segunda-feira, 8 de novembro de 2010

"dois nomes e duas identidades"

As Fogueiras da Inquisição, de Ana Cristina Silva deixaram-me com a curiosidade de ler algo mais sobre a personagem histórica Grácia Nasi ou Beatriz de Luna, seu nome cristão.
O blogue Destante e a editora a esfera dos livros proporcionaram-me esta oportunidade, uma vez que fui a feliz contemplada do concurso que oferecia um exemplar do livro Grácia Nasi, de Esther Mucznik.

Nesta obra, Esther Mucznik fala-nos da vida de Grácia Nasi, a judia portuguesa que nasceu e viveu no século XVI; uma época trágica para os sefarditas e cristãos-novos. Estes viviam num clima de medo e insegurança, que os obrigava a fugir de um país para o outro, de modo a evitar a fogueira. Como eram constantemente perseguidos pela Inquisição ficavam impedidos de praticar livremente a sua fé, tendo que a esconder no seio das suas famílias e das suas casas.

Grácia Nasi nasceu em Lisboa no ano de 1510. Como a sua família foi obrigada a converter-se, Grácia Nasi foi baptizada de Beatriz de Luna. «Cristã por fora, judia de alma», Grácia Nasi «aprende a ser fiel à religião antiga» e mantém o desejo de encontrar a tranquilidade para assim poder professar a sua fé às claras. Em 1528 casa-se com Francisco Mendes, mas vê cedo o seu marido partir. Viúva aos vinte e seis anos, Beatriz de Luna é obrigada «a assumir a gestão da imensa fortuna familiar, tendo à partida uma dupla dificuldade: era mulher e cristã-nova.» Contudo, é esta fortuna que lhe salva e lhe permite ultrapassar diversas situações adversas.

«Não sabemos como era Grácia Nasi. Mas podemos imaginá-la de cabelo escuro, elegante, um pouco austera, de porte altivo e ricamente vestida, como convinha a uma mulher poderosa e afortunada. Uma mulher de olhar firme e decidido, um pouco místico também, como o rosto marcado pelo peso da responsabilidade de administrar um império e de chefiar uma família, numa das épocas mais conturbadas da história judaica.»

Com a morte de Francisco Mendes, Grácia Nasi tem de fugir de Portugal devido às constantes pressões, tanto da Igreja, como do Rei, que lhe cobiçavam a fortuna. Desta forma, empreende uma viagem pela Europa até alcançar o Império Otomano. Pelo caminho, estabelece-se em Antuérpia, Veneza, Ferrara e entre outros lugares onde continua a desenvolver «os negócios familiares baseados no comércio da pimenta e especiarias, mas também do açúcar, vinhos […], pérolas, gemas e pedras preciosas.» e a ajudar principalmente os judeus sujeitos às perseguições. Foi essa compaixão e solidariedade para com «os seus irmãos de infortúnio» que «teceram o outro fio condutor da sua vida.»

Nesta biografia, Esther Mucznik presta homenagem a uma «mulher que ousou desafiar o destino a que a sua condição de mulher e cristã-nova a condenava.»

5 comentários:

Unknown disse...

Esta mulher foi um verdadeiro símbolo de heroísmo, inteligência e humanidade. Uma pedrada no charco da nossa cionsciência como povo preconceituoso.
Somos um povo estúpido!
Tenho de ler o livro...

Teté disse...

Bom, pelos vistos é o continuar da história abordada nas "Fogueiras", mas de um ponto de vista mais biográfico e menos romanceado. O que não deixa de ser interessante... :)

Se o apanhar por aí, quem sabe se também o leio?

Beijocas!

N. Martins disse...

Tenho As Fogueiras da Inquisição na minha wishlist. Vai ser uma das próximas compras, de certeza. :)

cris disse...

já li As fogueiras e tenho A senhora, que é sobre Graça Nasi mas ainda não o li. Este deve ser optimo tb.
Não te queres tornar minha seguidora?
http://otempoentreosmeuslivros.blogspot.com
Boas leituras!

susemad disse...

Também pretendo ler esse, Cris!
Li algures que "As Fogueiras da Inquisição" é muito, mas muito parecido com "A Senhora", de Catherine Clément! Por isso quero confirmar até que ponto é igual! ;)
Eu visito o teu blogue, independentemente de estar inserida nos teus seguidores...
Espero que estejas a gostar de "O Claustro do Silêncio". A história no início custou-me a entrar, mas assim que entrou já não a consegui deixar de lado. Boas leituras!

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