quinta-feira, 12 de agosto de 2010

"se não fosse a água havia de continuar para sempre escondida aos olhos do mundo"

Após ter lido o Sétimo Véu, que tanto me maravilhou, não resisti em voltar de novo a Rosa Lobato de Faria, com O Prenúncio das Águas. Não me lembro de alguma vez ter lido dois livros seguidos do mesmo autor, nem mesmo com os meus escritores favoritos o devo ter feito!

Em O Prenúncio das Águas, a autora segue a mesma linha de narração, mas desta vez temos ambas as vozes: femininas e masculinas. A francesa Filomena, a tia Sebastiana, o menino Pedro Nunes, o professor Ivo Durães e a Ausenda, o homem da casa, são quem nos contam as suas histórias, as histórias de Nicolas, o ex-noivo de Filomena, de Beatriz e Clara, as irmãs de Ausenda, do velho Matias Branco, o pai das três irmãs, de Tomásia, a noiva de Adanito, que por sua vez é filho de Sebastiana, do cigano Justo, Susto e ainda as histórias e lendas das suas gentes.

Filomena é quem inicia a narração, com o seu regresso às origens a Rio do Anjo, à terra natal dos seus pais, à aldeia que tinha virado notícia, porque ia ficar submersa pelas águas de uma barragem e os seus habitantes tinham de mudar para a Nova Rio do Anjo (desculpem Aldeia do Luto, assim a baptizou as gentes da terra), que ficava a cinco minutos de distância da velha e que estava a ser projectada e construída pela entidade GINA, Gabinete Instalador da Nova Aldeia.

«Agora toda a gente nos conhece. Ao fim de semana não acabam mais as camionetas das excursões que vêm olhar para nós como se fôssemos macacos do jardim zoológico, olha a aldeia que mais logo já não há, tirem retratos que depois não tem, olha as pessoas, coitadinhas, que vão ficar sem as suas casinhas, lá estão elas, que castiças, sentadas à porta de casa em suas cadeiras baixas fazendo malha como se nada fosse, se calhar nem percebem o que se está a passar.»

As vidas dos personagens giram à volta desta aldeia do Alto Alentejo, que há «três séculos ou mais» não se situava onde agora estava, «escondida numa prega do monte», e que agora caminhava para a contagem decrescente do seu fim. Tinha começado o êxodo! O povo tinha de abandonar a terra que sempre fora sua e ir «à procura de outro lugar, de outra vida, de outra esperança.»

«É este sabor de adeus irreversível, de nunca mais, de catástrofe anunciada», que torna o destino das gentes de Rio do Anjo, numa tragédia, num desfecho funesto. Porque não é só construir uma Nova Rio do Anjo e mudar pessoas! Porque não se pode deixar para trás as raízes de quem sempre ali viveu e ali quer morrer! Porque as suas identidades, os seus mitos e as suas lendas, as suas crenças e as suas festividades pertencem àquele lugar e não a outro! Mas à conta do progresso tinham mesmo de sair dali! E as gentes andavam nervosas…

Ao ler esta história é impossível não a associar a uma outra história. À da Aldeia da Luz. A aldeia que foi destruída e ficou maioritariamente submersa pelas águas da albufeira de Alqueva, que teve um significativo impacto social e onde as gentes da terra também viram uma Nova Aldeia da Luz nascer para nela serem depositadas.

Rosa Lobato de Faria surpreendeu-me mais uma vez com a sua escrita poética e carregada de sentimentos de gentes, onde «a sabedoria [encontra-se] num cafundó de restaurante de uma aldeia minúscula condenada à submersão.»

5 comentários:

Jojo disse...

A Rosinha é msmo fenomenal!!! Li o Traça de Inês e adorei, adorei!!!
Queria muito ler mais dela mas ultimamente estou concentrada em diminuir a pilha de livros antes de ir novamente às compras.

Bjinhos*

N. Martins disse...

Agora não vais conseguir parar de a ler! :) Com tantos blogues a lerem e comentarem Rosa Lobato Faria, começo a ficar cheia de vontade reler os livros dela...

Teté disse...

Antigamente acontecia-me muito isso: quando encontrava um autor que gostava, tentava ler mais livros dele, daí haver autores que li muitos livros e outros de quem nunca li nada...

A Rosinha também está na minha lista de livros a ler em breve... escusado será dizer que gostei desta apresentação! :)

Beijocas!

Bruna Uchoa disse...

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Bruna Uchoa
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cris disse...

Da Rosinha li "O prenúncio das águas", "o romance da Cordélia" e "A trança de Inês". Adorei a sua escrita, achei-a imaginativa e mto bem escrita. Vale mesmo a pena ler...

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