quinta-feira, 28 de junho de 2012

6| livrarias e bibliotecas no mundo

Pátio de Letras em Faro, Portugal

Pátio de Letras é o nome pelo qual é conhecido este espaço ligado aos livros, muito embora atualmente uma editora lhe dê nome. Situado na Rua Dr. Cândido Guerreiro, 26-30, este espaço tem proporcionado agradáveis momentos de tertúlia cultural à cidade de Faro. O Pátio de Letras não é apenas uma livraria, pois tem também um pátio interior, que faz convite à leitura e ao descanso na esplanada. E um bar, que ajuda a matar o bichinho da fome, caso esta comece a querer surgir.

Desde que abriu as suas portas, muitos foram os autores que já marcaram a sua presença; tanto para o lançamento de um livro, como para uma sessão de autógrafos. Também muitos foram os ciclos de cinema, de tertúlia ou de debate, que por este espaço passaram. 


E por haver sempre algo acontecer, o próximo encontro será no dia 13 de julho, com o documentário
Alves Redol, Memórias e Testemunhos de Francisco Manso. A iniciativa contará com a presença do realizador e do filho do escritor, António Redol.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

"o amor és tu"

..., Lado Tevdoradze, Geórgia

«há folhas a cair longe do Outono por não te fazerem 
sombra 

o Sol sentiu-te triste e mudou a hora doze vezes para 

se pôr antes do dia 

pensa num número rápido e di-lo devagar que eu 

adivinho-te pelo que vem antes dos lábios 

esconde-te comigo num quarto escuro para nos 

rirmos das luzes apagadas 

atira-me areia na praia às costas como faz o pão ralado 


e explica-me a razão de tudo isto ser a tua sombra 


tenho um sonho recorrente em que entras 


é assim 


tu entras 


vejo-te 


e acordo porque podia entrar mais alguém e isso era 

o pesadelo 

vi um dia um documentário sobre ti que não passou 

em lado nenhum e     no final          diziam que era 
inspirado em factos verídicos 

sim 


tu só podes ser inspirada 


não podes ser toda real 


se fosses toda a realidade onde havíamos nós de caber? 


nas tuas coxas? 


na tua barriga? 


não 


que és pequenina como o vento que olha para a 

nortada com admiração 

fizeram a perfeição à tua imagem 


e agora ninguém a quer porque esses defeitos que tem 

por graça são únicos como as gotas 

um dia far-se-á o mundo à tua imagem 


será melhor que este» 

in O Amor és tu, João Negreiros

terça-feira, 19 de junho de 2012

a idade...

«Aos 10 anos todos nos dizem que somos espertos, mas que nos faltam ideias próprias. Aos 20 anos dizem que somos muito espertos, mas que não venhamos com ideias. Aos 30 anos pensamos que ninguém mais tem ideias. Aos 40 achamos que as ideias dos outros são todas nossas. Aos 50 pensamos com suficiente sabedoria para já não ter ideias. Aos 60 ainda temos ideias mas esquecemos do que estávamos a pensar. Aos 70 só pensar já nos faz dormir. Aos 80 só pensamos quando dormimos.»
Venenos de Deus, Remédios do Diabo, Mia Couto

segunda-feira, 18 de junho de 2012

5| livrarias e bibliotecas no mundo

Hoje assinala-se o 2º aniversário da morte de José Saramago e a Fundação José Saramago abriu as suas portas no dia 13 de junho, na Casa dos Bicos, em Lisboa. Muitos têm sido os apaixonados e os curiosos, que têm visitado este espaço onde se respira Saramago! 

No primeiro piso, encontra-se a divisão da exposição onde se pode perder horas, por haver tanto para ler e observar. Nas paredes estão expostas as suas obras escritas, traduzidas em várias línguas, bem como livros que o autor traduziu. Confesso que foi das coisas que mais me fascinou. Percorrer aquelas paredes e (re)conhecer os seus livros em tantas e tantas línguas, com alguns títulos diferentes e em capas tão lindíssimas foi um momento bastante emotivo. Fotografias, documentos e escritos pessoais, material de trabalho (como a máquina de escrever e os óculos), vídeos e entrevistas são também possíveis encontrar aqui.

Já nos pisos seguintes tem-se acesso à livraria e à biblioteca, sendo que as prateleiras estão cheias de livros. Uma coisa é certa... Se não conseguirmos encontrar um livro de Saramago nas livrarias, aqui não teremos dificuldades em encontrá-lo! Nem em português, nem em outras línguas, principalmente em espanhol. 


Um lugar a (re)visitar sempre!





sexta-feira, 15 de junho de 2012

“Narrava histórias que viviam no seu poço de sonhos”

Não sabia nada sobre O Fabuloso Teatro do Gigante. O autor também me era desconhecido. No entanto, a sinopse aguçava-me a vontade para o ler e a capa era bastante inspiradora. Por isso foi assim que, em boa hora, arrisquei descobrir esta história com sabor a sonhos. 

David Machado é um jovem autor com uma capacidade de efabulação impressionante. O Fabuloso Teatro do Gigante é uma autêntica viagem ao mundo da imaginação, que me relembrou, por várias vezes, um filme maravilhoso e apaixonante de que tanto gosto, O Grande Peixe (Big Fish de Tim Burton). 

Neste seu primeiro romance, o autor conta-nos a história de uma povoação do norte de Portugal, a aldeia de Lagares. Isolada no meio das serras, esta aldeola do Minho seguia a sua rotina diária sem incidentes de maior até ao dia em que chegam a este lugarejo Thomas e Eunice. Ele um antilhano colossal de olhar profundo, cujo os habitantes apelidam de imediato de Gigante. Ela uma mulher pequena e franzina, com rosto de menina e de cabelos cor de fogo, que estava para dar à luz os gémeos Afonso e Leonor. 

Com a chegada do gigante e da professora primária, a vida em Lagares não mais voltou a ser a mesma… «A princípio a superstição do povo fez nascer uma certa suspeita em torno do gigante, porque havia quem afirmasse que ele não era real, que era um fantasma que tinha atravessado o oceano para vir penar na tristeza infinita das serras. Na verdade, a única coisa que parecia ligá-lo a este mundo era a mulher, cuja presença física se revelava tão intensa que ninguém duvidou que existia em carne e osso.» 

Vejo O Fabuloso Teatro do Gigante como uma história bonita, que nos vai permitindo entrar no inesgotável poço de sonhos de Thomas. E não quero adiantar muito mais, até porque a sinopse já revela o bastante. É um livro que fala do poder da imaginação e o efeito que ela causa na vida de qualquer um de nós. Basta que nos deixemos contagiar.

domingo, 10 de junho de 2012

"a minha vida pela estrada fora"

Sortelha, Sabugal

«- Queres dizer que vamos acabar como velhos vagabundos? 
- E por que não, pá? É claro que vamos, se quisermos, e tudo isso. Não há mal nenhum em acabar assim. Passas uma vida inteira sem interferires com os desejos dos outros, incluindo a classe dos políticos e dos ricos, e ninguém te chateia e tu fazes da tua vida aquilo que quiseres. 
Concordei com ele. Ele chegava às suas resoluções Tao do modo mais simples e directo. 
- Qual é a tua estrada, pá? A estrada dos tipos santos, a estrada dos tipos doidos, a estrada do arco-íris, a estrada do aquário, de qualquer estrada. É a estrada para toda a parte, para toda a gente.» 
Pela Estrada Fora, Jack Kerouac

segunda-feira, 4 de junho de 2012

“Nunca um monarca amou mais o seu povo”

«- Asseguro-vos que jamais existiu joia ou esplendor que eu tenha colocado à frente daquela que foi sempre, para mim, a maior de todas as riquezas: o vosso amor. 
A voz tremia-lhe: 
- Este reino pode já ter sido servido por um monarca melhor. Mas nunca, jamais houve nem haverá em Inglaterra um monarca que mais ame o seu povo. A câmara levantou-se em peso a aplaudir. Os deputados comentavam que fora o seu melhor discurso de sempre. O discurso áureo de Isabel I, ouvia-se entre as bancadas. Comovida, a rainha olhava-os, sem o saber, pela última vez.» 

Isabel I de Inglaterra e o seu médico português de Isabel Machado foi uma daquelas leituras de que gostei bastante. A dinastia Tudor e o reinado de Isabel I, em particular, fascinam-me, por isso à partida a obra já me suscitava curiosidade. Depois também engloba um período sensível de Portugal, a morte de D. Sebastião em Alcácer Quibir. Então a vontade em o ler era ainda maior. Com um concurso lançado pelo blogue Viajar pela Leitura, consegui a oportunidade de que precisava. Aproveito assim, para agradecer mais uma vez à Paula e à editora a esfera dos livros

O livro narra toda a vida de Isabel I. Desde jovem princesa, enquanto filha de Henrique VIII e de Ana Bolena (a rainha controversa que nunca foi vista com bons olhos na corte), passando pelas contrariedades que teve de ultrapassar para ascender ao trono como rainha de Inglaterra e tudo o que teve de batalhar durante o reinado até ao final da sua vida. E é neste contexto que nos é dado a conhecer aquele que viria a ser o seu médico pessoal, Rodrigo Lopes. Um judeu português, convertido ao catolicismo fora de portas, que decide rumar a Inglaterra com a nova era que se iniciava, por esta prometer um país mais tolerante. 

Gostei da forma como a autora caracteriza Isabel I. Revelando o seu lado de monarca, mas não esquecendo o seu lado enquanto mulher. Isabel foi uma mulher de fibra, que deu tudo pelo seu povo, em prol da sua vida privada. Era uma mulher brilhante, culta, dominadora, manipuladora, exímia e imprevisível, que soube conduzir sempre o seu reinado com firmeza e mestria. Não é por acaso que o seu reinado é considerado a época áurea da história de Inglaterra. Contudo, também foi uma mulher vaidosa, apaixonada, ciumenta, sensível, vulnerável, leal e humana, daí as suas incertezas e indecisões face às suas sentenças que ditavam o destino de vidas humanas. 


Considero ainda que foi bastante interessante cruzar o destino de Isabel I com o de Rodrigo Lopes. Penso que o romance ganhou outro fulgor, até porque é um facto não muito conhecido. Eu desconhecia e por isso achei deveras curiosa esta ligação de confiança e confidências. Depois toda a intriga palaciana, a que aquelas épocas eram tão suscetíveis, está também muito bem conseguida neste romance. Pode-se dizer que o desespero de Rodrigo Lopes tão bem retratado pela autora, representa de alguma forma os inocentes que tantas e tantas vezes são apanhados nas teias da conspiração e da traição e já não conseguem fugir à tortura e ao cadafalso. 


Isabel Machado é brilhante no seu livro de estreia, pois consegue agarrar o leitor logo no início do romance e este, já não se desprende mais até chegar ao fim. Gosto de romances históricos, mas escritos por autores portugueses não tenho lido muitos e por isso este surpreendeu-me pela narrativa despretensiosa e pela qualidade e cuidado na interligação entre os factos reais e os fictícios. Nota-se que houve um trabalho de pesquisa e de investigação, pois a sua capacidade em arrumar os acontecimentos no tempo e no espaço histórico é notável. Foi realmente um prazer ler esta obra!

sábado, 2 de junho de 2012

"traição"

traição, Fernando Madeira, Portugal*

Da minha aldeia vejo quando da terra se pode ver no Universo... 

Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer 
Porque eu sou do tamanho do que vejo 
E não do tamanho da minha altura... 

Nas cidades a vida é mais pequena 

Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro. 
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave, 
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu, 
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar, 
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver. 
O Guardador de Rebanhos, Alberto Caeiro
_________________________
* Trabalho vencedor (categoria adultos) na 2ª edição do Concurso Internacional de Banda Desenhada Avenida Marginal. A exposição oficial será no dia 17 de junho, no Palácio dos Aciprestes, Fundação Marquês de Pombal, em Oeiras.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

«Regresso à infância»

Smile Color, Carolina Farías, Argentina

«volto à infância: aos tambarinos

ácidos como os frutos
proibidos, aos cajus
polpudos,
às mangas vermelhas como o sol

aos filmes do Zorro
no São Domingos, à quitaba
e ao bombó assado,
enchendo de felicidade o
estômago

ao espadachim de mentira,
com improvisados floretes retirados
às construções, à
caçambula, atreza

[...]»
in Auto-retrato, João Melo

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