«- Asseguro-vos que jamais existiu joia ou esplendor que eu tenha colocado à frente daquela que foi sempre, para mim, a maior de todas as riquezas: o vosso amor.
A voz tremia-lhe:
- Este reino pode já ter sido servido por um monarca melhor. Mas nunca, jamais houve nem haverá em Inglaterra um monarca que mais ame o seu povo. A câmara levantou-se em peso a aplaudir. Os deputados comentavam que fora o seu melhor discurso de sempre. O discurso áureo de Isabel I, ouvia-se entre as bancadas. Comovida, a rainha olhava-os, sem o saber, pela última vez.»
Isabel I de Inglaterra e o seu médico português de Isabel Machado foi uma daquelas leituras de que gostei bastante. A dinastia Tudor e o reinado de Isabel I, em particular, fascinam-me, por isso à partida a obra já me suscitava curiosidade. Depois também engloba um período sensível de Portugal, a morte de D. Sebastião em Alcácer Quibir. Então a vontade em o ler era ainda maior. Com um concurso lançado pelo blogue Viajar pela Leitura, consegui a oportunidade de que precisava. Aproveito assim, para agradecer mais uma vez à Paula e à editora a esfera dos livros.
O livro narra toda a vida de Isabel I. Desde jovem princesa, enquanto filha de Henrique VIII e de Ana Bolena (a rainha controversa que nunca foi vista com bons olhos na corte), passando pelas contrariedades que teve de ultrapassar para ascender ao trono como rainha de Inglaterra e tudo o que teve de batalhar durante o reinado até ao final da sua vida. E é neste contexto que nos é dado a conhecer aquele que viria a ser o seu médico pessoal, Rodrigo Lopes. Um judeu português, convertido ao catolicismo fora de portas, que decide rumar a Inglaterra com a nova era que se iniciava, por esta prometer um país mais tolerante.
Gostei da forma como a autora caracteriza Isabel I. Revelando o seu lado de monarca, mas não esquecendo o seu lado enquanto mulher. Isabel foi uma mulher de fibra, que deu tudo pelo seu povo, em prol da sua vida privada. Era uma mulher brilhante, culta, dominadora, manipuladora, exímia e imprevisível, que soube conduzir sempre o seu reinado com firmeza e mestria. Não é por acaso que o seu reinado é considerado a época áurea da história de Inglaterra. Contudo, também foi uma mulher vaidosa, apaixonada, ciumenta, sensível, vulnerável, leal e humana, daí as suas incertezas e indecisões face às suas sentenças que ditavam o destino de vidas humanas.
Considero ainda que foi bastante interessante cruzar o destino de Isabel I com o de Rodrigo Lopes. Penso que o romance ganhou outro fulgor, até porque é um facto não muito conhecido. Eu desconhecia e por isso achei deveras curiosa esta ligação de confiança e confidências. Depois toda a intriga palaciana, a que aquelas épocas eram tão suscetíveis, está também muito bem conseguida neste romance. Pode-se dizer que o desespero de Rodrigo Lopes tão bem retratado pela autora, representa de alguma forma os inocentes que tantas e tantas vezes são apanhados nas teias da conspiração e da traição e já não conseguem fugir à tortura e ao cadafalso.
Isabel Machado é brilhante no seu livro de estreia, pois consegue agarrar o leitor logo no início do romance e este, já não se desprende mais até chegar ao fim. Gosto de romances históricos, mas escritos por autores portugueses não tenho lido muitos e por isso este surpreendeu-me pela narrativa despretensiosa e pela qualidade e cuidado na interligação entre os factos reais e os fictícios. Nota-se que houve um trabalho de pesquisa e de investigação, pois a sua capacidade em arrumar os acontecimentos no tempo e no espaço histórico é notável. Foi realmente um prazer ler esta obra!