terça-feira, 20 de julho de 2010

"a gente devia só ouvir a gente"

«Um personagem levantou-se e disse. Isto é uma história. E eu disse. Sim. É uma história. Por isso podem ficar tranquilos nos seus postos. A todos atribuirei os eventos previstos, sem que nada sobrevenha de definitivamente grave. Outro ainda disse. E falamos todos ao mesmo tempo. E eu disse. Seria bom para que ficasse bem claro o desentendimento. Mas será mais eloquente. Para os que crêem nas palavras. Que se entenda o que cada um diz. Entrem devagar. Enquanto um pensa, fala e se move, aguardem os outros a sua vez. O breve tempo de uma demonstração.»
O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge

6 comentários:

N. Martins disse...

Gostaste do livro? A única coisa que li da Lídia Jorge foi o O Vento Assobiando nas Gruas. Gostei mas nada que me entusiasmasse muito. :)

susemad disse...

Olá N. Martins,
Este é o segundo livro que li da autora. O primeiro foi "A Costa dos Murmúrios". que passa-se em África, durante a Guerra Colonial.
"O Dia dos Prodígios" é uma metáfora ao país que era Portugal no tempo da ditadura, fechado sobre si mesmo e completamente parado. O povo de Vilamaninhos (aldeia onde se passa a história) vivia isolado na sua vida e não se apercebeu do momento histórico que foi o 25 de Abril e o que os soldados da Revolução trouxeram para o país nesse dia.
Lídia Jorge tem uma escrita peculiar, que nem sempre é de fácil leitura. É necessária uma maior concentração e adaptação à sua forma linguística. Mesmo assim posso dizer que gostei de ambos os livros. Mais deste último até. :)

N. Martins disse...

Do que me lembro, achei a forma como ela contou a história confusa. Mas lembro-me que até gostei, mas nunca mais li nada dela. A premissa do "O Dia dos Prodígios" parece-me bem interessante. Talvez o compre, numa próxima oportunidade. :)

susemad disse...

Os dois livros que li da autora também me transmitiram essa sensação de confusão! Sempre que parava e depois voltava à leitura tinha que ler alguns parágrafos anteriores para me conseguir situar. Coisa que com outros autores nunca me acontece.
Lídia Jorge tem um estilo muito próprio e este "O Dia dos Prodígios" prima por a autora usar muito o discurso oral, reproduzindo neste caso o sotaque algarvio. Achei bastante interessante e tal como já referi gostei mais desta história.
Este que tenho faz parte daquela colecção da revista Visão, "Autores Lusófonos". :)

ematejoca disse...

Embora a Lídia Jorge seja uma romancista, contista e dramaturga, com uma das obras mais apreciadas, premiadas e traduzidas da novelística portuguesa actual, nunca li nada dela!!!

susemad disse...

Ematejoca, olá
Só li os dois que refiro e da vasta obras dela não sei se haverá mais algum que possa vir a ler, pois estes eram mesmo aqueles que pretendia ler. Mas nunca se sabe...

A Teté e eu ainda aguardamos que nos fales algo mais sobre o escritor alemão que muito aprecias, Robert Walser. ;)

Beijinhos

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