Os dias andam cinzentos, as pessoas andam esmorecidas e David Machado decidiu falar do Índice Médio de Felicidade. Segundo a tabela, Portugal tem um Índice Médio de Felicidade de 5,7, numa escala de 0 a 10. Este valor é suficiente para questionar toda uma vida!
David Machado criou deveras um personagem otimista. Penso que nunca conheci uma pessoa assim. Será que é porque Daniel tinha um plano de futuro de vida? Talvez... Mas o plano teve de ser riscado várias e várias vezes. Nada parecia seguir de acordo com o plano há muito idealizado e escrito.
«Passei várias noites debruçado sobre aquele caderno. O que é que falhou? Onde é que as costuras não ficaram bem apertadas? Não encontrei nada errado. Era um bom Plano. Justo. Era uma vida possível. Mas tentei reescrever tudo, adequar a minha ideia de futuro aos novos limites da realidade.»
A vida dele de um dia para outro levou um enorme abalo. Perdeu o emprego e por conseguinte deixou de poder pagar a prestação da casa. Marta, a mulher dele, também desempregada viu-se obrigada a migrar para casa dos pais em Viana do Castelo e levar os dois filhos, Flor e Mateus. Os seus dois melhores amigos já não o podem ajudar. Almodôvar cometeu uma loucura e foi preso e Xavier vive enclausurado em casa há mais de doze anos, em permanente ameaça de suicídio. O site de solidariedade criado pelos três amigos, com o intuito de as pessoas ajudarem-se entre si, é um insucesso e está condenado ao esquecimento. Vasco, o filho de Almodôvar, tornou-se um delinquente, consequência da ausência dos pais. E é neste cenário moribundo, decadente e sem esperança aparente, que Daniel tenta refazer o seu futuro. Será isto possível?
É bem verdade que somos feitos de fibra e de aço, mas até que ponto um homem consegue resistir a tantas adversidades, num curto espaço de tempo? Será que dá para continuar a acreditar num futuro quando tudo no presente está a ruir à sua volta? Será possível medir a felicidade numa equação matemática? Será que precisamos de tanto? Não teremos demasiadas distrações? Será que a vida e a felicidade são bem mais simples do que aquilo que desejamos e queremos?
«Numa escala de 0 a 10, quão satisfeito se sente com a vida no seu todo?»
É complicado.
As expectativas não são as mais favoráveis, mas Daniel é um resistente, que insiste em não querer baixar os braços. Amanhã há de ser melhor. Daniel é o homem que é obrigado a refazer o seu plano de futuro diariamente. Onde a sua noção de felicidade está em constante revisão. E mesmo assim continua sempre a acreditar. Parece que nada o abala, porque não quer desistir. Talvez Daniel seja o herói que nos dias de hoje já escasseiam em Portugal.
David Machado já tinha surpreendido com O Fabuloso Teatro do Gigante, por isso este Índice Médio de Felicidade já augurava grandes expectativas. Esta é uma história audaciosa, que pode bem ser a realidade de alguns de nós e que conta até com uma viagem um tanto ao quanto irreal, mas mirabolante. E ainda assim, consegue transmitir esperança e futuro num cenário de constante queda, desespero e desistência.
E assim começo o ano. A escrever sobre a minha última leitura de 2013. Um ano que foi bastante fraco em leituras. 7 foram os livros lidos. Foram tão poucos que até posso enumerá-los, sem cansar: Bom Inverno de João Tordo; Portugal Hoje - O Medo de Existir de José Gil; O Doutor Jivago de Boris Pasternak; A Luz de Stephen King; Vinte e seis e mais uma… de Máximo Gorki; A Desumanização de Valter Hugo Mãe e este que hoje vos falei.
Boas leituras para 2014!