Árvore de leitura, André Neves, Brasil
«Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.»
Herberto Helder
(Dia Mundial da Poesia)
(Dia Mundial da Poesia)
8 comentários:
Bom poema de bom poeta para comemorar o Dia da Poesia.
Saudações azuis, que o azul é a minha cor de paixão.
É verdade, hoje é dia de ler poesia. Muita, em (quase) todos os blogues... :D
Beijocas!
Adorei a imagem.
Um abraço
Não conheço muito da poesia de Herberto Helder, SÃO! Mas gosto imenso do livro "Os Passos em Volta".
Saudações azuladas! :)
Mas olha que aqui neste cantinho lês muitas vezes poesia, em diferentes alturas do ano, TETÉ! ;)
Beijinhos
Sim é lindíssima, ISABEL.
Um abraço aqui do sul
Gostei do poema, mas tb adorei a imagem!!! :) bjs
CarY já andei a cuscar as tuas fotos, que estão de meter inveja! :) Ainda bem que me enviaste convite, pois não imaginava que as tinhas colocado no teu blogue.
Beijinhos
Linda imagem, lindo poema :)
Lindo, lindo, lindo!
Obrigada.
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