ilustração: Anoni Moss
«Sete anos, sete imensos anos, iam passados desde que o raio fulgente de Júpiter fendera a sua nave de alta proa vermelha, e ele, agarrado ao mastro e à carena, trambolhara na braveza mugidora das espumas sombrias, durante nove dias, durante nove noites, até que boiara em águas mais calmas, e tocara as areias daquela ilha onde Calipso, a deusa radiosa, o recolhera e o amara!
[…]
[…]
Ulisses recuou, com um brado magnífico:
- Oh deusa, o irreparável e supremo mal está na tua perfeição!
E, através da vaga, fugiu, trepou sofregamente à jangada, soltou a vela, fendeu o mar, partiu para os trabalhos, para as tormentas, para as misérias – para a delícia das coisas imperfeitas!»
- Oh deusa, o irreparável e supremo mal está na tua perfeição!
E, através da vaga, fugiu, trepou sofregamente à jangada, soltou a vela, fendeu o mar, partiu para os trabalhos, para as tormentas, para as misérias – para a delícia das coisas imperfeitas!»
«A Perfeição», in Contos, de Eça de Queirós
4 comentários:
Este texto de Eça é fantástico: o desejo das coisas imperfeitas. O ser humano procura a perfeição para ser feliz e se sentir realizado, no entanto é no equilíbrio entre a imperfeição e a perfeição que reside o nosso bem estar.
Recomendo a leitura deste pequeno conto maravilhoso...
Já li há muitos anos, mas é sempre bom recordar Eça...
Beijocas!
Sim, fantástico. Já o li há muitos anos.
Já peguei neste livro (Contos)tantas vezes na perspectiva de professora que muitas vezes penso que o "leio" ou olho para ele de uma forma automática...preciso fazer uma pausa e desligar do "modo profissional"! :)
Bjs!
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