Dois meses, meu pai.
Achei que não te iria escrever desta vez. Que a vida seguia e eu seguia com ela. Mas, aqui estou.
Sempre te tratei por você e agora trato-te por tu, meu pai. Espero que não me leves a mal esta irreverência.
Hoje trago-te esta fotografia do teu neto a apanhar as tuas laranjas. Tu gostavas de lhe pôr o escadote para ele subir, mas achavas sempre que não seria muito seguro para ele. Na verdade, nem para tu subires aquele escadote velho era seguro. Mas tu subias e enquanto subias o teu neto cruzava os braços de tão zangado e amuava. E quando tu descias, ele subia todo contente e atirava-se às laranjas para tu apanhares. Mas tu em tom sério dizias "- Sai daí rapaz que ainda cais daí de cima." E ele cantarolava e não ligava ao que tu lhe dizias. "- Não caio não, avô."
Nunca foste de muitas conversas e o teu silêncio sempre ditou um certo distanciamento entre nós. Foste pai de outros tempos, mas eras um avô preocupado. Nunca te disse, mas gostava de te ver com o teu neto. Eras diferente. Tinhas um cuidado especial para com ele e isso notava-se no teu olhar.
Sabes, temos ido lá a casa às tuas laranjas. Sempre que as descasco a vida segue e eu sigo com ela.
#sobreaperda #luto #vidaemorte
2 comentários:
Bonito.
E é assim mesmo: a vida tem que seguir.O tempo ajudará.
Beijinhos:))
Há dias melhores que outros, mas sim Isabel não há como não seguir. A escrita tem ajudado a exteriorizar os sentires.
Beijinho
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