quarta-feira, 23 de junho de 2010

"Música"

«como um raio a rasgar a vida, como uma flor
a florir desmedida, como uma cidade secreta
a levantar-se do chão, como água, como pão,

como um instante único da vida, como uma flor
a florir desmedida, como uma pétala dessa flor
a levantar-se do chão, como água, como pão,

assim nasceste no meu olhar, assim te vi,
flor a florir desmedida, instante único
a levantar-se do chão, a rasgar a vida,

assim nasceste no meu olhar, assim te amei,
vida, água, pão, raio a rasgar uma cidade secreta
a levantar-se do chão, flor a florir desmedida.»
in A Casa, a Escuridão, de José Luís Peixoto


domingo, 20 de junho de 2010

"carrega o silêncio de todo o mundo"

Caniçal, Madeira. Fotografia de Fernando

«Ninguém sabe quantas pessoas se silenciaram no mundo. As suas razões são tantas como os seus nomes. Entre elas há as que fizeram uma promessa santa e as que foram forçadas a usar mordaça. Algumas viram algo terrível, que de uma só vez arrancou todas suas suas palavras, e outras falaram tanto que acharam que não havia mais nada a dizer. Há silêncios que são desilusões e outros que são revoltas: escolhas sublimes e constrangimentos brutais, caprichos e maldições. Há silêncios que são prelúdios e silêncios que significam o fim. Uma coisa há em comum a todas estas pessoas: nem uma palavra sai por entre os seus lábios.»
«O Silêncio de Adriana» in Um Piano em Sesimbra, de Henrik Nilsson

sexta-feira, 18 de junho de 2010

«A Maior Flor do Mundo» para Saramago



Não mais conhecerei outro autor como José Saramago. O Nobel da Literatura faleceu hoje, aos 87 anos e Portugal ficou mais pobre. Eu fiquei mais pobre. Mais vazia. Sinto-me triste.
Foi com Memorial do Convento que tive o primeiro encontro com a sua escrita e depois de conhecer o amor de Baltasar e Blimunda, que amor igual jamais encontrarei em obra alguma, não mais pude deixar de ler as suas estórias.
Continuei com Todos os Nomes, onde Saramago deu-me a conhecer o Sr. José, um personagem muito peculiar que coleccionava nomes e outras obras se seguiram... O Evangelho Segundo Jesus Cristo, A Viagem do Elefante, A Maior Flor do Mundo, A Jangada de Pedra, Ensaio sobre a Cegueira, O Ano da Morte de Ricardo Reis e Caim foram livros que continuaram a fascinar-me e a surpreender-me com a sua extraordinária capacidade de contar histórias.
Sei que continuarei a descobrir as suas estórias de interrogação à História de Portugal e de inquietação e que estas ficarão guardadas no meu lado esquerdo do sentir.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Fonte Mouro

Perto da cidade de Beja existe uma horta chamada Fonte Mouro. Conta a lenda, que esta horta pertencia a um abastado mouro, Albutassém, que tinha uma formosa filha chamada Aldonça.
Albutassém era rico e avarento e a sua filha era bondosa e crente em Alá. Um dia Aldonça apaixonou-se por um jovem cristão, Atanásio.
O pai de Aldonça ficou contra este amor e por isso Atanásio, certo dia, montou o seu cavalo e fugiu com a sua amada. Mas Alá que sabe dos desígnios dos homens não podia permitir a fusão das duas crenças. Assim, com o seu poder divino não permitiu que o amor dos jovens amantes se consumasse e transformou Atanásio em serpente e Aldonça numa fonte de água cristalina, que dizem que ainda hoje corre.
Diz a lenda, que em noites de luar a serpente vai beber à fonte para assim matar saudades da sua bela amada.
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Fonte: A Etnografia e o Folclore no Baixo Alentejo, de Manuel Joaquim Delgado

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Oficina.galeria

No passado sábado, dia 12 de Junho, tive a oportunidade de estar presente na inauguração do estúdio de artes plásticas de Cila Pires e José Machado Pires.
A Oficina.galeria, que está localizada em Cercas de Vale Judeu (Loulé), é um espaço onde a cerâmica, a pintura, a tecelagem e a escultura se juntam em harmonia. Sendo que prima pela criatividade e originalidade de peças únicas e lindíssimas!
Aproveito para referir que gostei especialmente de algumas peças, sendo elas o tabuleiro de xadrez e os jarros "torcidos" (estas podem ser visualizadas em pormenor no blogue de José Machado Pires, à volta do forno).
As telas também foram outro ponto que me prenderam a atenção. Estas pinturas de rostos expressivos transportam vidas carregadas de histórias e sonhos.
A região algarvia conta com mais um excelente espaço de artes plásticas!

sábado, 12 de junho de 2010

Vereda da Ponta de São Lourenço

Percurso: Pedestre (PR 8 Vereda da Ponta de São Lourenço)
Localização: Baía d’Abra, Caniçal, Madeira
Distância aproximada: 8 km
Duração aproximada: 2h30
Grau de dificuldade: Médio, com algum declive

A vereda da Ponta de São Lourenço tem início na Estrada Regional 109, na Baía d'Abra (77 m) e termina neste mesmo local.
A título de curiosidade, refiro que este trilho tem o nome da caravela de João Gonçalves de Zarco, um dos três descobridores da ilha da Madeira, que ao aproximar-se deste local gritou à nau de seu comando “Ó São Lourenço, chega!”.

Esta península é de origem vulcânica e no seu seguimento encontram-se os ilhéus dos Desembarcadouros e da Ponta de São Lourenço.
É possível encontrar ao longo do percurso várias espécies de aves como o Corre-caminhos (Anthus bertheloti madeirensis), o Canário-da-terra (Serinus canaria canaria), o Francelho (Falco tinunculus) e entre outras espécies. A Lagartixa (Lacerta dugesii) também é muito abundante neste local.

No final do trilho temos a casa do Sardinha, local onde se encontra uma equipa de Vigilantes da Natureza, e o cais do Sardinha propício para desfrutar de uns bons mergulhos. Na linha do horizonte é ainda possível observar a Sul as ilhas Desertas e a Norte a ilha do Porto Santo.



terça-feira, 8 de junho de 2010

a presença da morte pelo toque das mãos

Tinha lido boas opiniões e comecei a leitura de O Físico, de Noah Gordon com as expectativas muito em alta e no final não me senti ludibriada com este primeiro livro de uma trilogia.

Rob Jeremy Cole ao tocar nas mãos de sua mãe soube que esta iria morrer. Quando o pai adoeceu, Rob evitava tocar-lhe nas mãos, mas quando um dia as tocou soube que restavam ao pai poucos dias de vida. Aos nove anos, Rob fica órfão e vê os seus irmãos, um a um, a serem entregues a diferentes famílias de acolhimento, até ao dia em que também ele consegue alguém para cuidar dele, Croft, o barbeiro-cirurgião. É como aprendiz do Barbeiro, que Rob deixa a cidade de Londres do século XI.

Numa carroça carregada, o Barbeiro e Rob deambulam de terra em terra divertindo com malabarismos, histórias e cenários de magia e vendendo aos seus pacientes o milagroso Específico Universal. Nesta época a bruxaria não era vista com bons olhos, nem tão pouco os físicos, os cirurgiões e os barbeiros, pois só a Trindade e os santos tinham o verdadeiro poder para curar. Eles evitavam confusões, pois temiam que os seus receituários pudessem ser considerados actos de bruxaria. Com o passar dos anos, Rob foi adquirindo mais experiência como aprendiz de barbeiro-cirurgião e ao chegar a cada localidade já tinha os seus próprios doentes, até ao dia em que o Barbeiro morre e Rob volta a estar sozinho.

O destino volta a colocar-lhe no destino o judeu Benjamin Merlin, que ele tinha conhecido em Tettenhall e que muito o tinha intrigado por este físico conseguir operar um cego de modo a devolver-lhe a visão. Fica então a saber que o físico Merlin tinha estudado na Pérsia, com o melhor físico do mundo, Abu Ali at-Husain ibn Abdullah ibn Sina. Rob estava disposto a tornar-se físico, pois sabia que tinha um dom, mas Merlin era judeu e não poderia ensinar a sua arte a um cristão. Determinado a saber mais que um simples barbeiro-cirurgião, Rob empreende uma longa jornada a caminho da Pérsia. Integra uma caravana, onde faz amizade com três judeus que lhe ensinam o persa e com quem aprende os seus hábitos. É também nesta longa viagem que fica a conhecer Mary Cullen, por quem se apaixona, mas que deixa para trás por a sua vontade em ser físico ser muito maior. Na última cidade cristã, Rob J. Cole deixa para trás a sua religião (mas não renuncia ao seu Deus) e o seu nome e parte para Ispahan como judeu. É como Jesse ben Benjamin que se apresenta na madrassa para iniciar a sua formação, mas é recusado e preso. No entanto, é-lhe concedido um calaat pelo Xá Alã e recebe um convite para se inscrever na madrassa e estudar medicina no maristan.
Ao longo dos seus estudos, é enviado para o meio da peste, reencontra Mary Cullen, vai para a guerra com o Xá Alã e nela perde o seu melhor amigo, Mirdin. Numa terra cheia de contradições, de radicalismos religiosos, de superstições e de violência Rob passa por imensas privações no seu longo empreendimento para alcançar o tão desejado conhecimento, para ser Hakim. Já como físico, regressa à sua cidade natal e aqui no Ocidente depara-se ainda com mais desconhecimento e ignorância do que no Oriente, mas «[o] outro sentido, a sensibilidade daquele que cura, nunca o abandonara. Quer o chamassem sozinho de noite para a beira de uma cama, quer se apressasse de manhã para o dispensário cheio de gente, sentia sempre a dor deles. Apressando-se a lutar contra ela, ele nunca deixou de sentir, tal como sentira desde o primeiro dia no maristan, um acesso de gratidão surpreendente por ter sido escolhido, por ter sido para ele que a mão de Deus se estendera e nela que tocara, e que tal oportunidade de guiar e de servir tivessem sido dadas ao aprendiz do Barbeiro.»

Uma extraordinária viagem pela Idade Média, que nos faz questionar o quanto a sociedade continua ignorante nos seus preconceitos e na sua intolerância religiosa. E que a medicina é mais do que um negócio, é antes uma vocação!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

"a criação - a arte - é o único antídoto contra a morte"

Ilustração de João Fazenda

«Um dia, alguém parecido comigo, encontrará as tuas pinturas.
Não as irá compreender, mas entenderá a força delas.
Escutará a voz delas.
Será a tua voz, pintor, que ele irá ouvir.
A tua voz falará a ouvidos novos.
A voz nunca morre.
Nunca.»
O Evangelho do Enforcado, de David Soares

quarta-feira, 2 de junho de 2010

«História Trágica Com Final Feliz»




«Há pessoas que são diferentes. E tudo o que desejam é serem iguais aos outros, misturarem-se deliciosamente na multidão. Há quem passe o resto da vida lutando para conseguir isso, negando ou tentando abafar essa diferença. Outros assumem-na e dessa forma elevam-se, conseguindo assim um lugar… no coração.»
História Trágica Com Final Feliz, de Regina Pessoa

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