terça-feira, 8 de junho de 2010

a presença da morte pelo toque das mãos

Tinha lido boas opiniões e comecei a leitura de O Físico, de Noah Gordon com as expectativas muito em alta e no final não me senti ludibriada com este primeiro livro de uma trilogia.

Rob Jeremy Cole ao tocar nas mãos de sua mãe soube que esta iria morrer. Quando o pai adoeceu, Rob evitava tocar-lhe nas mãos, mas quando um dia as tocou soube que restavam ao pai poucos dias de vida. Aos nove anos, Rob fica órfão e vê os seus irmãos, um a um, a serem entregues a diferentes famílias de acolhimento, até ao dia em que também ele consegue alguém para cuidar dele, Croft, o barbeiro-cirurgião. É como aprendiz do Barbeiro, que Rob deixa a cidade de Londres do século XI.

Numa carroça carregada, o Barbeiro e Rob deambulam de terra em terra divertindo com malabarismos, histórias e cenários de magia e vendendo aos seus pacientes o milagroso Específico Universal. Nesta época a bruxaria não era vista com bons olhos, nem tão pouco os físicos, os cirurgiões e os barbeiros, pois só a Trindade e os santos tinham o verdadeiro poder para curar. Eles evitavam confusões, pois temiam que os seus receituários pudessem ser considerados actos de bruxaria. Com o passar dos anos, Rob foi adquirindo mais experiência como aprendiz de barbeiro-cirurgião e ao chegar a cada localidade já tinha os seus próprios doentes, até ao dia em que o Barbeiro morre e Rob volta a estar sozinho.

O destino volta a colocar-lhe no destino o judeu Benjamin Merlin, que ele tinha conhecido em Tettenhall e que muito o tinha intrigado por este físico conseguir operar um cego de modo a devolver-lhe a visão. Fica então a saber que o físico Merlin tinha estudado na Pérsia, com o melhor físico do mundo, Abu Ali at-Husain ibn Abdullah ibn Sina. Rob estava disposto a tornar-se físico, pois sabia que tinha um dom, mas Merlin era judeu e não poderia ensinar a sua arte a um cristão. Determinado a saber mais que um simples barbeiro-cirurgião, Rob empreende uma longa jornada a caminho da Pérsia. Integra uma caravana, onde faz amizade com três judeus que lhe ensinam o persa e com quem aprende os seus hábitos. É também nesta longa viagem que fica a conhecer Mary Cullen, por quem se apaixona, mas que deixa para trás por a sua vontade em ser físico ser muito maior. Na última cidade cristã, Rob J. Cole deixa para trás a sua religião (mas não renuncia ao seu Deus) e o seu nome e parte para Ispahan como judeu. É como Jesse ben Benjamin que se apresenta na madrassa para iniciar a sua formação, mas é recusado e preso. No entanto, é-lhe concedido um calaat pelo Xá Alã e recebe um convite para se inscrever na madrassa e estudar medicina no maristan.
Ao longo dos seus estudos, é enviado para o meio da peste, reencontra Mary Cullen, vai para a guerra com o Xá Alã e nela perde o seu melhor amigo, Mirdin. Numa terra cheia de contradições, de radicalismos religiosos, de superstições e de violência Rob passa por imensas privações no seu longo empreendimento para alcançar o tão desejado conhecimento, para ser Hakim. Já como físico, regressa à sua cidade natal e aqui no Ocidente depara-se ainda com mais desconhecimento e ignorância do que no Oriente, mas «[o] outro sentido, a sensibilidade daquele que cura, nunca o abandonara. Quer o chamassem sozinho de noite para a beira de uma cama, quer se apressasse de manhã para o dispensário cheio de gente, sentia sempre a dor deles. Apressando-se a lutar contra ela, ele nunca deixou de sentir, tal como sentira desde o primeiro dia no maristan, um acesso de gratidão surpreendente por ter sido escolhido, por ter sido para ele que a mão de Deus se estendera e nela que tocara, e que tal oportunidade de guiar e de servir tivessem sido dadas ao aprendiz do Barbeiro.»

Uma extraordinária viagem pela Idade Média, que nos faz questionar o quanto a sociedade continua ignorante nos seus preconceitos e na sua intolerância religiosa. E que a medicina é mais do que um negócio, é antes uma vocação!

6 comentários:

N. Martins disse...

Tenho esse e o Rabi, do mesmo autor, aqui em casa para ler. Também li muito boas críticas ao livro e por isso as expectativas estão altas. Acho que é por isso que ainda não peguei nele... :)

Teté disse...

Já te tinha dito que me parece muito interessante, mas por enquanto estou fora de trilogias. Depois do Stieg Larsson, mais de 1800 páginas volvidas, tenho de avançar para livros mais maneirinhos.

Mas fica a dica!

Beijinhos!

Paula disse...

Esta é a segunda opinião que
me deixa curiosa com este livro.
Tenho-o aqui em casa, mas a lista para ler é enormeeeeeeee!!!!!!!
Beijinhos

susemad disse...

Pois acredito que as vossas listas sejam tão extensas e intermináveis como a minha! :) De qualquer das maneiras acredito que quando começarem a ler esta obra só vão querer parar no fim.
Apesar de ser uma trilogia, a história termina sem dar a presença de uma continuação ao leitor, mas mesmo assim sabendo eu que é uma trilogia tenho imensa curiosidade de procurar os outros dois pelas livrarias. Entretanto, enquanto isso não acontece, vou tentando descer a minha pilha de livros não lidos. :)
Boas leituras!

Guerreiro disse...

Olá :)
Li este livro em 2004 e gostei muito! Ainda me recordo bem da história em geral, sobre este médico Rob que teve fingir que era judeu para chegar à Medicina, pois aos catolicos nessa altura não era permitido... Muito bom, emocionante até, porque o Rob conseguiu chegar longe, não foi?!
Não sabia da trilogia, fiquei surpreendido! Vou ver se encontro esses livros na livraria!
Beijinhos

susemad disse...

Olá Livrólico
Sim este é sem dúvida um livro muito bem escrito, com uma excelente história de vida!
Eu também ando à procura dos dois que faltam, pois tenho curiosidade em saber como termina esta saga da família Cole. Vou aproveitar agora as feiras do livro dos algarves para ver se os encontro e claro a um preço mais acessível! ;)

Pinturas populares (últimos 30 dias)