medo de perguntar, pois ninguém nasce ensinado;
Que não tenham medo de tocar, falar e ouvir as pessoas, pois não é assim que se apanham as piores doenças;
Que façam o bem um bocadinho que seja, para que este mundo egoísta e preconceituoso em que vivemos possa melhorar;
Que pensem que um dia podemos ser nós a precisar desta ajuda e a não haver ninguém para a dar!
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Nota: A entrevista foi colocada na íntegra, pois retirar palavras seria cortar a sua essência.
Obrigada amiga pelas tuas palavras e por sempre teres um tempinho para mim.

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