«Despertou-se um diálogo, preciso e apático, entre um rapaz de óculos e uma rapariga que infelizmente não os tinha.
“É o pêndulo de Foucault”, disse ele. “A primeira experiência na oficina em 1851, depois no Observatoire, e a seguir sob a cúpula do Panthéon, com um fio de sessenta e sete metros e uma esfera de vinte e oito quilos. Por fim, desde 1855 está aqui, em formato reduzido, pendendo daquele buraco, no meio do cruzeiro.”
“E para que serve, está suspenso e mais nada?”
“Demonstra a rotação da Terra. Como o ponto de suspensão permanece imóvel…”
“Permanece imóvel porquê?”
“Porque um ponto… como hei-de dizer?… no seu ponto central, repara bem, todo o ponto que estiver precisamente no meio dos pontos que tu vês, bem, esse ponto – o ponto geométrico – tu não o vês, não tem dimensões, e o que não tiver dimensões não pode ir nem para a direita nem para a esquerda, nem para cima nem para baixo. Portanto não gira. Percebes? Se o ponto não tiver dimensões, nem sequer pode girar à volta de si mesmo. Nem sequer se tem a si próprio…”
“Nem mesmo se a Terra gira?”
“A Terra gira mas o ponto não gira. Se te basta é assim, se não, vai-te lixar, está bem?”»
O Pêndulo de Foucault, de Umberto Eco