quinta-feira, 7 de novembro de 2024

"o luto não é um problema a resolver"


Não me identifico com livros de autoajuda, mas há uns meses uma amiga emprestou-me este livro de Megan Devine, "Está tudo bem não estar tudo bem".  Agradeci-lhe e disse para mim mesma: - Porque não?

Nas primeiras semanas fui avançado nos capítulos, mas depois fiquei meses sem lhe pegar. Ficou esquecido na mesa de cabeceira. 

Entretanto voltei a ele vagarosamente e terminei-o. Confirmei que realmente não me identifico com livros deste género. No entanto, a autora foca pontos relevantes, como: o facto das palavras de consolo, por vezes serem tudo menos palavras de consolo; a pressão externa para que o enlutado volte depressa ao normal; a iliteracia emocional e cultura da culpa; o caminho ser extremamente solitário.

A vivência do luto é uma contínua travessia num deserto sem fim. Porque a realidade do luto é difícil e dolorosa e pouco ou nada se fala dela. Há uma cultura em apagar e silenciar o que devia ser falado. A dor de quem fica é minimizada, porque outros também já passaram por isso e não há nada de novo. É a vida! Daí que o luto é um caminho de solidão. Não há preparação e não, não se volta ao normal. Porque não há reparação para o irreparável, porque "o luto não é um problema a resolver" e porque o sofrimento surge em dias banais, como quem escuta: "- Já devias ter ultrapassado isso!"

Não há quem nos ampare a queda constante ao longo dos meses ou anos seguintes. Porque ninguém vai viver, sentir ou enfrentar a dor por nós. 

Contudo, do outro lado há o amor, que nos sustém ao de cima, que nos liberta e dá um sentido ao caminho.

#sobreaperda #dizeradeus #luto #vidaemorte

sábado, 2 de novembro de 2024

as casas e a memória

Rovaniemi, Finlândia 
 

"As casas são quem está dentro delas, e quando essas pessoas desaparecem, as casas também morrem sem saber. Levam com elas os cheiros, os recantos onde aconteceram coisas que não voltam a acontecer, mas que darão lugar a que outras pessoas construam nela memórias novas, e que voltem a chamar casa àquele sítio que já não o é para quem um dia a deixou vazia."

Aqui dentro faz muito barulho, Bruno Nogueira 

domingo, 20 de outubro de 2024

"Só para o caso de precisares..."


 "[...] e deixava-se ficar em frente à Zee TV ou às notícias, para não olhar para o cadeirão vazio ao seu lado, o de Naina... e para encher os ouvidos de som, risos e conversas severas, assuntos mundiais importantes, para proteger a mente do silêncio ensurdecedor que o recebia sempre que chegava a casa todos os dias há dois anos."

Pensei que partia para um livro sobre livros e afinal este livro de Sara Nisha Adams tem mais camadas. "A lista de leitura" não é tão leve como o imaginara aquando o iniciei. 

Aviso que para quem ainda não leu os livros mencionados da lista de leitura e não gosta de "spoilers", isso poderá ser um entrave. No entanto, este livro abarca muito mais que isso. 

Fala de solidão, de depressão e o quanto é necessário cuidar da nossa saúde mental. E é aí que entra o benefício dos livros, do quanto eles podem ajudar-nos e também serem aconchego em diferentes fases da nossa vida, e do poder das bibliotecas, enquanto serviço para as comunidades onde estão inseridas. 

Já o tinha visto pelas redes sociais, mas pouco me disse. Desta vez, nesta minha última visita à biblioteca, chamou-me. Talvez tenha sido Naina a sussurrar: "- Leva-o. Só para o caso de precisares...". 

Serviu como um bálsamo para estes dias menos bons. Por vezes, temos que deixar que as lágrimas caiam. 

Nota: Da lista, não li o último (nem conhecia): "Um bom partido" de Vikram Seth. Claro, que terei de o ler!

domingo, 6 de outubro de 2024

"a avó tem pássaros na cabeça"


"Ouvi dizer que a avó tem pássaros na cabeça.

Não é de estranhar que as aves se aproximem dela, pensando que é uma nuvenzinha."

Não é fácil envelhecer. Ficámos mais vagarosos, perdemos muitas das faculdades e o corpo parece não querer responder. Na verdade, voltamos ao início, de quando éramos pequeninos e precisávamos de quem olhasse por nós.

Quando somos crianças dizem-nos, constantemente, que parece que temos a cabeça nas nuvens. E vivemos muito no mundo do imaginário.

Assim, quando chegamos a velhinhos, por vezes a mente também viaja para outros lugares. "É como se as nuvens descessem à cabeça" e não nos deixassem seguir com a vida ou reconhecer aqueles que nos são queridos.

A maior dor é para quem cuida. Pois a demência num ente que nos é querido é algo que nos destrói e nem sempre é fácil de lidar.

"Nuvens na cabeça" de Elena Val é um livro belíssimo que nos mostra as fragilidades de uma criança e uma velhinha. E que nos ensina a nós, "que temos os pés bem assentes na terra", que nem tudo tem de ser questionado.

Deixar de lado a razão e a lógica e aprender a desfrutar dos momentos de amor são a magia para viver cada dia como se fosse único.

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

"Sol" de Diogo Carvalho


Passei parte da minha adolescência a ler ficção científica, por isso ler Sol de Diogo Carvalho foi um regressar a esse tempo. Li de um só fôlego. E digo-vos que o Diogo soube misturar bem todos os ingredientes, entre argumento e arte.

Tocando em temas como a destruição dos recursos e o aniquilamento das populações, Sol é uma história que envolve e capta a nossa atenção logo nas primeiras páginas e depois já não nos deixa parar.

Viajamos para um futuro onde o poder e ganância dos mais fortes arrasta para o "fundo dos mega edifícios na escuridão" os mais fracos. Os fortes colonizam, dominam a exploração espacial e descartam o não essencial.

Só que em todas as histórias tem de haver um herói, certo? Aqui temos Sol, uma rapariga que perdeu o pai em criança e que está prestes a perder também a mãe, infectada pela "doença dos colonos".

Mas até "aonde irias no Universo para salvar alguém que amas?"

quarta-feira, 31 de julho de 2024

"É preciso saber sair dos sítios no momento oportuno"

 


Tinha as expectativas em alta, porque Pátria foi um dos meus melhores livros do ano passado. Há dias terminei o Regresso dos Andorinhões de Fernando Aramburu e senti que fui atropelada e sobrevivi. Só que deixei de ser a mesma, após chegar até às entranhas de Toni.

Começamos em Agosto com Toni, o personagem deste livro, a informar-nos que não vai durar muito. Um ano. Foi o limite que colocou a si próprio. Aos 54 anos, prevê suicidar-se daqui a um ano e até diz-nos a data exata: 31 de julho, quarta-feira, à noite. 

"É o prazo que concedo a mim mesmo para pôr os meus assuntos em ordem e averiguar porque é que não quero continuar na vida."

Toni não gosta da vida e eu, nos primeiros meses, não consegui simpatizar com Toni. Pois o personagem, a par de ir libertando-se de objetos, decide também escrever notas retrospetivas de toda a sua vida ao longo desse ano que lhe resta. E no decorrer desses dias e meses fui dissecando Toni através das suas impressões. Daí que dei por mim a detestar e até sentir repulsa por este homem comum, professor de Filosofia, que tem um discurso, tantas vezes, repugnante para com as mulheres, e até de ódio para com os que lhe são mais próximos.

Só que à medida que os dias e meses vão avançando na história, a minha raiva apazigua-se e dou por mim enredada num turbilhão de outros sentimentos. 

A honestidade e a transparência das suas reflexões, com os seus altos e baixos, colocam a nu até os flashes da sua vida mais íntima. Toni desarma.

Questiono, questiono, questiono, ... 

Toni partilha o balanço da sua vida, com data de validade, em 802 páginas.

Poxa o quão a vida pode ser frágil e a solidão ruidosa!

"Há muito tempo que não me ria tanto. Não me ocorria outra forma de ocultar a tristeza que me embriagava."

Sim, porque... "É do caraças; se fores um homem, obrigam-te a morrer como um cão; se fores um cão, facilitam-te uma morte indolor, fazendo o mais possível para que estejas tranquilo e não te sintas só."

sábado, 20 de julho de 2024

"História de um desastre nuclear"


☢️ "Catorze dias é quanto dura a evolução da síndrome aguda da radiação. Em catorze dias uma pessoa morre..."

"A noite de 26 de abril de 1986... Numa só noite deslocámo-nos para um outro lugar da História."

"Demorei a escrever este livro... Quase vinte anos... Encontrei-me e conversei com antigos trabalhadores da central, cientistas, médicos, soldados, samosely [cidadãos que depois de evacuados preferiram voltar às suas casas]..."

"Durante toda a nossa vida, ou estávamos em guerra ou nos preparávamos para a guerra, sabemos tanto sobre ela - e de repente! A imagem do inimigo mudou."

"Nos primeiros tempos éramos todos transformados em objetos raros."

"O mundo está dividido: existimos nós, chernobylianos, e existem vocês, todas as outras pessoas. Reparou nisso? Nós aqui não especificamos: sou bielorrusso, sou ucraniano, sou russo..."

"Chernobyl acelerou a desintegração da União Soviética."

"A minha primeira viagem à Zona...

Durante a viagem eu pensava que estaria tudo coberto de cinzas. [...] Chegas e vês tudo bonito."

"... se eu não posso mudar nada na vida deste homem, tudo o que posso fazer é comer com ele a sanduíche contaminada, [...]".

"Veio para casa todo feliz... Com uma condecoração..."

"Fomos enganados. Fora-nos prometido que regressaríamos três dias depois."

"E eles não compreendiam o que tinha acontecido, queriam acreditar nos cientistas, em qualquer pessoa letrada, como um sacerdote. Mas ouviam repetidamente: <<Está tudo bem. Não tem nada de mal. É só lavar as mãos antes de comer...>> [...] estivemos todos envolvidos... No crime... [Silêncio.]"

Quis somente transcrever algumas das "Vozes de Chernobyl" para vos falar deste livro de Svetlana Alexievich, que me marcou profundamente. 

Não há palavras que consigam abarcar a dimensão desta tragédia. A autora soube fazê-lo de uma forma notável e impactante.

terça-feira, 9 de julho de 2024

24| livrarias e bibliotecas no mundo


 "Lee, lee, lee

y ensancha el alma" ❤️

José Miguel Valle


Foi com esta pequena frase que fomos brindados ao atravessar a porta da ala infantil da biblioteca municipal de Orotava.

Situada na calle Tomás Pérez, em pleno centro histórico, esta bonita biblioteca está, desde 1985, no edifício do antigo Casino. 

Com um acervo de 49 590 livros, esta biblioteca de dois pisos conta com uma sala de leitura, uma área infantil e um espaço mais lúdico para consulta de jornais e revistas. 

Termino, referindo que passamos uma boa hora a ler livros infantis em espanhol e que o bibliotecário que nos recebeu foi uma simpatia. 

quarta-feira, 26 de junho de 2024

Sobre a vida


 "A vida é a hesitação entre uma exclamação e uma interrogação. Na dúvida, há um ponto final."

Livro do Desassossego, Bernardo Soares (Fernando Pessoa)

sexta-feira, 21 de junho de 2024

El Chinyero

 


O vulcão El Chinyero, de 1.561 metros de altura, foi o último a entrar em erupção, em Tenerife, e fica bastante próximo do Teide.

Foi na Reserva Natural del Chinyero que realizamos um dos percursos mais bonitos da ilha. 

Aqui contemplamos uma das paisagens vulcânicas mais impactantes, que ficará registada na nossa memória.

terça-feira, 11 de junho de 2024

Maria Teresa Horta, A Desobediente


Ler "A Desobediente, Biografia de Maria Teresa Horta" de Patrícia Reis, é imergir no universo de uma mulher ímpar. Maria Teresa Horta é a mulher das palavras, da poesia, do feminismo, do corpo, do desejo, da sexualidade, da luta, da liberdade, das ideias, da literatura, da irreverência, das convicções, da paixão e também do amor desmedido por Luís de Barros a quem dedica a maioria dos seus livros. 

Patrícia Reis é maravilhosa nesta demanda tão inglória que é abraçar uma vida inteira de uma figura incontornável do nosso século. Maria Teresa Horta é mulher, jornalista, escritora, poetisa, mãe, avó, bisavó, foi e continua a ter uma voz ativa em tantos outros papéis. O seu nome está fortemente associado à luta contra o fascismo e o Estado Novo. É uma das três autoras do livro, Novas Cartas Portuguesas, com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa. Toda a sua vida lutou pelas condições da mulher em Portugal. Nem sempre foi bem vista e reconhecida, pois "ser feminista era uma coisa aviltante".

Imergi, assim, para um tempo em que "as mulheres praticamente não tinham corpo" e "eram todas iguaizinhas", onde quem mandava era o homem. Fui parar a um tempo que não vivi, nem conheci. Em que não se questionava a situação da mulher. Esta não tinha uma "voz ativa, não tinha uma voz real", porque na hora de decidir era a mesma coisa que ser muda.

Não conheço toda a obra de Maria Teresa Horta, mas admiro imenso esta mulher desde a minha juventude. Gosto da sua teimosia e rebeldia, da sua voz na política e na cultura, que com os seus 87 anos continua sempre tão lúcida e coerente consigo própria. 

Ouvir ou ler Maria Teresa Horta é sentir a paixão nas palavras e o quanto a palavra "mulher" faz parte de si, da sua identidade. 

"Mesmo que não entendesse, achava sempre lindo que as palavras viessem dali dos livros. E cada palavra tinha um peso específico, uma música, isso era um dos mistérios que gostaria de desvendar com alguma pressa, porque intuía que ali, nas palavras, estava um caminho que era seu." 

quarta-feira, 5 de junho de 2024

Sendero de La Hija Cambada


O Parque Rural de Anaga em Tenerife é daqueles lugares imperdíveis para os amantes de trilhos.

Contudo, se estiveres com o tempo contado e mesmo assim quiseres fazer 1 ou 2 caminhadas, aconselho-te o Sendero de los Sentidos (1,6 km) e o Sendero de La Hija Cambada.

Este último com uma distância de 5,5km já dá para sentires a magia da floresta de laurissilva. É como se estivesses mesmo dentro de uma história de fantasia.

Com um grau de dificuldade fácil/moderado, este percurso circular tem início e chegada no Centro de Visitantes Cruz del Carmen e é acessível para famílias com crianças.

sexta-feira, 24 de maio de 2024

"O que estará para lá do grande muro vermelho?"


Os livros de Britta Teckentrup têm tudo o que gosto num livro infantil: ilustrações bonitas e uma história simples, que nos faz pensar/questionar. ❤️

"O que estará para lá do grande muro vermelho?"

"O Ratinho e o muro vermelho" é um livro para os audazes e destemidos que, com a sua curiosidade, ousam olhar mais além. Que não têm medo e se aventuram no desconhecido. Que vão em busca de uma liberdade para todos. Sem muros ou vedações. 

Mas também é um livro para os receosos, que vivem paralisados e escondidos na sua concha.

Pois quantas vezes é que, por receio do que não compreendemos, criamos barreiras e nos fechamos ao mundo ou ao outro? Quantas vezes é que acreditamos naquilo que nos impingem diariamente e não vamos em busca da verdade por nós mesmos? 

Por isso, todos os dias são um bom dia para lutar pela liberdade e por um mundo sem barreiras, pois "irá haver muitos muros na tua vida [...]. Alguns serão feitos pelos outros, mas a maioria será criada por ti..." 

terça-feira, 14 de maio de 2024

23| livrarias e bibliotecas no mundo


"Só depois é que fui à procura da grande biblioteca, as Galveias, que não seria tão grande assim, mas para mim era o mundo…" 
José Saramago 

Por estes dias tive a oportunidade de visitar a biblioteca municipal do Palácio Galveias e estava tão apinhada de leitores que, por opção, estes foram os únicos registos fotográficos que fiz para memória futura.

Com um acervo de 60 mil documentos, o edifício do Palácio Galveias prima também por um património arquitetónico muito bonito e que vale a pena visitar.

quarta-feira, 8 de maio de 2024

"Sendero Malpaís de Güímar"


"Sendero Malpaís de Güímar" foi um daqueles trilhos que decidimos fazer sem estar no programa de Tenerife e só posso recomendar, porque gostámos imenso.

Este é um trilho circular, com início e final no Puertito de Güímar. Tem uma extensão de 6km, um grau de dificuldade baixo e duração de 3h.

Com uma paisagem vulcânica única que se estende desde a Montaña Grande até à costa, Malpaís de Güímar é uma Reserva Natural Especial de grande importância ecológica, que foi declarada área protegida em 1987. 

Digam-me se as fotos não falam por si.

quinta-feira, 2 de maio de 2024

"a beleza é o grau mais elevado da verdade"


"Lucrei porque sou um entre milhares, dez milhões e tal, que melhoraram as suas vidas passando a viver em liberdade."

Com "Os Memoráveis" regresso à oralidade e à escrita tão própria da autora de "A Costa dos Murmúrios" e "O dia dos Prodígios". Pois com "Misericórdia" tinha esquecido o quão desafiante pode ser a escrita de Lídia Jorge.

Entro em 2004. Vive-se os 30 anos da Revolução dos Cravos. Nos EUA, a repórter Ana Maria, uma filha de Abril, é convidada para fazer um documentário para a CBS sobre a Revolução de 74: "A História Acordada". Sobre a derradeira noite de 24 para 25 de abril. Aceite o desafio, Ana Maria regressa a Portugal e juntamente com dois antigos colegas passam à ação. Desenrolam-se uma série de entrevistas com os diferentes intervenientes do golpe de Estado, revisitam-se vários lugares e assim, ao longo dos capítulos a História passada vai-se construindo. 

Paralelamente, a história pessoal de Ana Maria com o pai António Machado cruza-se com a dos heróis. Ao longo dos capítulos vamos acompanhando os silêncios e as parcas conversas entre eles. 

O enredo pode parecer simples, mas a escrita de Lídia Jorge exige uma leitura mais lenta, concentração e foco. Perdi-me por vezes e também não consegui reconhecer todos os protagonistas da História. Tive de voltar atrás e recomeçar.

A autora procurou o olhar da minha geração. A que não viveu a euforia do 25 de abril, mas que graças a ele pôde viver em liberdade, com todas as suas alegrias, consequências e desilusões.

Pois há os que abdicaram da história e os heróicos que no presente foram esquecidos. 

"Que feliz mesmo seria o dia em que todos pudessem esquecer que eles foram necessários, e até que existiram. O meu marido era assim, desprendido. Um herói da retirada, o meu marido."

Mas há que não deixar esquecer. ❤️

quinta-feira, 25 de abril de 2024

#50anos25abril


"Um povo pobre, sem álgebra, sem letras, cinquenta anos de ditadura sobre as costas, o pé amarrado à terra, e de repente acontece um golpe de Estado, todos vêm para a rua gritar, cada um com a sua alucinação, seu projecto e seu interesse, uns ameaçando os outros, corpo a corpo, cara a cara, muitos têm armas na mão, e ao fim e ao cabo insultam-se, batem-se, prendem-se, e não se matam."

Os Memoráveis, Lídia Jorge 

terça-feira, 26 de março de 2024

"Refugiados na sua terra"


"Houve um momento em que parte do mundo ocidental [...] acreditou que israelitas e palestinianos iam viver em paz". Acredito que esse tempo chegará.

Oriente Próximo de Alexandra Lucas Coelho é um livro de não-ficção sobre Israel-Palestina, entre os anos 2005-2007. Esta nova edição foi revista, mas não engloba o trabalho jornalístico dos incidentes iniciados a 7 de outubro de 2023. No entanto, os relatos, as entrevistas, as reportagens e as crónicas transcritas neste volume já pronunciavam a tragédia. Os primeiros capítulos vão atrás na História e elucidam o leitor no retrato de uma terra que já foi "otomana, britânica, jordana e israelita".

O estado de Israel é um estado colonial que ocupa e expande "ilegalmente" colonatos para expropriar mais território palestiniano. Administra, constrói muros, vedações e limita a liberdade de movimentos. Segrega. Vive em regime de apartheid. Vê no palestiniano um inimigo. Um povo sem direitos. Sem existência. Humilha-os. Massacra-os. Bloqueia os meios básicos de sobrevivência. Comete atos de genocídio. Israel vive em guerra permanente, porque há que alimentar a máquina.

"Em Gaza e na Cisjordânia milhões são refugiados na sua terra". "Continuam em trânsito, acampados." "O lugar deles não tem espaço, é um momento passado, a Nakba, a Catástrofe. Todos os dias acordam e é 1948."

Sim, os ataques do Hamas também são condenáveis. Mas, a violência não é de agora! São anos de desesperança. E o Ocidente continua calado perante os atos desumanos e de trauma constante, perpetuados pelo estado de Israel, por anos e anos.

<<Os europeus têm tanto medo de que os acusem de ser anti-semitas que não dizem nada.>>

Também "O horror contínuo é a não-notícia do dia. Não tem novidade, só rotina." Desliga-se o botão. É lá longe e aqui a vida é bela!

No futuro, o meu filho questionar-se-á e indignar-se-á, tal como eu me indignei por tantas outras tragédias passadas. Porque na verdade, em todas as guerras pelo Mundo, "os grandes jogadores não estão [lá] e as vítimas são a paz, a justiça, as pessoas inocentes." 💔

domingo, 3 de março de 2024

Monumento Natural das Sequóias do Monte Cabezón


Há alguns dias que queria-vos falar deste lugar mágico, que fica na Cantábria (Espanha).

Visitámos este pequeno bosque de sequóias no verão passado e gostámos muito. Fomos pela manhã e nas primeiras horas éramos só nós e estas árvores gigantes que podem viver mais de 2 mil anos.

Protegido desde 2003, este espaço natural conta com estacionamento gratuito e os trilhos estão bem sinalizados e são de nível fácil.

Claro que houve quem achasse que conseguiria abraçar uma destas gigantes sozinho.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

22| livrarias e bibliotecas no mundo

 

O Palácio dos Condes de Sástago, localizado na rua do Coso, é um dos locais em Saragoça que merece uma visita e se tiverem oportunidade, optem por uma visita guiada. A entrada é gratuita.

De estilo renascentista, este palácio já foi residência de reis e sede do Conselho de Guerra.

Ao entrar no Palácio, os olhos tendem a direcionar de imediato para o amplo pátio interior que é lindo. Já nas salas do piso inferior podem usufruir de diversas exposições.

Agora a parte melhor é que se optarem por uma visita guiada, para além de ficarem a saber mais sobre a história do Palácio, irão ter acesso ao piso superior onde estão as salas e salões nobres, como a Sala do Trono e esta biblioteca maravilhosa que é a jóia do Palácio.

No dia em que visitámos o Palácio éramos só nós os três e por isso tivemos o guia em exclusivo, que foi uma simpatia e super disponível para esclarecer todas as nossas curiosidades. Ainda por cima era um apaixonado por Portugal e pela nossa História.

Segundo o guia, esta biblioteca recebe visitas noturnas de fantasmas. 👻 Hum... Acreditarias?

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

"Alá sabe melhor"

 

Há anos que queria ler "Para onde vão os guarda-chuvas" de Afonso Cruz e há anos que adiava pegar nele. Agora que finalmente o li, aceito que foi lido no tal chamamento certo.

Este é daqueles livros que nos inquietam e sei que os personagens ficarão comigo por muitos anos. O que tem de belo, também tem de doloroso em igual dose.

O que fica de nós depois da perda? Como se cura um coração de pai? Como se pode quebrar a corrente do ódio? Será a fé o remédio para a salvação? Para onde vai o que perdemos? Existe o Bem na mesma proporção do Mal? Haverá um "equilíbrio absurdamente/moralmente/esteticamente desequilibrado” compreensível no mundo?

Esta é uma história passada num Oriente efabulado, com muitas histórias dentro. E estas têm tanto de desumanas e cruéis, como de sofridas e mutilantes.

Fazal Elahi é a peça crucial neste tabuleiro de xadrez que é a vida. E todos os outros personagens, tão complexos, vão movimentando-se entre espaços brancos e negros, entrelaçando-se nas vidas uns dos outros.

Só que Elahi é especial, porque teve a audácia de não ser somente um peão. Quebrou o que está escrito, porque acreditou que tinha o poder da decisão. A sua fé muçulmana levou-o a adotar Isa, uma criança americana e cristã. Daí que tece-nos uma tapeçaria multicolor da sua vida, que transborda tanto de poesia, como de chagas.

No final, não queria fechar o livro, por não querer terminar com uma dor profunda no peito, enquanto ouvia ecoar "escarlatina, escarlatina, escarlatina."

As palavras de Afonso Cruz são poesia filosófica, tanto que as 567 páginas voaram-me pelos dedos. Desde então que ando há dias a tentar assimilar a finitude da vida e a infinitude da morte. Do quanto somos infinitamente pequenos e a diferença que fazia se calçassemos os sapatos uns dos outros.

"Alá sabe melhor." ☂️

sábado, 27 de janeiro de 2024

"Anatomia de uma tragédia em Jerusalém"


"Todos sabiam da rapidez com que as autoridades israelitas se lançavam sobre uma estrada da Cisjordânia assim que um miúdo atirava pedras. No entanto, os soldados no posto de controlo, as tropas na base de Rama, os camiões de bombeiros nos colonatos vizinhos nada tinham feito, deixando o autocarro arder durante mais de meia hora."

"Arik queria explorar a razão pela qual os jovens israelitas podiam sentir mais ódio do que os mais velhos. Acreditava que aquela história seria útil para que a sociedade israelita se olhasse ao espelho. [...] 

<<Estes pequenos palestinianos podem ser os terroristas do futuro. Não me venham com essa treta de que toda a gente é um ser humano. São cães, não pessoas, e merecem morrer.>> [...]

- Estamos a falar de crianças de 4 a 5 anos, sabes?

- Miúdos pequenos, sim. E depois?"

Um dia na vida de Abed Salama de Nathan Thrall é um livro não ficcional e bastante emotivo. A história de Abed Salama tem pairado nos meus pensamentos diários.

O jornalista norte-americano Nathan Thrall, a viver em Jerusalém, não nos relata somente o dia fatídico em que o palestiniano Abed Salama perdeu o filho de 5 anos num acidente rodoviário. Ao reconstituir a tragédia passada em 2012, o autor conta-nos também os últimos 50 anos de História do conflito israelo-palestiniano.

É um relato muito duro e perturbador sobre um quotidiano marcado por tensão e conflitos diários, marcado pelo domínio e ocupação dos colunatos, mas tão essencial para perceber o quanto há de crueldade na Humanidade. 

São as feridas de ambos os lados que não cicatrizam e onde tudo se tornou banal. É o silêncio ensurdecedor do Ocidente.

"- Não importa se é de esquerda ou de direita. O facto de haver quem celebre a morte de pessoas obriga a que paremos, por um momento, e nos perguntemos como é que chegámos a este ponto."

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

21| livrarias e bibliotecas no mundo

A Juristische Bibliothek de Munique é irresistível para os apaixonados por livros e não só.

Fundada em 1843, esta biblioteca foi posteriormente mobilizada para uma das salas da Câmara Municipal, que está localizada na Marienplatz.

Durante o período de funcionamento não é possível visitá-la. A reserva para uma visita guiada de 30 minutos pode ser efetuada, de sexta-feira a domingo, no site do turismo "Simply Munich".

Quando pensei em Munique como destino já não havia disponibilidade para reservar nos dias em que estaria pela cidade.

Mesmo assim, no dia em que fomos à praça central, dirigimo-nos à receção da biblioteca e encontrámos uma informação na porta. Naquele dia, era possível visitar a biblioteca depois do expediente, entre as 16h30 e as 16h40.

Não queria acreditar! Uns minutos antes lá estávamos nós à espera para entrar e nos maravilharmos.

Foram 10 minutos certos de puro deleite!

Refiro ainda que os corredores da Câmara Municipal, até chegar à sala 367, também são lindos e merecem uma visita pausada.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Zugspitze (2962 m)

Subimos ao ponto mais alto da Alemanha. Ficámos com a carteira vazia, mas valeu toda a alegria do pequerrucho e a nossa também.

A montanha Zugspitze, com 2962 metros de altitude, fica nos alpes bávaros, na zona de Garmisch-Partenkirchen e situa-se na fronteira com a Áustria, mas o seu cume pertence à Alemanha.

A subida é feita apanhando um comboio com mais de 80 anos de história a partir de Garmisch-Partenkirchen, Grainau. Em Eibsee podemos seguir viagem noutro comboio ou apanhar o teleférico para ir mais rápido.

Nós optamos por subir de comboio e depois ir ao topo de teleférico e descer do topo num outro teleférico que nos levou até ao lago Eibsee e daí apanhamos novamente o comboio até Garmisch-Partenkirchen.

O bilhete família combinado ficou em 55€ por adulto e 27,50€ criança.

Como fizemos a viagem de comboio regional (ida-volta), a partir de Munique, acresceu também o valor de 38€ (preço família).

Pinturas populares (últimos 30 dias)