"Lucrei porque sou um entre milhares, dez milhões e tal, que melhoraram as suas vidas passando a viver em liberdade."
Com "Os Memoráveis" regresso à oralidade e à escrita tão própria da autora de "A Costa dos Murmúrios" e "O dia dos Prodígios". Pois com "Misericórdia" tinha esquecido o quão desafiante pode ser a escrita de Lídia Jorge.
Entro em 2004. Vive-se os 30 anos da Revolução dos Cravos. Nos EUA, a repórter Ana Maria, uma filha de Abril, é convidada para fazer um documentário para a CBS sobre a Revolução de 74: "A História Acordada". Sobre a derradeira noite de 24 para 25 de abril. Aceite o desafio, Ana Maria regressa a Portugal e juntamente com dois antigos colegas passam à ação. Desenrolam-se uma série de entrevistas com os diferentes intervenientes do golpe de Estado, revisitam-se vários lugares e assim, ao longo dos capítulos a História passada vai-se construindo.
Paralelamente, a história pessoal de Ana Maria com o pai António Machado cruza-se com a dos heróis. Ao longo dos capítulos vamos acompanhando os silêncios e as parcas conversas entre eles.
O enredo pode parecer simples, mas a escrita de Lídia Jorge exige uma leitura mais lenta, concentração e foco. Perdi-me por vezes e também não consegui reconhecer todos os protagonistas da História. Tive de voltar atrás e recomeçar.
A autora procurou o olhar da minha geração. A que não viveu a euforia do 25 de abril, mas que graças a ele pôde viver em liberdade, com todas as suas alegrias, consequências e desilusões.
Pois há os que abdicaram da história e os heróicos que no presente foram esquecidos.
"Que feliz mesmo seria o dia em que todos pudessem esquecer que eles foram necessários, e até que existiram. O meu marido era assim, desprendido. Um herói da retirada, o meu marido."
Mas há que não deixar esquecer. ❤️
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