Já há algum tempo que tinha alguma curiosidade em ler Campaniço. Daí que o empréstimo de Velhos Lobos por parte de uma amiga foi a desculpa perfeita para descobrir a sua escrita.
Posso dizer que foi uma boa surpresa. Neste Velhos Lobos, a escrita de Carlos Campaniço revelou-se muito visual. O autor pinta com envolvência a ruralidade, a dureza da terra, o sol escaldante e a pobreza de um Alentejo de outros tempos. Quase que conseguimos cheirar os aromas suaves, fortes e desagradáveis; sentir os ciúmes, os amores e as fatalidades; visualizar as mezinhas, rezas e bruxarias.
O ódio alimenta durante anos duas famílias. Os Lobo, onde Francisco d' Almeida Lobo é dono e senhor da propriedade Monte do Azinhal, "imaginada como a maior de toda a planície", e os Velho, que vivem no Montinho, mas em que Maria Barnabé e Jacinto Velho nem donos da terra são, pois o pai deste deixou-lhe como herança "coisa nenhuma". Eles e seus filhos vivem na pobreza extrema e carregam as desgraças da vida.
Sebastião, a quem o médico disse a Maria Barnabé, sua mãe, que tinha um pequeno atraso, é quem nos conta a história através das suas memórias.
Assim, capítulo a capítulo vamos acompanhando as agruras e as disputas familiares destas duas famílias que isoladas da aldeia vivem na sua própria solidão.
Vivem uma solidão imposta pela lida da terra e os afazeres diários, que os mata e os leva, por vezes, também para a loucura.
Apercebemo-nos que apesar das suas diferenças sociais e de riqueza, ambas têm fins muito semelhantes.
Quero destacar o antagónico Jacinto Velho, que é o único que resiste à modernidade dos tempos e que vive bem consigo próprio e com a sua solidão. E a destemida Maria Barnabé, uma mulher mística, que representa o imaginário coletivo do saber feminino, das mezinhas, da reza, do poder e capacidade administrativa da casa. Sem dúvida duas personagens marcantes.
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