quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

«[Não basta abrir a janela]»

Castelo de Vide

«Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.»

«Não basta abrir a janela», in Alberto Caeiro, poemas escolhidos

domingo, 27 de dezembro de 2009

“As cidades e os olhos”

Clear Bubble. Fotografia de richard.heeks.

Grão Kan manda chamar Marco Polo e pede-lhe para descrever uma nova cidade…

Para conhecer Sana é imprescindível a arte do pulo. Só assim é possível entrar na cidade, pois perder o instante é ficar na linha de partida como o viajante que apenas vê passar comboios.
Sana é uma cidade bola de sabão, que tudo vê. Onde não se percorrem ruas, nem calçadas. Flutua-se.
Através de Sana, vislumbra-se ao longe as outras cidades invisíveis, mas não é permitido vê-la pela íris do viajante. A cidade deixa-se ver em outros olhos.
A lua aparece nas manhãs sob o céu azul e o sol brilha nas noites, por baixo do lençol de mar.
Em Sana o tempo é irrelevante. A passagem não se dá entre os vivos e os mortos.
As casas são de madeira e encontram-se penduradas por molas em fios de lã multicolor. O solo é coberto por um largo braço de mar, que esconde as ruínas da cidade e as cidades que no futuro serão Sana.
Puff! Assim rebenta a cidade e o viajante pode continuar o seu caminho. Logo o vento sopra por baixo do largo braço de mar, que se espalhou pela terra e uma nova cidade de Sana toma forma. Esta sobe bem alto para trilhar outras viagens, outras vidas.
________________
Baseado no livro As cidades invisíveis, de Italo Calvino.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Final da contagem

Os doze mais de 2009
O tonsdeazul festeja hoje quatro anos e nada melhor do que aproveitar o dia para fechar a contagem dos livros lidos em 2009.
Nunca me deu para contar os livros que leio, mas no início deste ano decidi aceitar o desafio da Canochinha e hoje dou por terminada a contagem.
E se não me enganei a contar... Foram 93 os livros lidos este ano!
Como não vou enumerar todos, deixo apenas registado os doze livros que extravasaram e surpreenderam-me de maneiras bem diferentes:
- 1984, de George Orwell
- A Arte de Amar, de Ovídio
- Anna Karénina, de Lev Tolstoi
- A Queda, de Albert Camus
- As Cidades Invisíveis, de Italo Calvino
- D. Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes
- História do Rei Transparente, de Rosa Montero
- Húmus, de Raul Brandão
- O Arquipélago da Insónia, de António Lobo Antunes
- O Evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago
- Os Passos em Volta, de Herberto Helder
- Rebecca, de Daphne du Maurier

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

"As vinhas da ira"

John Steinbeck já me tinha agradado no livro A Pérola e agora voltou a prender-me a atenção com As Vinhas da Ira.

As Vinhas da Ira, de John SteinbeckEm As Vinhas da Ira, Steinbeck conta-nos, em 543 páginas, a história da família Joad. Primeiro ficamos a conhecer o Tom Joad, que regressa a casa após ter estado preso. Depois Tom, na companhia do reverendo Jim Casy, leva-nos até à casa do tio John e aí ficamos a conhecer os restantes membros: os avôs, o velho Tom Joad e a mãe e os irmãos Noah, Al, Rosasharn, Ruthie e Winfield.
Tom encontra a sua família de partida para a Califórnia, pois foram expulsos das suas terras em Oklahoma e preparam-se para iniciar uma longa viagem à procura de terra para trabalhar e viver.
Na bagagem do camião levam o essencial. Para trás, cada um deles deixa uma vida cheia. Partem com a certeza que na Califórnia vão encontrar o que já não têm ali, em Oklahoma, mas os dias irão mostrar-lhes que a realidade é bem diferente dos sonhos.

«Somos apenas a raiva que sentimos quando nos expulsaram das nossas terras, quando o tractor derrubou as nossas casas. E assim seremos até à morte. Para a Califórnia ou para outra região qualquer – cada um de nós é um tambor a dirigir uma carga de amarguras, caminhando com a nossa desgraça.»

Steinbeck intercala a história dos Joads, com pequenos capítulos. Estes retratam a situação social da época na América. Com o êxodo rural, famílias inteiras vêem-se obrigadas a partir em busca de trabalho. E uma vez chegadas a outras regiões, vivem em acampamentos e deparam-se com a escassez ou a ausência do trabalho que tanto procuram.

«E nos acampamentos, a novidade corria em sussurro; em Shafter há trabalho. Então, de noite carregavam os carros e as estradas enchiam-se: era uma corrida para o trabalho, que se assemelhava à febre com que se corre para os terrenos auríferos. As pessoas chegavam aos magotes a Shafter; eram cinco vezes mais do que as necessárias. Era a corrida do ouro, mas para o trabalho. E, ao longo das estradas, estendia-se a tentação, as terras que garantiam a comida.»

A viagem dos Joads também não será fácil e a mãe irá tentar manter sempre a família unida, mas por força das circunstâncias não irá conseguir...
Treze pessoas partem num camião em busca de uma terra para trabalhar e para viver, mas ao longo do percurso alguns dos Joads vão ficando pelo caminho, ora porque não aguentam os desgostos, ora porque o destino assim o quis, e no fim, juntos, ficam apenas cinco.
Uma história de luta e de sonhos desfeitos.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

«Músicas do Mundo: América do Norte»

Concertos Promenade: Músicas do Mundo O Teatro das Figuras, em Faro realiza, no próximo Domingo, dia 15 de Novembro, às 12h00, mais um concerto do Ciclo de Concertos Promenade.

Músicas do Mundo
é o tema. Após a América do Sul, chega-nos a América do Norte, para podermos continuar a nossa viagem pelos cinco continentes.

«O continente americano sofreu a influência de muitos povos e das suas culturas, devido à colonização e à emigração. A música não foi excepção, e daí nasceram estilos como o jazz ou o blues. Neste concerto, entende-se como estes géneros se cruzaram com a música erudita e como a produção cinematográfica norte-americana enriqueceu o reportório clássico com as suas bandas sonoras, sempre com muita interacção com o público e várias surpresas à mistura.»

Depois de ter assistido, com grande expectativa, ao concerto da América do Sul, e ter simplesmente adorado toda a envolvência com que souberam prender e cativar o público, não podia deixar de destacar este ciclo aqui, no tons de azul. São concertos dirigidos para toda a família, com uma componente não só lúdica, como essencialmente educativa, pois as crianças são convidadas a levar os seus instrumentos de casa ou a criá-los no Hall do Teatro, para poderem participar com a orquestra, sempre que incentivadas pelo maestro.

O Ciclo de Concertos Promenade é, sem dúvida, uma iniciativa muito bem conseguida pela Orquestra do Algarve e pelo Teatro das Figuras.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

«O Deus da Matança»

O Auditório Municipal de Olhão recebe, nos dias 13 e 14 de Novembro, às 21h30, a peça O Deus da Matança, de Yasmina Reza, com encenação de João Lourenço.
Em palco estarão os actores Joana Seixas, Paulo Pires, Sofia de Portugal e Sérgio Praia.


«A peça começa depois de dois rapazes, à saída da escola, terem andado à pancada. Um deles partiu dois dentes ao outro. Os pais encontram-se para falar sobre o incidente, mas, quando o começam a discutir a fundo, a situação torna-se cada vez mais tensa. Pequenas insinuações passam a ofensas verbais e físicas. E é assim que uma tarde entre pessoas civilizadas acaba de maneira inesperadamente pouco civilizada. »



Os bilhetes encontram-se à venda no Auditório Municipal de Olhão:
8€ (plateia) e 6€ (balcão).
Reservas: 289 710 170 (2.ª a 6.ª feira e dias de espectáculo, das 14h às 18h).

«Um espectáculo divertido e actual, onde dois casais de classe média alta mostram que, quando estala o verniz, são gente como toda a gente.»

domingo, 1 de novembro de 2009

A cor da morte

Coimbra: Ruínas de Conimbriga
“A morte docemente azulada como o não-ser. Porque o não-ser é um vazio infinito e porque o espaço vazio é azul, e não há nada de mais belo e apaziguador do que o azul. Não é de forma alguma por acaso que Novalis, poeta da morte, amava o azul e só o azul buscou nas suas viagens. A doçura da morte tem uma cor azul.”
«Os Anjos», in O livro do riso e do esquecimento, de Milan Kundera

terça-feira, 27 de outubro de 2009

«10.ª Festa do Cinema Francês», em Faro

10.ª Festa do Cinema FrancêsAmanhã, dia 28 de Outubro, chega à cidade de Faro, a 10.ª Festa do Cinema Francês. Depois de ter estado em Lisboa, Almada, Porto e Guimarães é chegada a vez de Faro receber no Teatro das Figuras, de 28 de Outubro a 1 de Novembro, esta festa do cinema francês.
Haverá sessões diárias às 19h30 e 21h45. A entrada é gratuita, mas é necessário levantar o bilhete no local das sessões. O programa poderá ser consultado em http://www.festadocinemafrances.com/.

Dos filmes em cartaz, optei apenas por dois: Pour un instant la liberté, de Arash T. Riahi e Le Premier jour du reste de ta vie, de Rémi Bezançon.
O primeiro narra a vida de dois jovens iranianos, Ali e Merdad, que fogem do Irão e vão à procura de uma vida melhor na Áustria e esperam também conseguir entregar os seus dois primos aos pais que se encontram aí como refugiados.
O segundo filme fala-nos de dias decisivos que marcam e podem mudar a nossa vida. Este conta a história de um casal que tem três filhos e mostra apenas «o primeiro dia do resto da vida de cada um dos membros da família.» E é olhando para estes cinco dias especiais que ficamos a conhecer esta família.

Estes dois filmes (e outros tantos) também irão passar no T.A.G.V. em Coimbra, de 4 a 10 de Novembro, pois esta será a última cidade a receber esta 10.ª festa.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

"Sem Destino"

Se tivesse mais tempo gostaria de dedicá-lo aqui, no tonsdeazul. O certo é que o tempo não estica e o pouco que tenho livre é passado, na maior parte das vezes, entre páginas de livros. Claro que depois gostaria de partilhar neste espaço, todos os livros lidos, mas isso também não me é possível. Assim sendo, o mês de Outubro é dedicado ao Nobel de 2002, Imre Kertész.

Sem Destino, de Imre KertészDescobri a escrita deste autor através do seu livro Sem Destino. O Holocausto é um tema que me prende na leitura. Perco a conta aos livros que tenho que retratam esta parte da História.

Em Sem Destino, Kertész podia-nos contar uma história igual a tantas outras, pois ele próprio também esteve nos campos de concentração de Auschwitz e de Buchenwald. O certo é que optou por não contar e é aí que se encontra a diferença desta história. Uma história que nos mostra o outro lado dos campos de concentração. O lado sombrio que nós tantas vezes ouvimos contar não deixa de estar lá, mas o outro sobressai e não nos deixa indiferentes.

Sem Destino conta-nos a história de Köves György, um jovem de quinze anos, que é separado da família e levado para os campos de extermínio de Auschwitz, Buchenwald e Zeitz. Permanece cativo durante um ano e meio e mais parece que esteve por lá uma vida inteira! Quando tudo acaba, o seu corpo mostra-lhe que já não é o de um rapaz de quinze anos e o seu interior o que lhe revela?!
Köves György não considera a sua condição traumática, mas vê-a antes como uma experiência igual a tantas outras. E é através desta perspectiva que ele nos narra o lado bom, e até feliz, da sua vida passada nos campos.

«Pois também lá, entre chaminés, nos intervalos do sofrimento, algo se assemelhava à felicidade. Toda a gente me pergunta só pelas vicissitudes, pelos «horrores»: todavia, no que me diz respeito, é talvez essa a experiência mais memorável. Sim, é disso, da felicidade dos campos de concentração, que eu lhes falarei na próxima vez, quando me perguntarem.
Se é que vão perguntar. E se eu próprio não me tiver esquecido.»

A história é narrada de uma forma suave e até chega a ser doce, e talvez por isso é que se torna tão perturbadora e chocante.
Não conto mais, porque estragaria a essência da descoberta. São 183 páginas que se escapam dos dedos num ápice e que valem bem pena percorrê-las.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

«E preciso da minha lucidez»

Coimbra: Quinta das lágrimas
«Sim, tudo é simples. São os homens que complicam as coisas. Que não nos contem histórias. Que não nos digam do condenado à morte: «Vai pagar a sua dívida à sociedade», mas: «Vai-se-lhe cortar a cabeça.» Isto parece não ser nada. Mas faz uma pequena diferença. E de resto há pessoas que preferem olhar o seu destino nos olhos.»
«Entre o sim e o não», in O Avesso e o Direito, de Albert Camus

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

[ horas de melancolia ]

Jardins de Versalhes
«No Outono caem as folhas das árvores, o céu é cinzento e toda a natureza vai adormecer, como dizem os poetas… […] As tardes eram de luz suave e triste, caía uma chuva leve sobre a fofa poeira da rua, chuva que fazia um sussurro abafado nas folhas amarelas, e tudo se repassava duma tristeza irremediável.»
«O Involuntário», in O Barão, de Branquinho da Fonseca

terça-feira, 29 de setembro de 2009

«Uma após uma as ondas apressadas»

Porto CovoPorto Covo. Fotografia de phermad.

«Uma após uma as ondas apressadas
Enrolam o seu verde movimento
E chiam a alva ‘spuma
No moreno das praias.
Umas após uma as nuvens vagarosas
Rasgam o seu redondo movimento
E o sol aquece o ‘spaço
Do ar entre as nuvens ‘scassas.
Indiferente a mim e eu a ela,
A natureza deste dia calmo
Furta pouco ao meu senso
De esvair o tempo.
Só uma vaga pena inconsequente
Pára um momento à porta da minha alma
E após fitar-me um pouco
Passa, a sorrir de nada.»
«Uma após uma as ondas apressadas», in Ricardo Reis, poemas escolhidos

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O bigode sob suspeita

Uma Aventura Inquietante, de José Rodrigues MiguéisA novela Uma Aventura Inquietante, de José Rodrigues Miguéis, com «traços de sátira e filosofia» remete-nos para um crime passado na Bélgica. Logo pelo título podemos considerar que o autor quer preparar-nos para uma aventura surpreendente e de perder a respiração.
A novela está dividida em três partes, contendo ainda uma introdução e uma conclusão com notas do autor. É na introdução, que o autor nos conta que foi «numa tarde […] de fim do Verão» que encontrou «o Personagem» e confessa-nos que a sua fantasia só intervém na história, para compor «os factos e a paisagem».
Toda a história é descrita como sendo um diário. O autor narra os acontecimentos do antes, durante e pós aventura. Descreve-os ao pormenor de tal forma, que nos dá a sensação de estarmos a viver essa aventura na hora e no local exacto.

«O relógio redondo da sala de piquete, […] marca as três e vinte», madrugada, do dia 20 de Fevereiro. Assim, tem início a aventura e já não dá para parar de ler.

Um cadáver é encontrado fora de horas no lago de Woluwee, situado na Avenida de Tervueren, em Bruxelas.
«- Alô! Sim… O lago não está gelado? É pena. Não podiam ter descoberto isso mais cedo? Ou esperar até de manhã? Lindas horas para andar à pesca!»
Contrariado, o comissário Petitjean e os seus agentes dirigem-se para o local da ocorrência. Após a autópsia vem-se a confirmar que houve crime e dá-se início à investigação. A vítima é identificada e com a ida de três testemunhas ao Comissariado começamos a aproximar-nos do suspeito. É então que surge o personagem principal, Zacarias de Almeida. O português que estrangulou brutalmente Madame Ida Piorkowska, no lago de Woluwee. E no dia 25 de Fevereiro, por volta das dez da noite, Zacarias de Almeida é preso no seu apartamento.

Para nos ajudar a conhecer Zacarias de Almeida, o narrador leva-nos a viajar no seu passado, incluindo para os acontecimentos passados no dia em que se deu o crime. É através deste recuar no tempo que nos antecipamos às investigações de Petitjean e começamos a simpatizar com o nosso herói, pois descobrimos que no dia 19, enquanto Zacarias de Almeida estava no Majestic, «a rir com o Bucha & Estica», Piorkowska estava a ser «estrangulada em Woluwee».
Entretanto Zacarias de Almeida é levado ao Serviço Psiquiátrico e com muita paciência e imaginação aceita todas as atrocidades que lhe estão a acontecer. Até que se cansa e de acusado passa à ofensiva, revelando as suas suposições ao advogado Vanvliet e a Rigaux, o ajudante do comissário Petitjean. E é com esta reviravolta que no dia 19 de Março dá-se o concluir da investigação e no dia 21, Zacarias de Almeida regressa a casa.

Uma história policial que acaba em romance de amor. E uma aventura deveras inquietante, que terão de ler caso pretendam descobrir o assassino.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

"Receita para fazer o azul"

Fuzeta, Olhão. Fotografia de phermad.

"Se quiseres fazer azul,
pega num pedaço de céu e mete-o numa panela grande,
que possas levar ao lume do horizonte;
depois mexe o azul com um resto de vermelho
da madrugada, até que ele se desfaça;
despeja tudo num bacio bem limpo,
para que nada reste das impurezas da tarde.
Por fim, peneira um resto de ouro da areia
do meio-dia, até que a cor pegue ao fundo de metal.
Se quiseres, para que as cores se não desprendam
com o tempo, deita no líquido um caroço de pêssego queimado.
Vê-lo-ás desfazer-se, sem deixar sinais de que alguma vez
ali o puseste; e nem o negro da cinza deixará um resto de ocre
na superfície dourada. Podes, então, levantar a cor
até à altura dos olhos, e compará-la com o azul autêntico.
Ambas a s cores te parecerão semelhantes, sem que
possas distinguir entre uma e outra.
Assim o fiz – eu, Abraão ben Judá Ibn Haim,
iluminador de Loulé – e deixei a receita a quem quiser,
algum dia, imitar o céu."

Nuno Júdice
__________________________
Obrigada Oautor por estas palavras tão azuis.

domingo, 20 de setembro de 2009

"manifesto místico da alegria"

«Rir? Pensamos alguma vez em rir? Quero dizer rir verdadeiramente, além da brincadeira, da troça, do ridículo. Rir, gozo imenso e delicioso, gozo completo…
Dizia à minha irmã, ou dizia-me ela a mim, anda, vamos brincar a rir? Deitávamo-nos lado a lado sobre uma cama e começávamos. A fingir, claro. Risos forçados. Risos ridículos. Risos tão ridículos que nos faziam rir. Então chegava o verdadeiro riso, o riso inteiro, que nos transportava no seu imenso rebentar. Risos sem gargalhadas, redobrados, desordenados, desenfreados, risos magníficos, sumptuosos e loucos… E ríamos até ao infinito do riso dos nossos risos… Oh rir! Rir de prazer, o prazer de rir; rir, é tão profundamente viver.»

Parole de femme, de Annie Leclerc in «Os Anjos» in O livro do riso e do esquecimento, de Milan Kundera

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

[...]

Lisboa: Vista do Miradouro da Graça
«Ó céu azul – o mesmo da minha infância -,
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que nunca tardo…
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!»
«Lisbon Revisited (1923)», in Álvaro de Campos, poemas escolhidos

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

... recordar...

Lisboa: Padrão dos Descobrimentos
«Aquele que quer recordar-se não pode ficar no mesmo sítio e esperar que as recordações se aproximem sozinhas! As recordações dispersaram-se pelo vasto mundo e é preciso viajar para as encontrar e retirar do abrigo!»
«Os Anjos», in O Livro do Riso e do Esquecimento, de Milan Kundera

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

“Um estranho na sociedade”

Agosto já está mesmo na recta final, mas não quero deixar passá-lo sem antes vos falar de mais um livro. Desta vez escolhi uma obra de Albert Camus. Fiquei indecisa na escolha, pois quanto mais conheço a obra deste autor, mais me apaixono por ela.
O Estrangeiro, de Albert CamusO Estrangeiro, «que revelou e consagrou definitivamente Camus como um verdadeiro “clássico” da literatura contemporânea», foi o eleito!

O romance O Estrangeiro está dividido em duas partes e conta a história de um homem cuja a mãe morreu. É o personagem enlutado, Sr. Meursault, que nos conta a sua história.

«Hoje, a mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo: «Sua mãe falecida. Enterro amanhã. Sentidos pêsames.» Isto não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem.»

Meursault pede dois dias ao patrão, que torce o nariz, e desloca-se ao asilo para tratar do enterro da mãe. Enterra-a, não chora e apanha o autocarro de regresso a casa.
No dia seguinte, compreende o porquê do patrão ter mostrado um ar aborrecido… Era sábado! Como tem o dia livre decide ir à praia. Uma vez lá, encontra Maria Cardona, uma mulher que ele «desejara em tempos» e juntos, entre risos e gargalhadas, desfrutam de um dia de praia. Mais tarde convida-lhe para irem ao cinema ver uma comédia de Fernandel e após a sessão terminam a noite na casa dele.
No domingo nada se passa e segunda-feira vai trabalhar. De regresso a casa encontra-se com o seu vizinho Raimundo Sintès. No bairro não gostam muito dele, mas Meursault não tem motivos para não lhe falar.
Os dias vão passando normalmente até que Meursault vai com Maria passar um fim-de-semana à casa de praia de um amigo de Raimundo e acontece uma tragédia…

Já na segunda parte da história, encontramos o personagem na prisão. Começam a investigação e os interrogatórios ao caso; o julgamento e os depoimentos das testemunhas e Meursault vê o seu destino em jogo.
Toda esta parte da história é desconcertante e absurda, pois Meursault encontra-se sentado no banco dos réus, porque tinha matado um homem, mas não ia a ser condenado pela morte desse homem, mas sim por lhe ter morrido a mãe. Porquê?!

Para mim, esta frase define tudo: «Nas nossas sociedades, qualquer homem que não chorar no enterro da sua mãe arrisca-se a ser condenado à morte.»

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Girafas!

Lisboa: Jardim Zoológico
Há animais que encantam pelas mais diversas razões. Assim, há quem goste de cães ou de gatos, de golfinhos ou de focas, de avestruzes ou de camelos, de macacos ou de elefantes, de aranhas ou de formigas, de mochos ou de águias, de crocodilos ou sei lá mais o quê!
Eu adoro girafas, abelhas e gaivotas!
Abelhas, porque em miúda os meus caracóis (que já não existem) foram motivo para a famelga me chamar de Abelha Maia. Daí sempre tive uma enorme afinidade com estes insectos que polinizam dez flores por minuto.
Gaivotas, porque é em terras algarvias que as vejo a chegar e a partir, como as ondas do mar.
E as Girafas!? Pois as girafas... Finalmente as vi e ao vivo ainda são mais engraçadas!! O porte esbelto, a textura da pele, as pernas esguias e o longo pescoço, que tal como nós é composto por sete vértebras, sempre foram motivo para lhes achar imensa piada! Mas não me poderia esquecer da sua inigualável língua azul, que seria motivo mais do que suficiente para me conquistarem!
E ali fiquei eu no Jardim Zoológico de Lisboa (que só agora tive oportunidade de conhecer e para 125 anos de existência estão em excelente forma!) a observá-las com olhar de parola (com toda a certeza), a tirar-lhes imensas fotografias para mais tarde recordar e já nem queria ver mais animais, porque elas, as girafas já me tinham alegrado a manhã e o dia longe delas já não fazia até muito sentido.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Amália

Lisboa: Panteão Nacional
Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.

Que perfeito coração
morreria no meu peito,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Perfeito o meu coração.
Perfeito o meu coração.


The Gift - Amália Hoje, Gaivota
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Fotografia: tirada à exposição Amália no mundo - O Mundo de Amália, que está patente no Panteão Nacional de Lisboa (Igreja de Santa Engrácia), até dia 15 de Setembro. Esta é composta por 150 peças e tem como objectivo mostrar a dimensão internacional de Amália. Aconselho vivamente a visita!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Gôndolas e gondoleiros

Gondoleiro de Veneza
Não fazia propriamente parte do itinerário, mas a simpatia de “Giácomo” foi o pretexto para aceitarmos o convite e embarcarmos na gôndola que nos levaria a desfrutar dos imensos canais de Veneza numa outra perspectiva.
Já de partida em direcção ao Grande Canal, Giácomo confidencia-nos que é gondoleiro, pois o seu pai e o seu avô também o são. E porque já os seus antepassados o eram. Pertence a uma das famílias antigas de Veneza e sente orgulho em ser gondoleiro.
O percurso escolhido avista-se bastante estreito e àquela hora o tráfego de gôndolas é constante, o que obriga a algumas manobras esforçadas. Um pé aqui nesta parede, outro acolá naquela e pronto podemos continuar.
Giácomo sorri e, enquanto se baixa para passar por mais uma ponte, vai assobiando melodias. Entre uma música e outra, Giácomo conta-nos histórias da sua Veneza, que nós agora, aqui escrevemos.
Há uns séculos atrás, as gôndolas apenas transportavam a realeza e as famílias nobres de Veneza. Estas eram pintadas de verde, azul e amarelo. De vermelho, de roxo e laranja. De castanho ou de rosa, se assim fosse a vontade do gondoleiro. Havia gôndolas de todas as cores!
Mas um dia a cidade foi invadida pela peste e esta levou com ela milhares de venezianos. Após aquele ano fatídico, os gondoleiros assinalaram o seu luto pintando as suas gôndolas de negro.

Gôndolas de Veneza
Paradas no Grande Canal, as gôndolas espreitam os turistas e aguardam mais uma viagem.

terça-feira, 21 de julho de 2009

"Fahrenheit 451 -

- a temperatura a que um livro se inflama e consome..."

«- Não é apenas a morte dessa mulher - continuou Montag. - A noite passada, pensei em toda a gasolina que tenho espalhado, há dez anos para cá. E pensei nos livros. E, pela prmeira vez, notei que, atrás de cada um desses livros, estava um homem. Um homem que os tinha concebido. Um homem que tinha passado o seu tempo a escrevê-los. E, até agora, nunca essa ideia me tinha aparecido. - Saiu da cama. - Algumas vezes, é necessária toda uma vida a um homem para pôr as suas ideias por escrito, olhar o mundo e a vida à sua volta; e eu chego e bum! Em dois minutos tudo se acaba.»
«A fornalha e a salamandra», in Fahrenheit 451, de Ray Bradbury

terça-feira, 7 de julho de 2009

"Ele foi Mattia Pascal"

«Uma das poucas coisas, aliás, talvez a única que eu tinha a certeza de saber, era esta: chamava-me Mattia Pascal. E aproveitava-me disso. De todas as vezes que algum dos meus amigos ou conhecidos demonstrava ter perdido o juízo até ao ponto vir visitar-me para obter algum conselho ou sugestão, eu encolhia os ombros, semicerrava os olhos e respondia-lhe:
- Eu chamo-me Mattia Pascal.»


Ele foi Mattia Pascal, de Luigi PirandelloAssim começa a história Ele foi Mattia Pascal, de Luigi Pirandello.
Nada sabia sobre a história. Nem nada sabia sobre o autor. E foi assim sem expectativas que iniciei a leitura deste extraordinário romance de Pirandello.

Mattia Pascal era um bibliotecário que levava uma vida igual à de todos os dias. Era casado, mas o seu casamento já não fazia sentido algum. Tinha de partilhar a casa com a sua sogra que lhe infernizava todo o santo dia. E como se isso não fosse já mais do que suficiente ainda era perseguido pelos credores.
Um dia cansado de tudo e de todos, decide viajar até Monte Carlo. Com ele leva apenas alguns trocos no bolso, que aproveita para jogar na roleta do casino. Nada lhe dizia que iria sair de lá rico, mas saiu.
Alguns dias depois apanha o comboio de regresso a casa, mas algo insólito acontece. Mattia Pascal lê num jornal a notícia da sua morte. E em questão de segundos, ele imagina-se livre e ainda por cima rico. O corpo erradamente identificado que continuasse a ser Mattia Pascal, porque ele agora teria uma nova vida e uma nova identidade. Seria Adriano Meis. Um homem pronto para viver finalmente a sua vida de sonho.

Mas estaria o homem que foi Mattia Pascal pronto para deixar de o ser?
Surgem então os problemas de Adriano Meis. Este não consegue ser Adriano Meis, porque, nos seus pensamentos, vive em conflito com o Mattia Pascal que foi. A liberdade que supunha que iria ter afinal prende-o e sufoca-o. Não é livre, nem tem identidade. É apenas uma sombra daquilo que foi e um dia a questão da morte assombra-lhe o pensamento. Pois se Mattia Pascal não morreu verdadeiramente, então ainda lhe faltava morrer! Como pôde Mattia Pascal acreditar que Adriano Meis teria a eternidade toda pela frente? Ah pois é! Seria altura de voltar a ser Mattia Pascal? De regressar à sua cidade natal e voltar para a sua vida monótona?

Leiam e desfrutem deste estonteante romance escrito em 1904, porque nada mais vos conto. Fiquei fascinada com a escrita de Pirandello. Simples, com humor e irónica. No final desta leitura, é impossível não ficarmos com os pensamentos aos saltos.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Memórias de uma procura

Memórias de uma procurailustração: phermad

Procura algo na imensidão da noite.
Algo que dê novo alento à sua vida
Monótona, triste e desinteressante.
Não encontra.
Presa nas suas memórias,
Percorre os flashes de outros tempos passados.
Onde, entre abraços e beijos,
O seu mundo era outro.
Mais feliz e sem sombras.
Sombras,
Que assolam agora o seu caminho.
O seu mundo parece fechar-se cada vez mais.
À medida que as horas vão correndo sem destino,
Dá consigo num quarto vazio.
Olha as suas paredes nuas
E nos seus reflexos encontra a imagem
De um ser perdido,
Sem lugar para onde ir,
Por não querer fugir.
Os pensamentos vão passando,
Sem vontade de parar.
Os minutos vão virando horas,
No enorme relógio de parede.
O dia que era hoje, já não é.
Assim como o mundo que outrora lhe fazia feliz,
Lhe aprisiona agora, entre paredes,
De solidão e tristeza.
Um quarto sem janelas,
Onde dia após dia, se encerra
Viajando pelas sombras das suas memórias.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Palíndromos

Pa-lín-dro-mo! Pa-lín-dro-mo! Pa-lín-dro-mo!

Uma palavra que de tanto a pronunciar começou a soar bem ao ouvido!

Um palíndromo, para quem não sabe, é uma palavra, frase ou qualquer outra sequência de unidades que tenha a propriedade de poder ser lida tanto da direita para a esquerda como da esquerda para a direita. Num palíndromo, normalmente não são considerados os sinais ortográficos, assim como o espaços entre palavras.

Como palavras, estou a lembrar-me de RIR, OVO, ANA, OCO.
O mesmo se aplica às frases, muito embora só conhecesse a primeira da lista que vos apresento. Quanto às restantes, tive conhecimento por uma amiga. Se entrentanto souberem de mais algumas, partilhem!

- "SOCORRAM-ME, SUBI NO ONIBUS EM MARROCOS";
- "ANOTARAM A DATA DA MARATONA";
- "A DIVA EM ARGEL ALEGRA-ME A VIDA";
- "A DROGA DA GORDA";
- "A TORRE DA DERROTA";
- "LUZA ROCELINA, A NAMORADA DO MANUEL, LEU NA MODA DA ROMANA: ANIL É COR AZUL";
- "RIR, O BREVE VERBO RIR";
- "SAIRAM O TIO E OITO MARIAS".

sábado, 20 de junho de 2009

Turquia era o destino

Vista panorâmica de Istambul
Ao meio-dia, Istambul esperava-nos com um sorriso. Bem-vindos! (Hos geldiniz!) Tínhamos acabado de pisar chão asiático e preparávamo-nos para fazer uma viagem de três horas até ao lado europeu. A música envolvia-nos e parecíamos saídos de uma cena de filme. Não havia regras na estrada. Faixas de rodagem existiam, mas é como não estivessem lá. Os sinais de sentido proibido em Istambul devem com certeza ter outro significado! As ultrapassagens tanto podiam ser pela esquerda, como pela direita. Era de quem chegava primeiro. Passadeiras, o que é isso!? O pensamento já ia longe e só pensávamos em chegar vivos ao destino.
Imaginem só que Istambul é uma cidade tão grande que até o povo local se perde, pois foi com alguma dificuldade que chegámos a Kumkapi, local onde se encontrava o nosso hotel.

As mesquitas começavam a chamar para a oração e a nossa euforia era tanta que mesmo estafados só queríamos era conhecer, conhecer e conhecer. A primeira paragem foi mesmo o Grande Bazar (Kapaliçarşi). Ruas e mais ruas de lojas sem fim à vista. Os comerciantes tinham sempre um sorriso no rosto e para eles éramos sempre espanhóis! Encontrámos um povo aberto, de uma simpatia natural e pronto para receber bem.
Nas ruas havia uma mistura de tudo. Os contrastes ressaltavam mais nas mulheres. Ora víamos mulheres quase despidas, ora só com os olhos à mostra. E com o calor que se fazia sentir até nos causava impressão! Connosco andava sempre uma garrafa de água para refrescar a garganta, porque a temperatura era de 35º à sombra.

No segundo dia, percorremos as ruas de Sultanahmet, onde se encontra o Hipódromo e o Obelisco Egípcio. Fomos conhecer a Mesquita Azul (Sultanahmet Camii), que é imponente e maravilhosa tanto no interior, como por fora.
Em frente esperava-nos a Mesquita Sofia (Ayasofya Müzesi), que actualmente é um museu. E confesso que não sei dizer qual delas a mais bonita.
Antes que o dia terminasse ainda tínhamos a cisterna (Yerebatan Sarnici) e o palácio de Topkapi (Topkapi Sarayi) para conhecer e já ao fim do dia, passámos a ponte Galata e fomos para o outro lado da Europa percorrer a principal rua das lojas, a Istiklal Caddesi até chegar à Torre Galata (Galata Kulesi).
Na hora de comer era de quem mais experimentava! Tudo sabia bem, até mesmo os pratos com pior aspecto visual. Deixo registado os que não esqueci: Izgara Köfte (bolas de carne grelhada), Pilav Üstü Tavuk Döner (peito de galinha com arroz), Kumpir (batata doce gigante com os ingredientes à escolha), Uludag limonata (sumo de limão), Dil (bolinhas de peixe grelhado) e claro baklava. Com gelado é divinal!

Os dias seguintes foram preenchidos com trabalho, uma visita ao Palácio Dolmabahçe (simplesmente maravilhoso) e um passeio de barco pelo Mar Marmara (Marmara Denizi).
Para conhecer Istambul o melhor mesmo é calcorrear as ruas a pé, mas para quem não é tão resistente pode sempre apanhar um táxi, ou andar de metro, tram (metro de superfície), funicular ou autocarro. O táxi e o tram são os melhores.
Na hora da partida com destino a Izmir, custou dizer adeus (Hoşça Kalin), mas tinha mesmo de ser.

Torre do relógio em Izmir
Em Izmir a temperatura chegava aos 40º à sombra! Oficialmente a cidade nunca chega aos 40º, pois essa temperatura faria com que as pessoas ficassem em casa e não fossem trabalhar. Sorte que estava vento e a brisa era bastante fresca.
A cidade situa-se à beira-mar e é muito idêntica à cidade de Quarteira, mas em dimensão muito maior. No entanto, temos de percorrer uma hora de carro para podermos usufruir de uma praia, no Mar Egeu (Ege Denizi). No percurso aproveitamos para conhecer duas zonas históricas Selçuk e Ephesos.
Também aqui a despedida não foi fácil, mas era hora de levantar voo de regresso a casa.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Em busca de...

A Vida Nova. Assim se chama o livro que escolhi de Orhan Pamuk, depois de ter lido uma crítica do Menphis ao livro Outras Cores, que me deixou curiosa em relação a este autor, prémio Nobel da literatura em 2006.

A Vida Nova, de Orhan PamukA Vida Nova conta a história de Osman, um jovem estudante que ao ler um livro toda a sua vida muda.


«Desde a primeira página, sofri com tanta força o poder do livro que senti o meu corpo apartado da cadeira e da mesa a que me sentava. No entanto, ao mesmo tempo que experimentava a sensação de que o meu corpo se afastava de mim, todo o meu ser continuava, mais do que nunca, sentado na cadeira, à mesa, e o livro manifestava todo o seu poder não só na minha alma, mas em tudo o que compunha a minha identidade.»


Osman tinha visto o livro pela primeira vez nas mãos de Janan, uma estudante da Escola de Arquitectura, por quem se apaixona. Esta questiona-lhe o que ele seria capaz de fazer para entrar no mundo desse livro e Osman responde-lhe que seria capaz de tudo, até de enfrentar a própria morte. Osman sentia-se completamente obcecado pelo livro, que parecia-lhe mostrar a sua própria vida.

«À medida que virava as páginas, penetrava na minha alma e apoderava-se dela um universo cuja existência ignorava até então, que nem sequer tinha alguma vez imaginado. Todas as coisas que eu tinha aprendido e em que acreditara até agora já não passavam de pormenores desprovidos de qualquer interesse, surgindo, dos recantos onde se tinham assolapado, coisas que eu desconhecia e que me faziam sinais.»

Um dia Janan desaparece e Osman decide então abandonar toda a sua vida e partir à procura do amor de Janan e em busca dos segredos do livro. À procura da Vida Nova. Por estradas da Turquia rústica, de autocarro em autocarro, Osman viaja ininterruptamente. Vê cidades aparecer e a desaparecer. Caminha numa realidade absurda e confusa, enquanto procura encontrar a sua identidade, o seu amor e escapar à morte. Até ao dia em que descobre o Acidente. O acidente que mostra aos que sobrevivem a vida nova que leu no livro. Osman continua então a sua busca interminável à procura dos acidentes, pois só assim poderia encontrar Janan. E é entre autocarros destruídos que Osman encontra Janan, mas não o amor dela, pois Janan procurava Mehmet, o seu amor. Ficam apenas companheiros de viagem...
Será que Osman encontra a Vida Nova? E estará ele preparado para a enfrentar?

«Um dia li um livro e toda a minha vida mudou.» Assim começa esta história que poderia ter mudado a minha vida. O certo é que não mudou, mas Pamuk num ritmo acelerado conseguiu exceder positivamente as minhas expectativas. Irei voltar a ler algo deste autor, com toda a certeza!

sábado, 6 de junho de 2009

"O Maior de Todos os Tesouros"

O maior de todos os tesouros, de Carlos Rocha
O Maior de Todos os Tesouros é o novo livro de Carlos Rocha, que foi apresentado no V Festival Internacional de BD de Beja.
Com 18 páginas bem desenhadas e humoradas, Rocha apresenta-nos uma pequena história de agradável leitura.

Agora que optaste por dedicar-te a tempo inteiro à BD, espero ler muitas mais e continuar a encontrar trabalhos teus em muitas outras exposições. Muito sucesso nesta tua nova aventura.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

V Festival Internacional de BD de Beja

V Festival Internacional de BD de Beja
Começa amanhã, dia 30 de Maio, mais um Festival Internacional de BD de Beja, que terá lugar na Bedeteca de Beja - Casa da Cultura.

A abertura do Festival contará com a presença dos autores:
Alex Gozblau, André Lemos, Andreia Rechena, Carlos Apolo Martins, Carlos Bruno, Carlos Rocha, Catarina Guerreiro, Cláudia Dias, Craig Thompson, Denis Deprez, Diogo Campos, Diogo Carvalho, Fernando Gonsales, Filipe Abranches, Gary Erskine, Hugo Teixeira, Inês Freitas, João Lam, João Maio Pinto, José Feitor, Lobato, Luís Belerique, Luís Guerreiro, Luís Henriques, Lorenzo Mattotti, Marco Mendes, Maria João Careto, Miguel Carneiro, Nelson Nunes, Paulo Monteiro, Pedro Brito, Pedro Burgos, Pedro Rocha Nogueira, Phermad, Ricardo Reis, Richard Câmara, Rosa Baptista, Rui Cardoso, Rui Ramos, Selma Pimentel, Susa Monteiro, Tânia Guita, Telma Guita, Véte e Zé Pedro (autores representados nas exposições).

Alguns destaques da programação:
Sábado, 30 de Maio
16h00 às 16h15

Lançamento do livro "O Maior de Todos os Tesouros", de Carlos Rocha, e lançamento do Venham + 5 n.º 6. Apresentação de Paulo Monteiro, com a presença dos autores.

Domingo, 31 de Maio

15h00 às 15h15
Salvar o Albatroz - Apresentação do Projecto Celacanto, por Marc Figueiredo.

15h45 às 16h00
O Menino Triste, por João Mascarenhas.

17h45 às 18h00
Apresentação do fanzine All-Girlz Galore, por Daniel Maia, com a presença das autoras.

Sala de ateliers
16h00 às 17h00

Workshop de Mangá, com as autoras do colectivo Luminus Box.

Sábado, 13 de Junho
15h00
Cerimónia de entrega dos VII Troféus Central Comics.

Mais informação em:
http://www.festivalbdbeja.net/

quinta-feira, 21 de maio de 2009

«Um Homem Obscuro»

Como a Água que Corre, de Marguerite YourcenarComo a Água que Corre reúne três novelas escritas pela autora Marguerite Yourcenar: «Anna, Soror…»; «Um Homem Obscuro» e «Uma Bela Manhã».
Debruço-me apenas na segunda novela, pois foi a que mais me cativou e preencheu.
Adianto que a primeira retrata o tema do incesto entre irmãos e a última fala-nos da vida de Lázaro (o filho do personagem principal da segunda novela).

Em «Um Homem Obscuro» deparamo-nos logo nas primeiras linhas com a morte do personagem principal, Natanael. Contudo, o percurso da história dá-nos vontade de continuar a conhecer a vida de Natanael, antes da sua morte.
Natanael é um rapaz de dezasseis anos que namora com Janet e ajuda um mestre-escola, até ao dia em que se vê obrigado a fugir por agredir um bêbado na rua. Ao embarcar num navio, perde quatro anos da sua vida numa Ilha Perdida, onde conhece Foy. O seu novo amor. Foy entretanto morre e Natanael decide que é tempo de partir...
Regressado a Amesterdão começa a trabalhar com o seu tio avarento na oficina, como revisor de livros. Uma certa noite conhece Sarai, uma judia, que era ladra e prostituta e com quem casa, quando ela engravida. Quando um dia vai visitar Sarai, após o nascimento do filho Lázaro, Natanael encontra-a com um cavaleiro. Sem nada dizer vai-se embora. Depois de muito caminhar acaba por cair na neve e nela ficar até ser encontrado. Dias mais tarde acorda num hospital, onde após recuperado é levado para uma casa de ricos, ficando a trabalhar por lá.

«Maravilhava-se Natanael de que estas gentes, de quem há um mês nada sabia, ocupassem agora tão grande lugar na sua vida, até ao dia em que dela sairiam, como acontecera com a sua família e com os vizinhos de Greenwich, com os colegas de bordo, com os habitantes de Ilha Perdida, com os empregados de Elias e as mulheres da Judenstraat. Porquê estes e não outros?»

Os dias vão passando... E numa certa manhã de Março, a doença de Natanael agrava-se. É então enviado para uma das ilhas da costa frísia, onde acaba por morrer.

O percurso de Natanael é um mar cheio de aventuras e emoções. Está sempre rodeado de pessoas, que assim como entram, também desaparecem da sua vida. No fim é deixado só. Só, com a morte. “[A] morte está em nós”, disse para consigo Natanael.

terça-feira, 12 de maio de 2009

“O maior drama é o das consciências.”

Fátima. Fotografia de Rogério.

“Se Deus não existe… O pior de tudo é que digo e afirmo – Deus não existe! – mas na realidade não sei se Deus existe ou não. Não há nada que o prove – ou que prove o contrário. O pior de tudo é que eu sinto uma sombra por trás de mim e não sei por que nome lhe hei-de chamar. O pior que podia acontecer no mundo foi alguém pôr esta ideia a caminho.

Mas mesmo que Deus não exista, tenho medo de mim mesmo, tenho medo da minha alma, tenho medo de me encontrar sós a sós com a minha alma, que é nada, o fim e o princípio da vida e a razão do meu ser. Mesmo que Deus não exista e a consciência seja uma palavra, há ainda outra coisa indefinida e imensa diante de mim, ao pé de mim, dentro de mim.

Mas se Deus não existe – se Deus não existe que me fica no mundo? Sou nada no infinito. Fui tudo – e sou nada. Leva-me a força bruta. Sou o acaso na mistificação. Sou menos que nada no monstruoso impulso. Se Deus não existe tanto faz gritar como não gritar. Não tenho destino a cumprir: saio do nada para o nada. Nas mãos da força bruta que sou eu no mundo que grito, que discuto, que clamo?… Atrás deste infinito vivo, há outro infinito vivo. Atrás desta impenetrabilidade, há outra camada de impenetrabilidade, outra vida ainda, outro desespero sôfrego. Não encontro aqui lugar para Deus que me ouça, que me atenda, ou que saiba sequer que existo.

Os gritos são inúteis, tu não me ouves. Estou só neste absurdo que me impele e esmaga… Que não houvesse o céu, que houvesse o inferno! Só o inferno! E nem o inferno existe!…”
«O Sonho em Marcha», in Húmus, de Raul Brandão

sábado, 28 de março de 2009

fim de tarde

Almargem, Quarteira
«A noite mete-me medo, o dia também. Mas o que realmente me atemoriza são os fins de tarde porque ao fim da tarde tu nunca sabes bem para onde irá toda aquela luz. E quando olhas para o céu pensas: nesta cor está claro que este branco se vai dissipar num cinzento que se vai apagar num breu que eu nem quero saber. E as mudanças são tantas que basta passar-me uma nuvem por cima da cabeça ao meio-dia para temer já o fim do horário do expediente do sol. É como se todo o dia fosse uma antecipação de sombra, como se a aurora já trouxesse olheiras.»
«O tempo de quem chega ao fim da tarde», in luto lento, de João Negreiros

quinta-feira, 26 de março de 2009

"grandes livros"

grandes livros"Contar a história dos livros promove ou afasta os leitores?"

A RTP 2 estreia amanhã, dia 27 de Março, às 21h10, uma série de documentários intitulada Grandes Livros, produzida pela Companhia de Ideias. Esta série conta com 12 documentários, de 50 minutos cada, que incluem excertos das obras e dos enredos das vidas dos autores, em estilo biográfico e histórico. Narrados por Diogo Infante, cada episódio contará ainda com a participação dos principais especialistas na obra e/ou no autor em análise.

Os Maias, de Eça de Queiroz; Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto; O Delfim, de José Cardoso Pires; Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco; Os Lusíadas, de Luís de Camões; Sermão de Santo António aos Peixes, de Padre António Vieira; Aparição, de Vergílio Ferreira; Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa; Mau Tempo no Canal, de Vitorino Nemésio; Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett; Sinais de Fogo, de Jorge de Sena e Navegações, de Sophia de Mello Breyner são os doze grandes livros que irão ser abordados.

sexta-feira, 20 de março de 2009

«Os Saltimbancos»

Com certeza que quase todos vocês devem conhecer o famoso conto Os Músicos de Bremen, dos Irmãos Grimm.

«Cansado da exploração e maus-tratos do patrão, um jumento abandona a fazenda em que trabalhava, em busca de melhores condições de vida.
No caminho para a cidade, encontra um cachorro e uma galinha que fogem pelo mesmo motivo. Junta-se a eles uma gata, expulsa de casa por passar a noite a cantar. Unidos, decidem formar um conjunto musical, criando belas canções

Pois é, foi inspirado nesta fábula que "Chico Buarque criou um texto e canções que nos transportam à magia suprema do espectáculo e ao que a vida tem de encanto."
O espectáculo estará em cena, nos próximos dias 27 e 28 de Março, pelas 21h30, no Teatro das Figuras, em Faro, assinalando desta forma o Dia Mundial do Teatro.

domingo, 15 de março de 2009

«A Perfeição»

A Perfeição ilustração: Anoni Moss

«Sete anos, sete imensos anos, iam passados desde que o raio fulgente de Júpiter fendera a sua nave de alta proa vermelha, e ele, agarrado ao mastro e à carena, trambolhara na braveza mugidora das espumas sombrias, durante nove dias, durante nove noites, até que boiara em águas mais calmas, e tocara as areias daquela ilha onde Calipso, a deusa radiosa, o recolhera e o amara!
[…]
Ulisses recuou, com um brado magnífico:
- Oh deusa, o irreparável e supremo mal está na tua perfeição!
E, através da vaga, fugiu, trepou sofregamente à jangada, soltou a vela, fendeu o mar, partiu para os trabalhos, para as tormentas, para as misérias – para a delícia das coisas imperfeitas!»
«A Perfeição», in Contos, de Eça de Queirós

segunda-feira, 9 de março de 2009

“Há momentos em que me sinto tão só”

De Lobo Antunes apenas tinha lido algumas crónicas, até ao momento que chegou até mim O Arquipélago da Insónia. Obrigada, a ti.
Devo dizer que este livro não foi de fácil leitura. Houve até certas partes da história em que me senti mesmo perdida. E o facto de não conhecer a escrita do autor pode ter ajudado ou não na leitura!

“- Daqui a nada é manhã
e não será manhã nunca.”


O Arquipélago da Insónia, de António Lobo AntunesO Arquipélago da Insónia é um livro que parece estar cheio de nada e no entanto conta-nos uma história. A história de três gerações de uma família que vive algures no Ribatejo, onde o rio desagua na Trafaria.
Temos o avô, que trata o filho por “Idiota”; a avó, que mata os coelhos com uma paulada no cachaço e logo a seguir afaga-lhes o pêlo; o filho, que provavelmente é mesmo um “Idiota”, pois é casado com uma ex-empregada da casa e deixa que o pai a possua e por fim temos os dois netos, sendo um deles autista e filho do ajudante de feitor. O Jaime, que diz não chamar-se Jaime.
Na história, encontramos ainda, o feitor; a prima Hortelinda, que já está morta e a Maria Adelaide, que é casada com o irmão do autista. Este por sua vez, nutre uma paixão por ela.

Nas duas primeiras partes da história, quem nos dá a conhecer a família é o autista. E talvez por isso a sensação de nos sentirmos perdidos na leitura.
Encontramos uma sucessão de histórias e acontecimentos em frases e palavras soltas e não encontramos um sentido. Tudo vai passando pela mente do personagem a grande velocidade e o leitor perde o norte.
Na terceira parte, a história da família é contada pelos outros personagens e o leitor dá por si a encontrar o sentido das coisas. Talvez até seja o encontrar da lucidez.

É "o arquipélago da insónia", onde cada um dos personagens são ilhas e que, apesar do seu elo de pertença, deambulam sozinhas. Caminham solitariamente, despertas pela noite e pela morte que estão sempre presentes.

terça-feira, 3 de março de 2009

Firmin, o rato literato

Firmin, Sam SavageFirmin, de Sam Savage é um livro brilhante!
O autor, na sua extraordinária fábula, fala-nos sobre Firmin, um rato que nasceu numa cave da Pembroke Books, uma livraria de Boston, e que aprendeu a ler devorando as páginas de livros.

Os meus repastos começaram por ser primitivos, orgíacos, desinformados – uma dose de Faulkner era para mim o mesmo que uma dose de Flaubert -, mas depressa detectei diferenças subtis. Primeiro reparei que cada livro tem o seu sabor – doce, amargo, agridoce, rançoso, salgado, picante.

Ao ler estas palavras, um leitor apaixonado até sente um murro no estômago, mas é impossível não continuar a ler as palavras seguintes:

De início eu limitava-me a comer, roendo e mastigando alegremente, guiado pelos ditames do paladar. Mas depressa comecei a ler aqui e ali os contornos das minhas refeições. E com o tempo passei a ler mais e a comer menos até dar por mim a gastar todas as minhas horas de vigília a ler, mastigando apenas as margens brancas.

E não se apaixonar por Firmin. O último dos treze filhos de Mama: Sweeny, Chucky, Luweena, Feenie, Mutt, Peewee (por quem Firmin quase cometeu incesto), Shunt, Pudding, Elvis, Elvina, Humphrey, Honeychild e Firmin, o último dos últimos, que tinha de disputar a última das doze tetas de Mama.

Mais tarde, Firmin acaba por ficar sozinho na livraria e muda-se da cave para “um cantinho no tecto por cima da loja, a meio caminho entre o Balão e a Varanda, que [lhe] permitia ir observando o que se passava, mas não descur[ando] a [sua] educação na cave, onde devorava livro atrás de livro, embora já não literalmente.” Ufa, ainda bem!

Ao longo das páginas, Firmin dá a conhecer ao leitor, os livros por onde viaja e brinca com ele, causando-lhe uma certa inveja. É também através de Firmin que conhecemos Norman, o dono da livraria e “O PRIMEIRO SER HUMANO QUE F. AMOU”, até ao dia em que Norman o vê e deixa-lhe um presente. Firmin quando lê o pacote do que tinha ingerido quase morreu, mas de desgosto! “Veneno para Ratos” ou “Um Amor Traído”… Era o desmoronar e era altura de virar a página…

Ainda arriscou comunicar com Norman, tentando aprender a escrever à máquina e até com mímica, mas foi tudo em vão. É salvo pelo escritor Jerry Magoon, «o homem mais inteligente do mundo», que o leva para casa. Com Magoon, Firmin tem uma relação de compreensão e afecto. Aproveita para ler todos os livros das prateleiras do escritor e quando cansado, sai pelos canos e percorre as ruas da cidade. Um dia… Tudo desaparece.

São 154 páginas recheadas de humor, tristeza, genialidade, sonhos e muito mais. Em algumas páginas ainda somos presenteados com ilustrações tão bonitas como a da capa.

domingo, 1 de março de 2009

a fronteira

Roma: jardins do Foro Romano
"Existimos por nós mesmos, talvez, e por vezes até conseguimos ter um vislumbre de quem somos, mas no fim nunca podemos ter a certeza, e conforme as nossas vidas continuam, tornamo-nos cada vez mais opacos para nós próprios, cada vez mais conscientes da nossa própria incoerência. Ninguém consegue atravessar a fronteira para entrar dentro de outra pessoa – pela simples razão que ninguém tem acesso a si mesmo."
«O Quarto Fechado», in A Trilogia de Nova Iorque, de Paul Asuter

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

ler e esquecer!?

Leituras para esquecer!?
“- Lestes então os Prolegómenos?
- Mal, e ainda por cima há três anos.
- Três anos! Exclamou o doente. – Gasta uma pessoa o seu tempo e as suas forças como se se tratasse de conquistar a eternidade, e vem um fulano, que por acaso nos leu, dizer-nos que ao fim de três anos tudo olvidou! Malograda glória.”

Como a Água que Corre, de Marguerite Yourcenar

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