«... qualquer branco nos podia levar por completo e por qualquer motivo que lhe passasse pela cabeça. Não apenas para nos pôr a trabalhar, matar, ou mutilar, mas também conspurcar. Conspurcar tanto que já não nos podemos amar. Conspurcar de tal modo que nos esquecíamos quem éramos e já não nos conseguíamos encontrar. E embora […] outros o tivessem vivido e ultrapassado, ela nunca poderia deixar que isso acontecesse aos seus filhos. O melhor de si eram os filhos. Os brancos podiam sujá-la, mas não ao que tinha de melhor, a melhor coisa bela e mágica - a parte dela que estava limpa.»
Depois de A Dádiva - um livro com sabor a delicada poesia e comovente em cada palavra - Beloved foi o livro escolhido para voltar a Toni Morrison. E poderia utilizar as mesmas palavras para descrever este Beloved, que nos confronta com uma dualidade de sentimentos. Vencedor do Prémio Pulitzer em 1988, a obra decorre no Ohio, no pós-Guerra da Secessão. Sethe é uma mulher que tem uma árvore nas costas e que vive atormentada pelo fantasma da primeira filha, Beloved. Denver é a filha mais nova e não tem medo da aparição. Ambas são as únicas residentes do 124; uma vez que Howard e Buglar decidiram fugir para a guerra aos treze anos, após a morte trágica da irmã e da morte da avó Baby Suggs, a única que tinha conhecido a liberdade. Uma liberdade comprada pelo seu filho Halle, marido de Sethe. Só que o 124 recebe uma visita e com a chegada de Paul D, os cenários assumem outros contornos. Este carrega consigo memórias dolorosas, que por sua vez acordam outras memórias cruéis em Sethe. Memórias que conduzem o leitor para o passado comum e para o passado de cada um deles.
Sethe e Paul D viveram em Sweet Home e nunca sentiram necessidade de fugir até ao dia em que Sweet Home começa a ser administrada por um mestre-escola. No dia da fuga, os seus caminhos tomam destinos diferentes e no dia da chegada de Paul D ao 124 da Bluestone Road, o legado da escravatura de ambos é revelado. As cicatrizes abrem-se. O fantasma de Beloved, que até aqui apenas deambulava pela casa, é expulso por Paul D. Dias mais tarde, o corpo desperta e espera à porta, pelos residentes do 124. A história começa assumir descrições dolorosas e tortuosas e a duplicidade de sentimentos surge. Como é que a monstruosidade dos acontecimentos e dos consequentes atos consegue redimir uma mãe? E quando tudo parece caminhar para a degradação, eis que a esperança renasce no 124!
Toni Morrison envolve o leitor nesta história cruelmente sofrida, criando “vida a partir da morte”. Não dá para parar de ler!
8 comentários:
ja peguei neste livro 2/3 vezes para o começar a ler e ainda não tive a força necessário para o ler..acabaste-me de dar a força suficiente para ser a minha próxima leitura.
Já ouvi falar muito bem da Dádiva. Beloved tenho cá em casa à espera de ser lido mas não sabia do que se tratava. Parece interessante.
Esse não tenho... Fiquei com vontade de o ler. Nunca li nada do autor. Vou ver se o consigo arranjar. :)
Como sei que gostaste de "A Dádiva", acredito que vás gostar também deste e até ainda mais, Menphis! :)
Landa é uma história forte, mas é tão bem escrita que te envolve de início ao fim.
Tu não tens este e eu não tenho o teu, N. Martins! Eheh Podemos sempre trocar. :) Desculpa a correção, mas Toni Morrison é uma escritora. ;) Acredito que vás gostar de o ler.
Parece-me interessante e um tema que me comove... Vamos ver, talvez para a feira do livro... :)
Beijocas!
Teté este é um daqueles que acredito que gostasses de ler. A D. Quixote tem uma edição bonita. ;)
Beijinhos
tonsdeazul: Sei mesmo pouco sobre a autora! :)
Não me parece má ideia trocarmos os livros. Quando estiveres com vontade de ler o do Mario Vargas Llosa, pede-mo. :)
Bom fim-de-semana!
Eu também não sei muito sobre a autora, mas sei que escreve bem.
N. Martins será um caso a considerar. ;)
Bom domingo para ti e boas leituras! Agora para além do interminável "David Copperfield" (que estou a gostar), estou a ler também "Belos e Malditos" de F. Scott Fitzgerald.
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