quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

«Contramão»


«Para mim, um Disco é cada vez mais um Livro, uma narrativa contínua de histórias desencontradas que se reencontram na Música que escrevo, de personagens, por vezes atormentadas, outras felizes, de sentimentos de perda ou de conquista que acabam por ser comuns a muitos de nós. Falo de mim através das vozes de outros e transponho-me para os outros usando a minha própria voz. Ao longo de todo este tempo, diria quase desde que me conheço enquanto Músico, procurei melhorar a simplicidade daquilo que verdadeiramente me fascina: escrever Canções. O que aí vem é apenas isso. A minha Vida tornada palavra e harmonia. Se se encontrarem comigo neste trabalho, a minha tarefa estará cumprida e partirei para a estrada já com o próximo disco nas entranhas.» 
Pedro Abrunhosa

Está a chegar o primeiro concerto do ano. 
E vai ser tão bom! :)


Foi tão bom!

'Faro. 31.01.14., Teatro da Figuras. Entrelaçámo.nos. Cumprimo.nos. Intocados, volvemos à nossa paz pessoal depois da Paz colectiva. Assombrámo.nos. Deslumbrámo.nos. Corremos o mundo uns dos outros como se jogássemos ao jogo dos disparates e as palavras tornassem ao palco transformadas pelas identidades de todos, diferentes, melhores, permanentes. Hoje fomos maiores do que a noite e, por isso, a noite foi inteiramente Nossa. Obrigado a todos. Aos presentes e aos que lutaram por bilhete sem, infelizmente, o terem conseguido. Também a vossa força lá esteve.' Pedro Abrunhosa

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Dia de Memória

Maus, Art Spiegelman, Suécia

«Pois também lá, entre chaminés, nos intervalos do sofrimento, algo se assemelhava à felicidade. Toda a gente me pergunta só pelas vicissitudes, pelos «horrores»: todavia, no que me diz respeito, é talvez essa a experiência mais memorável. Sim, é disso, da felicidade dos campos de concentração, que eu lhes falarei na próxima vez, quando me perguntarem. Se é que vão perguntar. E se eu próprio não me tiver esquecido.» 
Sem Destino, de Imre Kertész 

"O problema de Auschwitz não é o de saber se devemos manter a sua memória ou metê-la numa gaveta da História. O verdadeiro problema de Auschwitz é a sua própria existência e, mesmo com a melhor vontade do mundo, ou com a pior, nada podemos fazer para mudar isso." 
Imre Kertész, no seu discurso de atribuição do prémio Nobel em 2002

Dia Internacional de
Memória das Vítimas do
 Holocausto

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

«Viagem»

Histórias de ida-e-volta, Paulo Galindro, Portugal

«O beijo da quilha
na boca da água
me vai trocando entre céu e mar,
o azul de outro azul,
enquanto
na funda transparência
sinto a vertigem
de minha própria origem
e nem sequer já sei
que olhos são os meus
e em que água
se naufraga minha alma

Se chorasse, agora,
o mar inteiro
me entraria pelos olhos»
in Raiz de Orvalho e Outros Poemas, de Mia Couto

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

«Gratte-papier»


Gratte-Papier, Guillaume Martinez, 2005

"Agora, livro meu, vai, vai para onde o acaso te leve."
Paul Verlaine

domingo, 5 de janeiro de 2014

Emoções

http://becs.aalto.fi/~lnummen/Emotionbodies.pdf
Mapa das emoções humanas, Universidade de Aalto*
 
Um grupo de cientistas da Universidade de Aalto (Finlândia) definiram mapas corporais com 14 emoções, defendendo que estas permitem refletir sensações no corpo que são transversais a diferentes culturas. 

"As emoções definem não só ao nosso estado mental, mas também os nossos estados corporais. Deste modo, ajudam-nos a preparar para reagir rapidamente aos perigos, mas também às oportunidades, tais como nas interações sociais", refere Lauri Nummenmaa, uma das investigadoras responsáveis pelo estudo. "A perceção das correspondentes mudanças corporais podem posteriormente funcionar como um gatilho para as sensações emocionais conscientes, como a sensação de felicidade", acrescenta. "Os resultados têm implicações importantes para a compreensão das funções das emoções e da sua relação com o físico", diz Lauri Nummenmaa, concluindo que estes resultados "ajudam a perceber melhor diferentes distúrbios emocionais e podem fornecer novas ferramentas para o seu diagnóstico".  

Com quais é que o ano de 2014 nos irá presentear?
Desejamos o equilíbrio. :0)
________________________
*Artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

O que é isto da felicidade?

Os dias andam cinzentos, as pessoas andam esmorecidas e David Machado decidiu falar do Índice Médio de Felicidade. Segundo a tabela, Portugal tem um Índice Médio de Felicidade de 5,7, numa escala de 0 a 10. Este valor é suficiente para questionar toda uma vida!

David Machado criou deveras um personagem otimista. Penso que nunca conheci uma pessoa assim. Será que é porque Daniel tinha um plano de futuro de vida? Talvez... Mas o plano teve de ser riscado várias e várias vezes. Nada parecia seguir de acordo com o plano há muito idealizado e escrito. 

«Passei várias noites debruçado sobre aquele caderno. O que é que falhou? Onde é que as costuras não ficaram bem apertadas? Não encontrei nada errado. Era um bom Plano. Justo. Era uma vida possível. Mas tentei reescrever tudo, adequar a minha ideia de futuro aos novos limites da realidade.»

A vida dele de um dia para outro levou um enorme abalo. Perdeu o emprego e por conseguinte deixou de poder pagar a prestação da casa. Marta, a mulher dele, também desempregada viu-se obrigada a migrar para casa dos pais em Viana do Castelo e levar os dois filhos, Flor e Mateus. Os seus dois melhores amigos já não o podem ajudar. Almodôvar cometeu uma loucura e foi preso e Xavier vive enclausurado em casa há mais de doze anos, em permanente ameaça de suicídio. O site de solidariedade criado pelos três amigos, com o intuito de as pessoas ajudarem-se entre si, é um insucesso e está condenado ao esquecimento. Vasco, o filho de Almodôvar, tornou-se um delinquente, consequência da ausência dos pais. E é neste cenário moribundo, decadente e sem esperança aparente, que Daniel tenta refazer o seu futuro. Será isto possível?

É bem verdade que somos feitos de fibra e de aço, mas até que ponto um homem consegue resistir a tantas adversidades, num curto espaço de tempo? Será que dá para continuar a acreditar num futuro quando tudo no presente está a ruir à sua volta? Será possível medir a felicidade numa equação matemática? Será que precisamos de tanto? Não teremos demasiadas distrações? Será que a vida e a felicidade são bem mais simples do que aquilo que desejamos e queremos? 

«Numa escala de 0 a 10, quão satisfeito se sente com a vida no seu todo?» 
É complicado.

As expectativas não são as mais favoráveis, mas Daniel é um resistente, que insiste em não querer baixar os braços. Amanhã há de ser melhor. Daniel é o homem que é obrigado a refazer o seu plano de futuro diariamente. Onde a sua noção de felicidade está em constante revisão. E mesmo assim continua sempre a acreditar. Parece que nada o abala, porque não quer desistir. Talvez Daniel seja o herói que nos dias de hoje já escasseiam em Portugal.  

David Machado já tinha surpreendido com O Fabuloso Teatro do Gigante, por isso este Índice Médio de Felicidade já augurava grandes expectativas. Esta é uma história audaciosa, que pode bem ser a realidade de alguns de nós e que conta até com uma viagem um tanto ao quanto irreal, mas mirabolante. E ainda assim, consegue transmitir esperança e futuro num cenário de constante queda, desespero e desistência.

E assim começo o ano. A escrever sobre a minha última leitura de 2013. Um ano que foi bastante fraco em leituras. 7 foram os livros lidos. Foram tão poucos que até posso enumerá-los, sem cansar: Bom Inverno de João Tordo; Portugal Hoje - O Medo de Existir de José Gil; O Doutor Jivago de Boris Pasternak; A Luz de Stephen King; Vinte e seis e mais uma… de Máximo Gorki; A Desumanização de Valter Hugo Mãe e este que hoje vos falei.

Boas leituras para 2014!

Pinturas populares (últimos 30 dias)