quarta-feira, 5 de janeiro de 2022
Entremos "mais dentro da espessura"
Nesta narrativa, o autor fala-nos, numa primeira abordagem de amor, de memórias e do que fica para além disso. Se entrarmos "mais dentro da espessura" encontramos a complexidade das relações humanas, a dualidade de identidade, daquilo que somos e de como os outros nos veem, o narcisismo de uma sociedade dormente e em como o outro lado do espelho é bem mais negro. Assim, temos o amor de quem o tinha e o deixou escapar por detalhes. O amor de uma criança por um vizinho que esqueceu todas as suas memórias. O amor de um pai que ao perder também o amor da sua filha decide ir em busca das memórias do seu vizinho.
O homem, que também é pai, por lembrar-se bem "da magia do primeiro beijo" decide resgatar as memórias do seu vizinho e nesta luta diária de falar com quem o conheceu vai desenterrando as memórias do senhor Ulme.
Já o senhor Ulme vive atormentado com as feridas do mundo, com as notícias que lê todos os dias nos jornais e que não acordam a humanidade da "apatia letal, do sono sem sonhos em que circulavam pela vida, e tivessem vontade de mudar a puta da sociedade, comportamentos, o mundo."
E a Beatriz, a criança que deixou de abraçar o seu pai, mas que cuida com zelo e amor o senhor Ulme, é o elo do que resta de ambos, do que fica para além da morte, a memória, o cheiro a flores.
Um romance bonito com toda a inquietude que nos chega ao coração.
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