sexta-feira, 18 de outubro de 2013

a EScaLADa

Buachaille Etive Mòr em Glen Etive, Escócia. Fotografia de Liefde

Tinha acabado de descer a Buachaille Etive Mòr. Sentia-se cansada. 

Não tinha sido tarefa fácil a subida e além disso não conseguiu escalar até ao topo. Porventura, uma pena. Muitos tinham sido os aventureiros que lhe ultrapassaram o passo, mas ela também não estava com pressa de chegar. Sabia que a sua preparação não era a deles. Por isso não quis arriscar chegar até ao cimo. Faltara-lhe um pedaçinho assim... Olhou um último momento para o cume já tão perto e, ainda ofegante, virou costas. Aproveitou para desfrutar da paisagem envolvente e respirar bem fundo para iniciar o caminho de regresso. 

Agora ali sentada contemplava a magnífica montanha que já tinha sido cenário de fundo de tantos e tantos filmes, incluindo o seu Braveheart de que tanto gostava. Olhando dali, Buachaille Etive Mòr já não lhe parecia enorme e traiçoeira. 

No silêncio, o banco do imenso jardim guardava a memória de três caminheiros: um pai, um filho e um amigo...

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

«O Preço»


Na semana passada tive a oportunidade de ver uma peça extraordinária, O Preço de Arthur Miller. Esta está em cena na Sala Azul do Teatro Aberto (que infelizmente está na iminência de fechar as portas) de Quarta a Domingo e aviso já que é daquelas que não se podem perder!

António Fonseca, João Perry, Marco Delgado e São José Correia são os atores que integram esta peça encenada por João Lourenço. Com um texto tão atual, que levanta tantas questões sobre a essência da vida e a complexidade do ser humano é impossível não ficar-se completamente rendido à história, ao cenário e à excelente interpretação dos quatro atores, em especial João Perry, que aqui faz o papel do avaliador Salomão. 

Sinopse:
«Nova Iorque, 1968. Dois irmãos voltam a encontrar-se, dezasseis anos depois da morte do pai, para desocuparem a casa que deixaram intacta ao longo de todos aqueles anos. Um velho avaliador vem dar-lhes um preço pelos móveis e objectos de que se querem desfazer. No entanto, a transacção não é tão simples como imaginaram: todas aquelas coisas fazem parte da história da família, estão repletas de memórias e obrigam-nos a confrontarem-se com o passado e com as escolhas que fizeram na vida. Qual foi o preço dessas escolhas? Qual é o preço das contas que ficam em aberto? Entre o deve e o haver, o que se perde e o que se ganha? Neste encontro cheio de emoções, debatem-se as grandes questões da vida, com a esperança sempre acesa de uma maior compreensão do que é profundamente humano.»

terça-feira, 8 de outubro de 2013

"Halldora, a Islândia rebelde e imatura"

Hoje finalmente consegui sentar-me para poder escrever algumas palavras sobre a minha última leitura, A Desumanização de Valter Hugo Mãe. Esta é uma história de uma extrema sensibilidade poética e um tanto ao quanto delirante. Como Valter Hugo Mãe já referiu, nas muitas entrevistas que tem dado, é «uma declaração de amor esquisita, mas é a mais sincera declaração de amor aos fiordes do Oeste islandês.»

Halldora ou Halla é um menina de onze anos, que é vista pelas gentes como a irmã «menos morta». «A mais morta», «a criança plantada», morreu. Eram gémeas. «Crianças espelho.» Tudo se dividiu por metade com a morte de Sigridur. Einar, o tolo da aldeia, por quem Halla se apaixona, dizia-lhe que agora estava de «fantasma dentro». Já a sua mãe sempre enferma dizia-lhe que tinha «duas almas para salvar ao céu.» Por isso, Halla queria que o pai fizesse dela um bonsai, para que o seu corpo não fosse outra coisa «senão a imagem cristalizada da [sua] irmã.»

Nesta paisagem bela como a Islândia, mas ao mesmo tempo, um tanto ao quanto dura, desolada, aniquilante, esquisita, ou melhor: desumanizada; Halla tem conversas com Sigridur em dias de solidão e escuridão. A sua mãe refugia-se na automutilação. O seu pai definha, salvando-se apenas na poesia, que partilha com Halla. E a presença de Deus é uma constante, neste cenário onírico e de amargo sofrimento. Assim, é necessário desumanizar para crescer, para se continuar em frente e enfrentar a «experiência difícil e maravilhosa de se estar vivo.»

Mesmo num cenário extremamente belo, Valter Hugo Mãe não deixou de criar personagens tão desprotegidas e rejeitadas, como já nos habituou em outras estórias. E neste lugar diferente, numa linguagem não só poética, mas também livre e alegórica, o autor revela a sua profunda comunhão com a Islândia.

E as ilustrações de Cristina Valadas embelezam ainda mais o livro.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

14.ª Festa do Cinema Francês


Pois é... Todos os anos, por esta altura, começo a contar os dias que faltam para poder assistir a esta Festa do Cinema FrancêsBem sei que para chegar a Faro ainda falta basicamente um mês, mas entretanto vou estando a par do programa e selecionando os filmes que não quero mesmo perder. E também aproveito para (re)lembrar os mais distraídos que vivam ou estejam de passagem por Lisboa, Almada, Coimbra, Guimarães e Porto. Ah! E este ano o cinema francês também vai chegar a Beja! :) 

Como já andei a ver o programa do sul do país, deixo aqui as minhas escolhas:

L’Écume des Jours de Michel Gondry (Comédia) 
Les Amants du Pont Neuf de Leos Carax (Comédia) 
A Vierge les Coptes et Moi de Namir Abdel Messee (Doc) 
Camille Redouble de Noémie Lvovsky (Comédia) 
Kirikou et la Sorcière de Michel Ocelot (Animação) 
Quelques Heures de Printemps de Stéphane Brizé (Drama)

Quem de vocês não perde esta Festa? Já fizeram as vossas escolhas? 

Pinturas populares (últimos 30 dias)