quinta-feira, 26 de abril de 2012

“sinto este meu degredo apenas como um sofrimento”

No Coração Desta Terra de J. M. Coetzee foi o livro selecionado para voltar ao autor depois de Desgraça. Aproveitei, mais uma vez, a oportunidade da revista Sábado e se o primeiro tinha-me surpreendido, o segundo deixou-me desarmada. O autor é cru e intenso nas suas palavras, que não são nada fáceis de digerir. 

Fiquei deveras agarrada à personagem principal, que nos conta a história em jeito de Diário e que só ficamos a saber o seu nome mais para o final da obra. Magda é uma mulher que pensa em si como «uma mulher de palha, um espantalho mal amanhado, com uma carantonha pintada para assustar os corvos e, no meio do corpo, um buraco, onde os ratos do campo se podiam anichar, se fossem espertos.» Para além de ser uma «criatura tão miseravelmente só, para já não dizer tão velha e tão feia», que anda no mundo «como um buraco, um buraco com um corpo à volta, com duas pernas escanzeladas a bambolear no fundo, dois braços ossudos a abanar dos lados e uma cabeçorra a balançar lá em cima.» Assim, conhecemos Magda, no seu íntimo - por vezes uma mulher, por vezes uma menina - pelos seus desejos, frustrações, pensamentos, confissões e alucinações descritos ao longo das 266 notas de um quase monólogo, obsessivo e magistral. 

Magda vive no deserto, numa fazenda longínqua da África do Sul, com o pai, baas Johannes, um homem duro e distante. Os criados, a velha Anna, Jakob, Hendrik e a sua mulher Klein-Anna também lá vivem. Mesmo não vivendo só é como sempre tivesse vivido. E termina realmente só, num lugar árido, agreste, que só serve para bichos e insetos, como ela - «um escaravelho preto, enfezado com asas inúteis, que não põe ovos e brilha ao sol, um autêntico enigma para a entomologia.» As suas palavras, por vezes de raiva tolhida, são de uma solidão profunda, de alguém que não quer ser um dos esquecidos e que não será com certeza aos olhos de quem a lê! 

Neste seu primeiro livro, Coetzee deixa já a marca do que são muitas das suas obras. Muito embora ainda só tenha lido duas, estas são muito idênticas na imagem seca, dura e violenta que o autor nos passa. Os seus personagens vivem prisioneiros e tentam manter-se vivos, numa sociedade onde foram aniquiladas as relações humanas e até as esperanças.
No Coração Desta Terra é mais um daqueles livros que não nos deixa indiferentes, que nos provoca imensas sensações, tanto de amor, como de ódio; como de raiva, repulsa, tristeza e dor. 

Do autor quero ainda ler O Homem Lento, Diário de um Mau Ano e talvez Verão. Quem já os tiver lido, aceitam-se opiniões e/ou sugestões de algum outro.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

"Será que sentem quando os seus livros são lidos?"

The Library, Simone Joslyn Kesterton, Reino Unido/Polónia

«As pessoas desaparecem quando morrem. A sua voz, o seu riso, o calor do seu bafo. A sua carne. Finalmente os seus ossos. Cessa toda a memória viva deles. E isso é simultaneamente terrível e natural. No entanto, para alguns, há uma excepção a esse aniquilamento. Porque continuam a existir nos livros que escreveram. Poderemos redescobri-los. O seu humor, o seu tom de voz, o seu temperamento. Através da palavra escrita, eles podem encolerizar-nos ou fazer-nos felizes. Podem confortar-nos. Podem confundir-nos. Podem modificar-nos. E tudo isso, apesar de estarem mortos. Como moscas em âmbar, os seus corpos petrificados no gelo, aquilo que segundo as leis da natureza deveria fenecer, é preservado pelo milagre da tinta no papel. É uma espécie de magia.»
O Décimo Terceiro Conto, Diane Setterfield

domingo, 15 de abril de 2012

“A luta dela era a sua luta”

Não gosto de ler livros após ter tido a oportunidade de conhecer a história no grande écran. O Fiel Jardineiro de John Le Carré foi a primeira exceção. 

A história de O Fiel Jardineiro passa-se maioritariamente em África. Nairobi é a cidade do Quénia para onde o diplomata britânico Justin Quayle foi destacado. Este é casado com Tessa, uma jovem ativista de organizações humanitárias. E tudo começa com a chegada de uma notícia trágica à Alta Comissão Britânica em Nairobi. Tessa Quayle tinha sido brutalmente assassinada juntamente com o médico que sempre a acompanhava nas campanhas, Dr. Arnold Bluhm. 

O caso começa a ser investigado e no decorrer das averiguações os factos apontam para a existência de um romance entre o Dr. Bluhm e Tessa. Era bem verdade, que Justin sempre esteve alheado das ações de Tessa, pois as suas preocupações eram outras. As flores. Só que a morte de Tessa parece estar envolvida em grandes mistérios, por isso Justin Quayle decide iniciar uma investigação por si próprio. 

Quando Justin começa a percorrer todo o caminho trilhado pela sua mulher, descobre o quão enorme é a conspiração internacional de corrupção, pela qual Tessa lutava ferverosamente, mesmo pondo em risco a sua vida. A luta dela passa então a ser a sua luta! A morte de Wanza, uma queniana com quem Tessa partilhou quarto no hospital, e o suposto remédio milagroso contra a turbeculose, Dypraxa, são os fios condutores que levam Justin até à rede dos gigantes envolvidos: governos e multinacionais farmacêuticas. 

«Quando se pensa nisso, tudo se torna evidente. Antes não se podia prever. O que faz um gigante quando quer uma chave? Diz aos anõezinhos que descubram a marca do cofre, depois telefona ao gigante que fabricou a chave e pede-lhe para dizer aos seus anõezinhos que façam outra chave. No mundo dos gigantes, é perfeitamente normal.» 

Já fazia algum tempo que não lia uma história de intriga e espionagem tão envolvente! Muito embora eu tivesse gostado imenso do filme e soubesse à partida que o livro não iria dececionar. 

John Le Carré já viu muitas suas obras chegarem à sétima arte e O Fiel Jardineiro foi mais uma delas. Este excelente thriller foi adaptado para cinema pelas mãos de Fernando Meirelles, sendo que Ralph Fiennes (Justin Quayle) e Rachel Weisz (Tessa) interpretaram os principais papeis.

 

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Trilho de Idanha-a-Velha

Percurso: Pedestre 
Localização: Idanha-a-Velha, Idanha-a-Nova
Distância aproximada: 1,5 km 
Duração aproximada: 1 hora
Grau de dificuldade: Baixo

Depois de uma noite de descanso em Idanha-a-Nova, partimos em direção ao próximo destino, Idanha-a-Velha. Neste lugar o silêncio era rei. Enquanto por aqui andamos, só se ouvia o barulho dos passos dos turistas, que como nós exploravam a aldeia. Não fosse uma senhora na apanha da azeitona, a roupa pendurada nos estendais e os gatos estendidos ao sol, podia até ser uma daquelas aldeias abandonadas. 

O percurso para conhecer esta aldeia é bastante fácil, até porque aqui não há altos e baixos. Começamos pela porta norte, onde se encontra uma escadaria que permite subir a uma plataforma sobre as muralhas e ter acesso a uma vista panorâmica sobre Idanha-a-Velha e arredores. Depois seguimos caminho pelas ruas da aldeia onde encontramos a Igreja de Santa Maria (Sé Catedral), o Lagar de Varas, o Pelourinho, a Torre dos Templários e os Palheiros de S. Dâmaso . 

Depois de percorrer a aldeia ainda atravessamos a Ponte Romana e como o tempo estava quente, fomos até à margem do rio Ponsul para r
efrescar e relaxar.

Próxima paragem: Monsanto





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