quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Olhar 5: "O tempo de um olhar"

Tento andar e os meus pés, presos na areia,
Acabam de estagnar a vã coragem
De ir em frente. A ferida que me enleia
Arde-me e faz-me pensar na viragem.
"Não penses! É o caminho quem falseia…"
"…cada olhar, no deserto, é uma miragem."

Acordo. Em toda a noite tem chovido
Como se o amanhã, numa torrente,
Se deixasse levar.

"Tempo cumprido
É todo o que carece de presente,
Que encontras mas permanece perdido.
Ele dói... mas cicatriza e não mente!
Deixa de magoar

quando polido
E é então que segue em rumo ascendente."
Ilusão. Todo o meu tempo é tingido
Por cada olhar que o pinta, reverente.

Falo do tempo como se a grandeza
Que o compõe fosse mais que um só olhar!
Resta-me, da desordem, a certeza
Que é neste em quem mais posso acreditar.
"… serás, quando adormeceres, leveza
Do quanto, um dia, olhaste sem pensar..."

______________________
Autor: Carteiro
Blogue: http://selosdifusos.blogspot.com/

3 comentários:

Anónimo disse...

Uau

Rogeriomad disse...

Penso que este autor tem uma veia poética muito boa, mas, ao mesmo tempo, penso que ele perdeu-se com olhares que o cegaram...

Confesso que tive que ler mais de três vezes... das quais uma das leituras foi feita muito pausadamente...
É de difícil interpretação e acho que não consigo interpretá-lo...
Aliás, nunca serei capaz...

Mas está bom.

Anónimo disse...

Pés inseguros que caminham e que ouvem sábios pensamentos. Sim "cada olhar, no deserto, é uma miragam."
Caminham e caminham e continuam perdidos, no tempo que tinge o seu olhar de ilusões...
E no seu caos encontra as suas certezas e escuta os seus pensamentos que lhe garantem a "leveza" ao adormecer...

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