«Nada garante que Kublai Kan acredite em tudo o que diz Marco Polo ao descrever-lhe as cidades que visitou nas suas missões, mas a verdade é que o imperador dos tártaros continua a ouvir o jovem veneziano com maior atenção e curiosidade que a qualquer outro enviado seu ou explorador.»
«E já o Grão Kan folheava no seu atlas os mapas das cidades que nos ameaçam nos pesadelos e nas maldições: Enoch, Babilónia, Yahoo, Butua, Brave, New World.
Diz: - Tudo é inútil, se o último local de desembarque tiver de ser a cidade infernal, e é lá no fundo que, numa espiral cada vez mais apertada, nos chupar a corrente.
E Polo: - O inferno dos vivos não é uma coisa que virá a existir; se houver um, é o que já está aqui, o inferno que habitamos todos os dias, que nós formamos ao estarmos juntos. Há dois modos para não o sofrermos. O primeiro torna-se fácil para muita gente: aceitar o inferno e fazer parte dele a ponto de já não o vermos. O segundo é arriscado e exige uma atenção e uma aprendizagem contínuas: tentar e saber reconhecer, no meio do inferno, quem e o que não é inferno, e fazê-lo viver, e dar-lhe lugar.»
As Cidades Invisíveis, de Italo Calvino
______________Ilustrações: Ciudad del Arco Iris, Ciudad de los Vientos, Ciudad en las Nubes, Ciudad de las flores, Ciudad de la Música e Ciudades Eclipsadas.
2 comentários:
É o livro que estou a ler agora, é extraordinário!!!
Boas festas
As ilustrações são lindíssimas!
O texto em si fez-me lembrar uma conversa que tive, a propósito do comentário televisivo do Tio Marcelo - não há nada a fazer, perante as injustiças? Claro que há! Essa de encolher os ombros e habituarmo-nos ao "inferno" como se não houvesse alternativa é uma falsa ideia... :p
Beijocas!
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