quinta-feira, 30 de agosto de 2012

"ele deixou de tocar"

Slow Tunes, Kelly Vivanco, EUA

«Duarte, porque é que deixaste de tocar piano?» 
Duarte não esboçou a menor reação, a mínima surpresa, e a pergunta ficou a ecoar ao longo da Rosa Araújo, da Rodrigo da Fonseca, da Nova de São Mamede. E já se avistavam as primeiras árvores do Príncipe Real quando Duarte se livrou das mãos da mãe e respondeu: «Ódio.» 
A mãe olhou-o surpreendida: »Ódio à música?» 
Duarte disse: «Ódio ao meu talento. Ódio àquilo a que as pessoas costumavam chamar dom. O meu dom.» 
O Teu Rosto Será o Último, João Ricardo Pedro

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

7| livrarias e bibliotecas no mundo

Ciproš em Maribor, Eslovénia

Maribor é este ano, juntamente com Guimarães, Capital Europeia da Cultura. E foi nesta linda cidade eslovena, que fui encontrar a livraria Ciproš. Esta localiza-se na Glavni trg 1, mais precisamente do lado esquerdo após passar a ponte que atravessa o rio Drava. Aqui encontramos essencialmente livros usados de literatura eslovena e de autores estrangeiros traduzidos para esloveno, para além de também haver alguns livros em inglês, francês, russo, italiano e não, não encontrei nada em português. 

Fiquei a saber que na Eslovénia, toneladas de livros velhos são destruídos em moinhos. E foi com o intuito de salvar pelo menos parte desses livros, que a The Ciproš Maribor Book Lovers Club foi fundada em 1995. O nome Ciproš simboliza renascimento, e é neste contexto que os livros descartados são trazidos para as prateleiras desta bonita livraria, onde ganham outra vida até serem descobertos por novos leitores. Para além disso, a  Ciproš também organiza vários eventos literários.

Gostei especialmente da decoração desta livraria, onde os abat-jours são feitos de livros e onde há malas de viagem cheias de mais livros. 

Também descobri, posteriormente, que o seu anterior espaço físico era num antigo quartel do complexo Pekarna e numa caminhada mais demorada ao outro lado da cidade, fui ao encontro da antiga Bukvarna Ciproš.



sábado, 25 de agosto de 2012

Trilho de Vintgar Gorge

Percurso: Pedestre 
Localização: Parque Nacional de Triglav, Eslovénia
Distância aproximada: 1,6 km
Duração aproximada: 2-3 horas
Grau de dificuldade: Baixo

O desfiladeiro de Vintgar Gorge (Soteska Vintgar), que faz parte do Parque Nacional de Triglav, encontra-se a 4 km do município de Bled e a 62 km da capital eslovena, Ljubljana. O trilho tem um custo de entrada no valor de 4€ e permite o estacionamento gratuito de viaturas. 

O percurso é bastante acessível, no entanto não é circular. Ao chegarmos ao final temos de regressar pelo mesmo trilho. A caminhada é feita, praticamente, em  estrados e pontes de madeira, que estão ao longo do rio Radovna. Este é de águas tão cristalinas, que a vontade imediata é de mergulhar nelas! No entanto, fica o aviso de que não são permitidos banhos, o que não nos impede de descansar e refrescar os pés.

A paisagem é sempre verdejante e convidativa ao deleite e relaxamento, por isso esta é uma caminhada que deve ser feita com muitos momentos de pausa. No final do trilho encontramos um ponto de apoio e uma cascata de 13 metros, que nos convidam, mais uma vez, ao descanso. Sendo assim, é de não esquecer de levar uma pequena merenda na mochila para ajudar a recuperar forças para o percurso de regresso.








terça-feira, 14 de agosto de 2012

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

"Eu sou o deserto"

Le Chevalier au Grand Coeur, Hippolyte, França

«Todos os desertos são iguais, porque quando estamos acompanhados, podemos estar acompanhados de mil maneiras diferentes. Depende de quem está à nossa volta, ou daquilo que nos cerca. Mas a solidão é só uma, é sempre a mesma. Por isso, eu sou todos os desertos em toda a sua vastidão, pois a minha solidão é a solidão de todas as pessoas, de todos os seres vivos, de todas as pedras, de todas as perdas.»
A morte não ouve o pianista, Afonso Cruz

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

sábado, 4 de agosto de 2012

As memórias de Trotwood

Seis meses depois dou por terminado o desafio lançado em fevereiro. Na altura, referi que seria um desafio para dois meses. Pois… Estava ligeiramente enganada. Charles Dickens não é para se ler às pressas! A obra David Copperfield exige ser lida serenamente. É um livro denso e intenso, que nos encaminha para muitos lugares envolventes e emotivos da cidade londrina e arredores, na época vitoriana. 

«Sabia que em meu coração, como em todos os corações verdadeiramente bons e elevados, a aflição dá força e não fraqueza. Da mesma maneira que os sofrimentos da minha infância tinham contribuído para fazer de mim o que eu era; da mesma maneira maiores desgraças, depurando-me o ânimo, melhor me tornariam ainda, para que eu pudesse transmitir aos outros, em meus escritos, o ensinamento que de mim próprio recebera.»

Em David Copperfield é ele quem nos conta a sua história, desde o seu nascimento até à idade adulta, em que vive os seus anos de pleno sucesso e felicidade. Nasce órfão de pai e ainda de tenra idade vê-se sujeito a uma educação rígida e traumática, por a sua mãe contrair casamento com Mister Murdstone, um homem austero e odioso. Após várias privações dolorosas e de ficar orfão de mãe, decide pedir dinheiro emprestado à sua querida ama, a boa Peggotty, e ir procurar a sua tia, Miss Betsy, em Douvres. A partir daqui a sua vida dá uma enorme reviravolta em todos os sentidos. E não vou prolongar-me em mais descrições sobre a história, pois todas as vivências de Copperfield estão descritas em 829 páginas, tão minuciosas e sentimentais, que só lidas terão o seu encanto. 

Refiro antes que as obras de Charles Dickens estão sempre cheias de personagens, e esta não é exceção! Dickens é mestre na criação de personagens e a dar-lhes vidas e personalidades tão ricas, que é impossível, ao fim de tantas e tantas páginas, esquecê-las. Consegue-se criar ódio ao miserável Mr. Murdstone e à sua monstruosa irmã. Sentir repugnância pelo tão humilde Mr. Uriah Heep, que não passa de um homem pérfido. Sentir simpatia pela enorme família de Mister Micawber, tão infortunada nas suas aventuras. E afeição pelo empenho e dedicação de Traddles, o grande amigo e advogado de Copperfield. Não esquecendo a admiração por Mister Peggotty, o marinheiro que ruma para outros mares com a sua frágil sobrinha, Emília. Ou de sentir benevolência por Dora, a mulher-criança de Copperfield, que o deixa tão jovem. E até de compreender a resignação silenciosa da doce Inês. 

Acrescento ainda que esta narração, por vezes, tende a parecer exageradamente sentimentalista. E é de facto! Pois, mesmo havendo momentos menos felizes na vida de David Copperfield, o amor, a bondade e a esperança estão sempre presentes, fazendo desta obra um verdadeiro clássico da literatura. 

David Copperfield não é só uma autobiografia de Charles Dickens, é “talvez, o melhor romance para travar conhecimento com Dickens” (Jorge Luis Borges).

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