domingo, 17 de dezembro de 2023
"diário da Ucrânia"
"A Rússia invadiu a Ucrânia."
23 de fevereiro de 2022
"Isto não é um exercício - e também não é uma reconstituição histórica para mostrar aos miúdos o que foi a guerra. É a guerra."
"O que vai ser desta terra, se vamos conseguir defendê-la, se vamos ter de morrer para proteger a nossa família, não sabemos."
"- Quando um povo é forçado a esquecer a língua dos seus poetas, o coração desse povo torna-se pedra - diz Romana, enquanto se levanta para ir buscar um livro de Taras Shevchenko."
"- Durante três séculos fomos escravizados, destruíram as nossas casas, as nossas igrejas, queimaram os nossos livros, há um ódio que nos construiu. É a nossa primeira guerra, a primeira em que não lutamos por outra bandeira, somos independentes. É uma benção e temos de estar preparados para dar a vida por ela."
"Durante muito tempo, a Ucrânia lutou em muitas guerras, mas para Natália, que só tem 30 anos, nada disso faz já sentido."
"É uma ideia muito repetida entre os habitantes destes 535 quilómetros de fronteira: a de que, mais do que tudo, Putin teme as democracias à sua volta, como se, à medida que criam raízes, elas fossem, como copas das árvores, absorvendo e neutralizando as partículas que sustentam o seu regime opressor."
"Para Oleg, a Ucrânia com noção do seu poder, do seu papel no mundo, da sua independência em relação à Rússia começou nesta praça."
Kyiv, 4 377 662 refugiados, 7 de abril
Não sei o que é a guerra. Felizmente, vivo num país de paz. No entanto, graças ao trabalho no terreno dos jornalistas, as guerras no mundo entram diariamente cá em casa.
Com "ali está o taras shevchenko com um tiro na cabeça - diário da Ucrânia", a jornalista Ana França descreve-nos a guerra a quente, através da partilha de vários testemunhos e relatos dos ucranianos que expõem o sofrimento das suas vidas viradas do avesso.
Há certas realidades que não são fáceis de gerir e lê-las também não as torna mais suportáveis.
Mergulhar no sofrimento alheio não é calçar os seus sapatos, mas há que olhar de frente para compreender o que não é aceitável. É necessário construir memória.
sexta-feira, 24 de novembro de 2023
A essência dos Cadernos de Lanzarote
Em abril do ano passado visitei A Casa, em Lanzarote. Na altura, partilhei que o momento tinha sido vivido com todas as emoções à flor da pele. Mas a paisagem vulcânica daquela ilha também não dá para esquecer. Ainda hoje sinto aquele vento em mim.Foi após essa visita tão única, que fez-me todo o sentido iniciar os seis Cadernos de Lanzarote, escritos entre os anos de 1993 e 1998.
"Gente maliciosa vê-lo-á como um exercício de narcisismo a frio, e não serei eu quem vá negar a parte de verdade que haja no sumário juízo, [...].", assim refere o autor no seu primeiro caderno. No entanto, termina esta mesma nota introdutória tranquilizando os leitores "este Narciso que hoje se contempla na água desfará amanhã com a sua própria mão a imagem que o contempla."
Fui lendo-os bem devagar e conforme a vontade. Pois os diários não pedem pressa. Um ano depois termino o Último caderno de Lanzarote já com saudade no peito.
Nos cadernos há encontros, seminários e colóquios. Há viagens, apresentações, sessões de autógrafos e inaugurações. Há entrevistas. Há troca de correspondência entre os leitores e o autor. Há abraços, conversas de corredor e admiradores que o interpelam emocionados. Há dissabores. Há pensamentos e confidências. Há dias felizes e emotivos. Há dias tristes e lágrimas. Há homenagens. Há dias vazios. Há uma preocupação e um olhar sempre atento e crítico. Há questionamento e inquietação.
Aí reside toda a beleza destas memórias que culminam com o último diário do ano do Nobel, que tinha ficado perdido num disco rígido de um dos seus computadores.
"Este Sexto Caderno aparecerá em breve", deixou dito José Saramago (palavras de Pilar). Que feliz dia. 20 anos depois, este último caderno chegou aos seus leitores!
"Bem vistas as coisas, sou só a memória que tenho, e essa é a única história que quero contar."
terça-feira, 14 de novembro de 2023
Trilho "Colla de Caballo"
Percurso: Pedestre
Localização: Parque Nacional de Ordesa y Monte Perdido, Espanha
Distância aproximada: 17,5 km
Duração aproximada: 5-6 horas (ida e volta)
Grau de dificuldade: Moderado
O trilho "Cola de Caballo" tem início no Vale de Ordesa e é um dos mais bonitos e também o mais popular do Parque Nacional de Ordesa y Monte Perdido.
Na época baixa é possível levar o carro até esse ponto. Já no verão o carro tem de ficar na zona do Centro de Visitantes em Torla e daí seguir-se de autocarro. É aconselhável adquirir os bilhetes cedo ou no dia anterior para evitar o tempo de demora nas filas.O percurso até à cascata Cola de Caballo tem 17,5 km, é linear, de dificuldade média e com uma duração de 5-6h. Como faz parte da GR-11, também está sinalizado com as marcas vermelhas e brancas.
Começamos então a avançar pela margem do rio Arazas, depois embrenhamo-nos pelo bosque até à primeira cascata do trajeto, a de Arripas. E ao longo do percurso vamos encontrando muitas outras que convidam a ficar e a contemplar.
A trilha é adequada para famílias, sendo que com miúdos pequenos faz-se ao sabor da vontade.
E enquanto selecionava as fotos, pus-me a imaginar o quanto deve ser maravilhoso percorrer, nesta altura do ano, a parte do Faial com as suas cores outonais.
quarta-feira, 8 de novembro de 2023
"a esperança simplesmente é imortal"
"Setenta pessoas juntas que formam uma família, a caminhar para o final do seu tempo."
Misericórdia de Lídia Jorge. Por várias vezes hesitei este livro. Primeiro porque conheço a escrita de Lídia Jorge, que por vezes não é fácil, e segundo por saber que era um livro que abordava a finitude da vida. Ainda a viver o luto do meu pai, receei o embate. Tocou-me profundamente. Entranhou-se em mim.
Baseado nas vivências e pensamentos do último ano de vida da mãe da autora, este é um livro com vida dentro! Porque a morte é apenas um instante. Com ele pude revisitar as memórias dos meus mortos e enfrentar os meus fantasmas através das palavras de Maria Alberta, a quem tratavam por Alberti. Uma senhora cheia de fulgor e "strong".
Recordei os dias em que pisava a grande sala do Lar e o olhar do meu avô todo ele se iluminava. Pegava nas mãos dele e ali sentados ficávamos a falar da eternidade do tempo que nos fugia. E quando me ia, ouvia as suas companheiras de residência a mexericar: "O Sr. Serafim tem muita sorte. A neta está cá todos os sábados!" Naquela altura era uma jovem e não questionava o porquê de pouco me cruzar com outras visitas.
Nessa altura, não era tão duro encarar essa finitude, como o foi há um ano quando o meu pai me deixou. Há um ano quando saí do quarto dos meus pais sabia que o meu pai nos iria deixar nessa noite. Fugi da morte dele. Achava que se me fosse embora ele não morreria. Quando o telefone tocou eu sabia o que o meu irmão tinha para me dizer.
Misericórdia conduz-nos a uma reflexão sobre a vulnerabilidade da vida quando se caminha para o último fôlego. Mas nesta finitude não há somente espera. Há vida carregada de medos e anseios, mas também de curiosidade, sonhos e esperança. Há amizades, batalhas, zangas, amores e derrotas. Há saudade. Há uma enorme ânsia de alimentar os sentidos, num espaço e tempo limitado.
Um livro genuinamente belo, pois "a esperança simplesmente é imortal."
terça-feira, 7 de novembro de 2023
Seguir sem ti...
Há um tempo e um espaço que continha a tua presença, pai, e depois há a dimensão da tua ausência.🤍 12 meses
sábado, 27 de maio de 2023
Sobrevivência e Perdão
Euskadi Ta Askatasuna, Pátria Basca e Liberdade
Estávamos nos anos 90. Eu era uma miúda e pouco ou nada ligava ao que passava de notícias na televisão. No entanto, estas estavam sempre a passar na hora do jantar. O meu pai não gostava de barulho naquela hora sagrada e nós irmãos, muito quietos, obedecíamos sem pestanejar.
Uma vez por outra lá havia alguma notícia que nos captava a atenção e já não tirávamos os olhos do pequeno ecrã.
Novo atentado da ETA. Na minha memória estão gravados alguns fragmentos sobre aquele passado recente. Em casa, não se falava sobre isso, por isso assistia, mas não entendia o que se passava. Sabia que não era muito longe daqui e que era algo mau.
Há uns dois anos vi na RTP um série sobre a ETA, A Linha Invisível. Gostei tanto, que despertou-me a curiosidade. Assim, quando soube da história deste livro de Fernando Aramburu sabia que tinha de o ler.
716 páginas que se lêem num ápice. Duas famílias em lados opostos, que retratam tão bem a dor e o sofrimento que marcaram o País Basco durante a luta armada da ETA. Uma história de sobrevivência, mas também de saber pedir/aceitar o perdão.
"Acabou-se. Daqui para a frente, sem mim. E nem sequer teve um movimento de sobrancelhas meses mais tarde, quando viu na televisão aqueles três encapuzados proclamarem que a ETA tinha decidido pôr fim à luta armada."
segunda-feira, 15 de maio de 2023
"Eu tenho um lugar"
Já vos aconteceu terminar um livro e não terem palavras para escrever sobre ele?
"Somos a primeira pessoa do plural" de José Luís Peixoto é um pequeno livro de 101 páginas distribuídas por 20 textos, que o autor selecionou para esta edição especial, lançada pela editora Fundza.
Quando o José Luís Peixoto leu a primeira página do texto "Somos a primeira pessoa do plural", no auditório da biblioteca municipal de Castro Marim, soube que iria querer ler todas as páginas deste livro. Infelizmente, não o trouxe comigo nesse dia, mas chegou à minha caixa de correio três semanas mais tarde.
"Somos a primeira pessoa do plural" fala-nos ao coração e talvez por isso não tenha palavras para expressar o quanto estava a precisar de ler este livro.
É daqueles que lês a última página, fechas o livro e dizes: - Poxa que bonito foi ler-te! É dos que confortam e perduram no tempo. Dos que mais tarde revisitamos, vezes e vezes.
"Eu tenho um lugar. Por isso, nunca me perco no mundo imenso."
terça-feira, 7 de março de 2023
Ausência de palavras, Vazio
Como se conta uma história tendo apenas desenhos, recortes e pinceladas como guia?
Em Vazio, Catarina Sobral mostra-nos que é possível contar uma história bonita apenas com ilustrações.
Esta maravilhosa fábula visual com ausência de palavras dá-nos a conhecer um homem que apelidamos de Sr. Vazio. Nas imagens podemos ver como o personagem principal, com apenas uma silhueta branca, se distingue de todos os outros.
E o que procura o Sr. Vazio?
Procura-se a si mesmo, para deixar de estar vazio. Assim, no decorrer das suas atividades do dia a dia, como ir ao supermercado, ao médico, passear pela natureza, visitar museus, andar pelas ruas, o Sr. Vazio tenta preencher os vazios da sua vida. Mas nada acontece, pois dia após dia continua sempre vazio.
Até que um dia cruza-se com a Sra Vazia. Hum... O que será que aconteceu na vida do Sr. Vazio?
Curiosidade: "Vazio" foi selecionado para o prestigioso catálogo White Ravena da International Youth Library.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023
Um hino ao desejo
Mesmo "que nunca tenha deixado [a sua] terra de palmo e meio de província, ainda que só tenha permissão para sair dos dois mil metros quadrados de quintal [...] para ir até à escola que fica já ali", ainda assim o que ele gosta mesmo é de viajar! "E ao cair da noite, com milhares de quilómetros percorridos, até [sentia-se] cansado." Na verdade, ficava "exausto, como um viajante no final da caminhada." Porque na verdade ele era uma criança desejante. Muito mais desejante até do que os homens que constroem "desejos sobre os desejos."
De tanto desejar acabava por "viajar todos os dias sem o notar; mesmo quando a paisagem à [sua] volta não muda nunca e se mantém a mesma, sempre".
A narrativa poética de Rita Taborda "sussurra ao ouvido os caminhos navegados". Convida-nos a saborear as palavras. Pois, mesmo em movimento, estamos parados. Encantados por tamanho "brilho miúdo e desassossegado." E as belíssimas ilustrações de Ana Ventura fazem a ligação perfeita para este embalo de um "barco navegante, luzente e iluminado.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023
pequenos detalhes
Continuo a pensar em ti todos os dias, mesmo quando não te escrevo.Há sempre um momento do dia em que a minha memória te vai buscar para junto de mim. Ou talvez sejas tu que entras pelos meus pensamentos adentro e muito solícito insistes que tenho de parar e pensar em ti.
Por vezes, vou a caminho de casa e um pequeno detalhe, como uma nuvem, traz-me o teu rosto até mim.
Outras vezes, quando vou a caminho da tua casa para ver a mãe, recordo aqueles dias em que depois do trabalho ia ao teu encontro e ficava sentada junto da tua cama à espera que me contasses o teu dia. E tu pouco dizias. Só querias estar ali deitado e quieto. Sabias que eu estava ali e isso chegava-te. Por vezes, eu fazia mais uma tentativa de diálogo, mas tu não querias conversar. E eu ali ficava a ver-te até ter que me ir embora. E sempre que ia, era mais um dia que sentia e sabia que te perdia. Maldita doença que te levou de nós!
Fiquei órfã de ti e não sabia que nesta idade iria ser na mesma difícil. Nem sabia que seria um processo de luto solitário. Também não sabia que cá dentro estão todos os sentimentos e que todos os dias sai um para me levantar ou deitar no chão.
Penso em ti todos os dias, pai. E hoje, particularmente, escrevo-te porque estou mais perto do chão.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2023
«Dilúvio»
domingo, 22 de janeiro de 2023
Velhos Lobos
Já há algum tempo que tinha alguma curiosidade em ler Campaniço. Daí que o empréstimo de Velhos Lobos por parte de uma amiga foi a desculpa perfeita para descobrir a sua escrita.
Posso dizer que foi uma boa surpresa. Neste Velhos Lobos, a escrita de Carlos Campaniço revelou-se muito visual. O autor pinta com envolvência a ruralidade, a dureza da terra, o sol escaldante e a pobreza de um Alentejo de outros tempos. Quase que conseguimos cheirar os aromas suaves, fortes e desagradáveis; sentir os ciúmes, os amores e as fatalidades; visualizar as mezinhas, rezas e bruxarias.
O ódio alimenta durante anos duas famílias. Os Lobo, onde Francisco d' Almeida Lobo é dono e senhor da propriedade Monte do Azinhal, "imaginada como a maior de toda a planície", e os Velho, que vivem no Montinho, mas em que Maria Barnabé e Jacinto Velho nem donos da terra são, pois o pai deste deixou-lhe como herança "coisa nenhuma". Eles e seus filhos vivem na pobreza extrema e carregam as desgraças da vida.
Sebastião, a quem o médico disse a Maria Barnabé, sua mãe, que tinha um pequeno atraso, é quem nos conta a história através das suas memórias.
Assim, capítulo a capítulo vamos acompanhando as agruras e as disputas familiares destas duas famílias que isoladas da aldeia vivem na sua própria solidão.
Vivem uma solidão imposta pela lida da terra e os afazeres diários, que os mata e os leva, por vezes, também para a loucura.
Apercebemo-nos que apesar das suas diferenças sociais e de riqueza, ambas têm fins muito semelhantes.
Quero destacar o antagónico Jacinto Velho, que é o único que resiste à modernidade dos tempos e que vive bem consigo próprio e com a sua solidão. E a destemida Maria Barnabé, uma mulher mística, que representa o imaginário coletivo do saber feminino, das mezinhas, da reza, do poder e capacidade administrativa da casa. Sem dúvida duas personagens marcantes.
segunda-feira, 9 de janeiro de 2023
"Então e tu?"
Em a História de Roma, a escrita de Joana Bértholo é bastante envolvente e introspectiva. Daí que revi-me em vários momentos da história: na cultura do mate, no amor, nos programas de mobilidade, no cenário de Buenos Aires, nas viagens, na pressão da idade, no ser ou não ser mãe, nas questões que surgem daí, na morte.
Lisboa, dez anos depois. No lugar âncora, dá-se o reencontro com o antigo amor. Este vem desmoronar as certezas da jovem Joana, a personagem. Em dez dias, juntos percorrem Lisboa e redondezas, lembrando o início e as entrelinhas, mas as memórias de ambos não se encontram.
A memória regressa então a Buenos Aires, ao início. Surgem os porquês, as dúvidas. As entrelinhas do depois são reconstruídas na lembrança das inúmeras viagens de Joana à procura dele por Berlim, Marselha, Beirute sendo também essas viagens uma busca de si própria. E nessas histórias que vão percorrendo dentro da história vão evocando também o momento que poderia ter mudado o rumo da sua história de amor.
Para além de uma história de amor, a autora coloca-nos perante uma mulher, que pode ser várias mulheres e não aquilo que a sociedade está à espera que ela seja. É livre e não tem de estar aprisionada às convenções ou preconceitos, pode questionar a maternidade, porque esta também pode ser uma não opção. É de uma geração do mundo, a "primeira que democratizou a viagem por lazer e não por exílio", que vive em constante mobilidade e que pode-se apaixonar em várias línguas.
Esta é uma história sobre pessoas que são lugares, daí que termina-se questionando a certeza ou incerteza do nosso lugar.
De notar que apesar desta ser uma história ficcionada, esta podia bem ser a história da Joana autora. No entanto, as diferentes geografias narradas são cidades por onde a autora também passou e experienciou, o que não deixa então de ser biográfico.
domingo, 8 de janeiro de 2023
As tuas laranjas
Dois meses, meu pai.
Achei que não te iria escrever desta vez. Que a vida seguia e eu seguia com ela. Mas, aqui estou.
Sempre te tratei por você e agora trato-te por tu, meu pai. Espero que não me leves a mal esta irreverência.
Hoje trago-te esta fotografia do teu neto a apanhar as tuas laranjas. Tu gostavas de lhe pôr o escadote para ele subir, mas achavas sempre que não seria muito seguro para ele. Na verdade, nem para tu subires aquele escadote velho era seguro. Mas tu subias e enquanto subias o teu neto cruzava os braços de tão zangado e amuava. E quando tu descias, ele subia todo contente e atirava-se às laranjas para tu apanhares. Mas tu em tom sério dizias "- Sai daí rapaz que ainda cais daí de cima." E ele cantarolava e não ligava ao que tu lhe dizias. "- Não caio não, avô."
Nunca foste de muitas conversas e o teu silêncio sempre ditou um certo distanciamento entre nós. Foste pai de outros tempos, mas eras um avô preocupado. Nunca te disse, mas gostava de te ver com o teu neto. Eras diferente. Tinhas um cuidado especial para com ele e isso notava-se no teu olhar.
Sabes, temos ido lá a casa às tuas laranjas. Sempre que as descasco a vida segue e eu sigo com ela.
#sobreaperda #luto #vidaemorte
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Estamos em Fevereiro. Um mês onde já referi aqui que não gosto. Não gosto mesmo, mesmo! E até podia escrever muitas e muitas outras razões,...