Em a História de Roma, a escrita de Joana Bértholo é bastante envolvente e introspectiva. Daí que revi-me em vários momentos da história: na cultura do mate, no amor, nos programas de mobilidade, no cenário de Buenos Aires, nas viagens, na pressão da idade, no ser ou não ser mãe, nas questões que surgem daí, na morte.
Lisboa, dez anos depois. No lugar âncora, dá-se o reencontro com o antigo amor. Este vem desmoronar as certezas da jovem Joana, a personagem. Em dez dias, juntos percorrem Lisboa e redondezas, lembrando o início e as entrelinhas, mas as memórias de ambos não se encontram.
A memória regressa então a Buenos Aires, ao início. Surgem os porquês, as dúvidas. As entrelinhas do depois são reconstruídas na lembrança das inúmeras viagens de Joana à procura dele por Berlim, Marselha, Beirute sendo também essas viagens uma busca de si própria. E nessas histórias que vão percorrendo dentro da história vão evocando também o momento que poderia ter mudado o rumo da sua história de amor.
Para além de uma história de amor, a autora coloca-nos perante uma mulher, que pode ser várias mulheres e não aquilo que a sociedade está à espera que ela seja. É livre e não tem de estar aprisionada às convenções ou preconceitos, pode questionar a maternidade, porque esta também pode ser uma não opção. É de uma geração do mundo, a "primeira que democratizou a viagem por lazer e não por exílio", que vive em constante mobilidade e que pode-se apaixonar em várias línguas.
Esta é uma história sobre pessoas que são lugares, daí que termina-se questionando a certeza ou incerteza do nosso lugar.
De notar que apesar desta ser uma história ficcionada, esta podia bem ser a história da Joana autora. No entanto, as diferentes geografias narradas são cidades por onde a autora também passou e experienciou, o que não deixa então de ser biográfico.
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