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quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

O meu pai era ciclista

 

O meu pai era ciclista. Nunca deixou de o ser. Mesmo nos últimos tempos, a bicicleta continuava a ser a sua alegria e o alento para os dias menos bons. 

Não era pessoa de muitas palavras, mas gostava de contar histórias da sua juventude quando estávamos apenas os dois. Também não era pai de afetos. No entanto, já em idade adulta, compreendi que se preocupava à maneira dele. 

Há dias que custa mais sentir a sua ausência. Daí que "O meu pai voava", de Tânia Ganho, trouxe-me conforto. Aqueceu-me o coração! Como somos quase da mesma geração, revi-me em muitas memórias. E muitas delas fizeram-me sorrir por esse mesmo reconhecimento. 

Foi um dos livros mais bonitos deste longo mês de janeiro.

"<<A memória ajusta-se>>, escreve Joan Didion em Noites Azuis, <<a memória conforma-se ao que julgamos recordar.>> A memória é profundamente subjetiva. Esta é a minha versão do meu pai. A dos meus irmãos será diferente, talvez até contraditória."

🤍 26 meses, pai.

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

"o som das vozes enche as diferentes dimensões do mundo"


Para além dos livros para crianças, de que tanto gosto, David Machado também surpreende sempre com os seus romances tão distintos recheados de camadas reflexivas.

Neste seu último livro, Os Dias do Ruído, o leitor entra no mundo vertiginoso de Laura através de uma narrativa estruturada para o "scroll", com "posts" fragmentados e aleatórios "publicados" por Laura.

Laura matou Amar, um terrorista islâmico, que preparava-se para cometer um atentado num café de Paris. (Algo que se fica a saber logo no início).

Como será este ato visto pelo mundo virtual em que Laura passa a flutuar?

"- O que fizeste não te define - decreta.
- Diz isso aos meus seguidores.
- Os teus seguidores também não te definem, Laura."

"O ruído persiste, mesmo que eu não esteja lá para o escutar. Isso tranquiliza-me mais do que estou disposta a admitir.
Por outro lado, receio de que se esqueçam de mim, impede-me de respirar fundo.
Mas quando é que a morte digital se tornou tão arrebatadora como a morte física?"

"Mas o esquecimento não é possível nesta época em que tudo está registado e as máquinas decidem sozinhas quando está na hora de olharmos para o passado.
Como podemos ser humanos sem nos esquecermos?"

"Todos os dias apareço nos meus murais para cuidar do reino virtual. Faço-o com delicadeza, como se tratasse de plantas. No interior do reino, o ruído é mais polifónico e estridente do que nunca, grita-se tudo e o seu contrário, a comunidade só funciona porque ninguém está a ouvir ninguém."

Nos dias de hoje... "Uma questão indispensável: é realmente possível parar e existir apenas num plano físico?"

Que vos parece?

Um livro que se lê num fôlego, mas que levanta tantas questões. Uma história que não nos deixa indiferentes e que fica a fervilhar no pensamento. Muito bom!

sábado, 4 de janeiro de 2025

"Bandolim"


"Bandolim",

foi como encontrar o caderno de memórias de Adília Lopes perdido num banco de jardim e já não o querer largar sem lê-lo até ao fim.


Adília Lopes:

é simplicidade e inteligência em cada camada dos seus versos.

é regressar à infância e a um tempo sem tempo.

é cheiro de casa e de conforto.

é vaguear por lembranças ora felizes, ora melancólicas.

é não limitar a palavra e o quão bonito pode ser um "Sou assim porque sim".

é surpresa a cada virar da página.

e beleza que só é explicável lendo.


Obrigada, Adília. Vou continuar a ler-te, sempre. 🤍 

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

"o luto não é um problema a resolver"


Não me identifico com livros de autoajuda, mas há uns meses uma amiga emprestou-me este livro de Megan Devine, "Está tudo bem não estar tudo bem".  Agradeci-lhe e disse para mim mesma: - Porque não?

Nas primeiras semanas fui avançado nos capítulos, mas depois fiquei meses sem lhe pegar. Ficou esquecido na mesa de cabeceira. 

Entretanto voltei a ele vagarosamente e terminei-o. Confirmei que realmente não me identifico com livros deste género. No entanto, a autora foca pontos relevantes, como: o facto das palavras de consolo, por vezes serem tudo menos palavras de consolo; a pressão externa para que o enlutado volte depressa ao normal; a iliteracia emocional e cultura da culpa; o caminho ser extremamente solitário.

A vivência do luto é uma contínua travessia num deserto sem fim. Porque a realidade do luto é difícil e dolorosa e pouco ou nada se fala dela. Há uma cultura em apagar e silenciar o que devia ser falado. A dor de quem fica é minimizada, porque outros também já passaram por isso e não há nada de novo. É a vida! Daí que o luto é um caminho de solidão. Não há preparação e não, não se volta ao normal. Porque não há reparação para o irreparável, porque "o luto não é um problema a resolver" e porque o sofrimento surge em dias banais, como quem escuta: "- Já devias ter ultrapassado isso!"

Não há quem nos ampare a queda constante ao longo dos meses ou anos seguintes. Porque ninguém vai viver, sentir ou enfrentar a dor por nós. 

Contudo, do outro lado há o amor, que nos sustém ao de cima, que nos liberta e dá um sentido ao caminho.

#sobreaperda #dizeradeus #luto #vidaemorte

sábado, 2 de novembro de 2024

as casas e a memória

Rovaniemi, Finlândia 
 

"As casas são quem está dentro delas, e quando essas pessoas desaparecem, as casas também morrem sem saber. Levam com elas os cheiros, os recantos onde aconteceram coisas que não voltam a acontecer, mas que darão lugar a que outras pessoas construam nela memórias novas, e que voltem a chamar casa àquele sítio que já não o é para quem um dia a deixou vazia."

Aqui dentro faz muito barulho, Bruno Nogueira 

domingo, 20 de outubro de 2024

"Só para o caso de precisares..."


 "[...] e deixava-se ficar em frente à Zee TV ou às notícias, para não olhar para o cadeirão vazio ao seu lado, o de Naina... e para encher os ouvidos de som, risos e conversas severas, assuntos mundiais importantes, para proteger a mente do silêncio ensurdecedor que o recebia sempre que chegava a casa todos os dias há dois anos."

Pensei que partia para um livro sobre livros e afinal este livro de Sara Nisha Adams tem mais camadas. "A lista de leitura" não é tão leve como o imaginara aquando o iniciei. 

Aviso que para quem ainda não leu os livros mencionados da lista de leitura e não gosta de "spoilers", isso poderá ser um entrave. No entanto, este livro abarca muito mais que isso. 

Fala de solidão, de depressão e o quanto é necessário cuidar da nossa saúde mental. E é aí que entra o benefício dos livros, do quanto eles podem ajudar-nos e também serem aconchego em diferentes fases da nossa vida, e do poder das bibliotecas, enquanto serviço para as comunidades onde estão inseridas. 

Já o tinha visto pelas redes sociais, mas pouco me disse. Desta vez, nesta minha última visita à biblioteca, chamou-me. Talvez tenha sido Naina a sussurrar: "- Leva-o. Só para o caso de precisares...". 

Serviu como um bálsamo para estes dias menos bons. Por vezes, temos que deixar que as lágrimas caiam. 

Nota: Da lista, não li o último (nem conhecia): "Um bom partido" de Vikram Seth. Claro, que terei de o ler!

domingo, 6 de outubro de 2024

"a avó tem pássaros na cabeça"


"Ouvi dizer que a avó tem pássaros na cabeça.

Não é de estranhar que as aves se aproximem dela, pensando que é uma nuvenzinha."

Não é fácil envelhecer. Ficámos mais vagarosos, perdemos muitas das faculdades e o corpo parece não querer responder. Na verdade, voltamos ao início, de quando éramos pequeninos e precisávamos de quem olhasse por nós.

Quando somos crianças dizem-nos, constantemente, que parece que temos a cabeça nas nuvens. E vivemos muito no mundo do imaginário.

Assim, quando chegamos a velhinhos, por vezes a mente também viaja para outros lugares. "É como se as nuvens descessem à cabeça" e não nos deixassem seguir com a vida ou reconhecer aqueles que nos são queridos.

A maior dor é para quem cuida. Pois a demência num ente que nos é querido é algo que nos destrói e nem sempre é fácil de lidar.

"Nuvens na cabeça" de Elena Val é um livro belíssimo que nos mostra as fragilidades de uma criança e uma velhinha. E que nos ensina a nós, "que temos os pés bem assentes na terra", que nem tudo tem de ser questionado.

Deixar de lado a razão e a lógica e aprender a desfrutar dos momentos de amor são a magia para viver cada dia como se fosse único.

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

"Sol" de Diogo Carvalho


Passei parte da minha adolescência a ler ficção científica, por isso ler Sol de Diogo Carvalho foi um regressar a esse tempo. Li de um só fôlego. E digo-vos que o Diogo soube misturar bem todos os ingredientes, entre argumento e arte.

Tocando em temas como a destruição dos recursos e o aniquilamento das populações, Sol é uma história que envolve e capta a nossa atenção logo nas primeiras páginas e depois já não nos deixa parar.

Viajamos para um futuro onde o poder e ganância dos mais fortes arrasta para o "fundo dos mega edifícios na escuridão" os mais fracos. Os fortes colonizam, dominam a exploração espacial e descartam o não essencial.

Só que em todas as histórias tem de haver um herói, certo? Aqui temos Sol, uma rapariga que perdeu o pai em criança e que está prestes a perder também a mãe, infectada pela "doença dos colonos".

Mas até "aonde irias no Universo para salvar alguém que amas?"

quarta-feira, 31 de julho de 2024

"É preciso saber sair dos sítios no momento oportuno"

 


Tinha as expectativas em alta, porque Pátria foi um dos meus melhores livros do ano passado. Há dias terminei o Regresso dos Andorinhões de Fernando Aramburu e senti que fui atropelada e sobrevivi. Só que deixei de ser a mesma, após chegar até às entranhas de Toni.

Começamos em Agosto com Toni, o personagem deste livro, a informar-nos que não vai durar muito. Um ano. Foi o limite que colocou a si próprio. Aos 54 anos, prevê suicidar-se daqui a um ano e até diz-nos a data exata: 31 de julho, quarta-feira, à noite. 

"É o prazo que concedo a mim mesmo para pôr os meus assuntos em ordem e averiguar porque é que não quero continuar na vida."

Toni não gosta da vida e eu, nos primeiros meses, não consegui simpatizar com Toni. Pois o personagem, a par de ir libertando-se de objetos, decide também escrever notas retrospetivas de toda a sua vida ao longo desse ano que lhe resta. E no decorrer desses dias e meses fui dissecando Toni através das suas impressões. Daí que dei por mim a detestar e até sentir repulsa por este homem comum, professor de Filosofia, que tem um discurso, tantas vezes, repugnante para com as mulheres, e até de ódio para com os que lhe são mais próximos.

Só que à medida que os dias e meses vão avançando na história, a minha raiva apazigua-se e dou por mim enredada num turbilhão de outros sentimentos. 

A honestidade e a transparência das suas reflexões, com os seus altos e baixos, colocam a nu até os flashes da sua vida mais íntima. Toni desarma.

Questiono, questiono, questiono, ... 

Toni partilha o balanço da sua vida, com data de validade, em 802 páginas.

Poxa o quão a vida pode ser frágil e a solidão ruidosa!

"Há muito tempo que não me ria tanto. Não me ocorria outra forma de ocultar a tristeza que me embriagava."

Sim, porque... "É do caraças; se fores um homem, obrigam-te a morrer como um cão; se fores um cão, facilitam-te uma morte indolor, fazendo o mais possível para que estejas tranquilo e não te sintas só."

sábado, 20 de julho de 2024

"História de um desastre nuclear"


☢️ "Catorze dias é quanto dura a evolução da síndrome aguda da radiação. Em catorze dias uma pessoa morre..."

"A noite de 26 de abril de 1986... Numa só noite deslocámo-nos para um outro lugar da História."

"Demorei a escrever este livro... Quase vinte anos... Encontrei-me e conversei com antigos trabalhadores da central, cientistas, médicos, soldados, samosely [cidadãos que depois de evacuados preferiram voltar às suas casas]..."

"Durante toda a nossa vida, ou estávamos em guerra ou nos preparávamos para a guerra, sabemos tanto sobre ela - e de repente! A imagem do inimigo mudou."

"Nos primeiros tempos éramos todos transformados em objetos raros."

"O mundo está dividido: existimos nós, chernobylianos, e existem vocês, todas as outras pessoas. Reparou nisso? Nós aqui não especificamos: sou bielorrusso, sou ucraniano, sou russo..."

"Chernobyl acelerou a desintegração da União Soviética."

"A minha primeira viagem à Zona...

Durante a viagem eu pensava que estaria tudo coberto de cinzas. [...] Chegas e vês tudo bonito."

"... se eu não posso mudar nada na vida deste homem, tudo o que posso fazer é comer com ele a sanduíche contaminada, [...]".

"Veio para casa todo feliz... Com uma condecoração..."

"Fomos enganados. Fora-nos prometido que regressaríamos três dias depois."

"E eles não compreendiam o que tinha acontecido, queriam acreditar nos cientistas, em qualquer pessoa letrada, como um sacerdote. Mas ouviam repetidamente: <<Está tudo bem. Não tem nada de mal. É só lavar as mãos antes de comer...>> [...] estivemos todos envolvidos... No crime... [Silêncio.]"

Quis somente transcrever algumas das "Vozes de Chernobyl" para vos falar deste livro de Svetlana Alexievich, que me marcou profundamente. 

Não há palavras que consigam abarcar a dimensão desta tragédia. A autora soube fazê-lo de uma forma notável e impactante.

terça-feira, 9 de julho de 2024

24| livrarias e bibliotecas no mundo


 "Lee, lee, lee

y ensancha el alma" ❤️

José Miguel Valle


Foi com esta pequena frase que fomos brindados ao atravessar a porta da ala infantil da biblioteca municipal de Orotava.

Situada na calle Tomás Pérez, em pleno centro histórico, esta bonita biblioteca está, desde 1985, no edifício do antigo Casino. 

Com um acervo de 49 590 livros, esta biblioteca de dois pisos conta com uma sala de leitura, uma área infantil e um espaço mais lúdico para consulta de jornais e revistas. 

Termino, referindo que passamos uma boa hora a ler livros infantis em espanhol e que o bibliotecário que nos recebeu foi uma simpatia. 

quarta-feira, 26 de junho de 2024

Sobre a vida


 "A vida é a hesitação entre uma exclamação e uma interrogação. Na dúvida, há um ponto final."

Livro do Desassossego, Bernardo Soares (Fernando Pessoa)

sexta-feira, 21 de junho de 2024

El Chinyero

 


O vulcão El Chinyero, de 1.561 metros de altura, foi o último a entrar em erupção, em Tenerife, e fica bastante próximo do Teide.

Foi na Reserva Natural del Chinyero que realizamos um dos percursos mais bonitos da ilha. 

Aqui contemplamos uma das paisagens vulcânicas mais impactantes, que ficará registada na nossa memória.

terça-feira, 11 de junho de 2024

Maria Teresa Horta, A Desobediente


Ler "A Desobediente, Biografia de Maria Teresa Horta" de Patrícia Reis, é imergir no universo de uma mulher ímpar. Maria Teresa Horta é a mulher das palavras, da poesia, do feminismo, do corpo, do desejo, da sexualidade, da luta, da liberdade, das ideias, da literatura, da irreverência, das convicções, da paixão e também do amor desmedido por Luís de Barros a quem dedica a maioria dos seus livros. 

Patrícia Reis é maravilhosa nesta demanda tão inglória que é abraçar uma vida inteira de uma figura incontornável do nosso século. Maria Teresa Horta é mulher, jornalista, escritora, poetisa, mãe, avó, bisavó, foi e continua a ter uma voz ativa em tantos outros papéis. O seu nome está fortemente associado à luta contra o fascismo e o Estado Novo. É uma das três autoras do livro, Novas Cartas Portuguesas, com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa. Toda a sua vida lutou pelas condições da mulher em Portugal. Nem sempre foi bem vista e reconhecida, pois "ser feminista era uma coisa aviltante".

Imergi, assim, para um tempo em que "as mulheres praticamente não tinham corpo" e "eram todas iguaizinhas", onde quem mandava era o homem. Fui parar a um tempo que não vivi, nem conheci. Em que não se questionava a situação da mulher. Esta não tinha uma "voz ativa, não tinha uma voz real", porque na hora de decidir era a mesma coisa que ser muda.

Não conheço toda a obra de Maria Teresa Horta, mas admiro imenso esta mulher desde a minha juventude. Gosto da sua teimosia e rebeldia, da sua voz na política e na cultura, que com os seus 87 anos continua sempre tão lúcida e coerente consigo própria. 

Ouvir ou ler Maria Teresa Horta é sentir a paixão nas palavras e o quanto a palavra "mulher" faz parte de si, da sua identidade. 

"Mesmo que não entendesse, achava sempre lindo que as palavras viessem dali dos livros. E cada palavra tinha um peso específico, uma música, isso era um dos mistérios que gostaria de desvendar com alguma pressa, porque intuía que ali, nas palavras, estava um caminho que era seu." 

quarta-feira, 5 de junho de 2024

Sendero de La Hija Cambada


O Parque Rural de Anaga em Tenerife é daqueles lugares imperdíveis para os amantes de trilhos.

Contudo, se estiveres com o tempo contado e mesmo assim quiseres fazer 1 ou 2 caminhadas, aconselho-te o Sendero de los Sentidos (1,6 km) e o Sendero de La Hija Cambada.

Este último com uma distância de 5,5km já dá para sentires a magia da floresta de laurissilva. É como se estivesses mesmo dentro de uma história de fantasia.

Com um grau de dificuldade fácil/moderado, este percurso circular tem início e chegada no Centro de Visitantes Cruz del Carmen e é acessível para famílias com crianças.

sexta-feira, 24 de maio de 2024

"O que estará para lá do grande muro vermelho?"


Os livros de Britta Teckentrup têm tudo o que gosto num livro infantil: ilustrações bonitas e uma história simples, que nos faz pensar/questionar. ❤️

"O que estará para lá do grande muro vermelho?"

"O Ratinho e o muro vermelho" é um livro para os audazes e destemidos que, com a sua curiosidade, ousam olhar mais além. Que não têm medo e se aventuram no desconhecido. Que vão em busca de uma liberdade para todos. Sem muros ou vedações. 

Mas também é um livro para os receosos, que vivem paralisados e escondidos na sua concha.

Pois quantas vezes é que, por receio do que não compreendemos, criamos barreiras e nos fechamos ao mundo ou ao outro? Quantas vezes é que acreditamos naquilo que nos impingem diariamente e não vamos em busca da verdade por nós mesmos? 

Por isso, todos os dias são um bom dia para lutar pela liberdade e por um mundo sem barreiras, pois "irá haver muitos muros na tua vida [...]. Alguns serão feitos pelos outros, mas a maioria será criada por ti..." 

terça-feira, 14 de maio de 2024

23| livrarias e bibliotecas no mundo


"Só depois é que fui à procura da grande biblioteca, as Galveias, que não seria tão grande assim, mas para mim era o mundo…" 
José Saramago 

Por estes dias tive a oportunidade de visitar a biblioteca municipal do Palácio Galveias e estava tão apinhada de leitores que, por opção, estes foram os únicos registos fotográficos que fiz para memória futura.

Com um acervo de 60 mil documentos, o edifício do Palácio Galveias prima também por um património arquitetónico muito bonito e que vale a pena visitar.

quarta-feira, 8 de maio de 2024

"Sendero Malpaís de Güímar"


"Sendero Malpaís de Güímar" foi um daqueles trilhos que decidimos fazer sem estar no programa de Tenerife e só posso recomendar, porque gostámos imenso.

Este é um trilho circular, com início e final no Puertito de Güímar. Tem uma extensão de 6km, um grau de dificuldade baixo e duração de 3h.

Com uma paisagem vulcânica única que se estende desde a Montaña Grande até à costa, Malpaís de Güímar é uma Reserva Natural Especial de grande importância ecológica, que foi declarada área protegida em 1987. 

Digam-me se as fotos não falam por si.

quinta-feira, 2 de maio de 2024

"a beleza é o grau mais elevado da verdade"


"Lucrei porque sou um entre milhares, dez milhões e tal, que melhoraram as suas vidas passando a viver em liberdade."

Com "Os Memoráveis" regresso à oralidade e à escrita tão própria da autora de "A Costa dos Murmúrios" e "O dia dos Prodígios". Pois com "Misericórdia" tinha esquecido o quão desafiante pode ser a escrita de Lídia Jorge.

Entro em 2004. Vive-se os 30 anos da Revolução dos Cravos. Nos EUA, a repórter Ana Maria, uma filha de Abril, é convidada para fazer um documentário para a CBS sobre a Revolução de 74: "A História Acordada". Sobre a derradeira noite de 24 para 25 de abril. Aceite o desafio, Ana Maria regressa a Portugal e juntamente com dois antigos colegas passam à ação. Desenrolam-se uma série de entrevistas com os diferentes intervenientes do golpe de Estado, revisitam-se vários lugares e assim, ao longo dos capítulos a História passada vai-se construindo. 

Paralelamente, a história pessoal de Ana Maria com o pai António Machado cruza-se com a dos heróis. Ao longo dos capítulos vamos acompanhando os silêncios e as parcas conversas entre eles. 

O enredo pode parecer simples, mas a escrita de Lídia Jorge exige uma leitura mais lenta, concentração e foco. Perdi-me por vezes e também não consegui reconhecer todos os protagonistas da História. Tive de voltar atrás e recomeçar.

A autora procurou o olhar da minha geração. A que não viveu a euforia do 25 de abril, mas que graças a ele pôde viver em liberdade, com todas as suas alegrias, consequências e desilusões.

Pois há os que abdicaram da história e os heróicos que no presente foram esquecidos. 

"Que feliz mesmo seria o dia em que todos pudessem esquecer que eles foram necessários, e até que existiram. O meu marido era assim, desprendido. Um herói da retirada, o meu marido."

Mas há que não deixar esquecer. ❤️

quinta-feira, 25 de abril de 2024

#50anos25abril


"Um povo pobre, sem álgebra, sem letras, cinquenta anos de ditadura sobre as costas, o pé amarrado à terra, e de repente acontece um golpe de Estado, todos vêm para a rua gritar, cada um com a sua alucinação, seu projecto e seu interesse, uns ameaçando os outros, corpo a corpo, cara a cara, muitos têm armas na mão, e ao fim e ao cabo insultam-se, batem-se, prendem-se, e não se matam."

Os Memoráveis, Lídia Jorge 

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