O rapaz que não se tinha quieto de Rita Taborda Duarte e ilustrações de Ana Ventura é um hino ao desejo. Do ir mais longe, para lá daquilo que conhecemos, mesmo quando não se sai do mesmo lugar. De "um ínfimo espaçoide quadrado", um rapaz confidencia-nos o quanto gosta de viajar. Na verdade, o quanto "gostava era de viajar".
Mesmo "que nunca tenha deixado [a sua] terra de palmo e meio de província, ainda que só tenha permissão para sair dos dois mil metros quadrados de quintal [...] para ir até à escola que fica já ali", ainda assim o que ele gosta mesmo é de viajar! "E ao cair da noite, com milhares de quilómetros percorridos, até [sentia-se] cansado." Na verdade, ficava "exausto, como um viajante no final da caminhada." Porque na verdade ele era uma criança desejante. Muito mais desejante até do que os homens que constroem "desejos sobre os desejos."
E nesta ânsia de querer desbravar o seu mundo redondo, o rapaz começou a pensar no transporte que podia eleger para as viagens que ainda não fazia. Primeiro o comboio, mas só até ao dia em que se desiludiu com um "viajante falsificado". Depois o barco. Só que ao eleger o barco, o mar não lhe via. Tinha que construir uma "alta torre do luar". E mais tarde um "farol estrelado".
De tanto desejar acabava por "viajar todos os dias sem o notar; mesmo quando a paisagem à [sua] volta não muda nunca e se mantém a mesma, sempre".
A narrativa poética de Rita Taborda "sussurra ao ouvido os caminhos navegados". Convida-nos a saborear as palavras. Pois, mesmo em movimento, estamos parados. Encantados por tamanho "brilho miúdo e desassossegado." E as belíssimas ilustrações de Ana Ventura fazem a ligação perfeita para este embalo de um "barco navegante, luzente e iluminado.
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