quarta-feira, 21 de setembro de 2011

"paga-se e reza-se"

«A deputação é uma espécie de funcionalismo para quem é incapaz de qualquer função. É o emprego dos inúteis. Por isso o parlamento é uma casa mal alumiada, onde se vai, à uma hora, conversar, escrever cartas particulares, mal-dizer um pouco, e combinar partidas de whist
[...] 
E assim se passa, defronte de um público enojado e indiferente, esta grande farsa que se chama a intriga constitucional. Os lustres estão acesos. Mas o espectador, o País nada tem de comum com o que se representa no palco; não se interessa pelos personagens e a todos acha impuros e nulos; não se interessa pelas cenas e a todas acha inúteis e imorais. Só às vezes, no meio do seu tédio, se lembra que para poder ver, teve que pagar no bilheteiro! 
Pagou - já dissemos que é a única coisa que faz além de rezar. Paga e reza. Paga para ter ministros que não governam, deputados que não legislam, soldados que o não defendem, padres que rezam contra ele. Paga àqueles que o espoliam, e àqueles que são seus parasitas. Paga os que o assassinam, e paga os que o atraiçoam. Paga os seus reis e os seus carcereiros. Paga tudo, paga para tudo.
E em recompensa, dão-lhe uma farsa.
[...]
Vamos rir, pois. O riso é uma filosofia. Muitas vezes o riso é uma salvação. E em política constitucional, pelo menos, o riso é uma opinião.»
Uma Campanha Alegre, Eça de Queirós

2 comentários:

Teté disse...

É incrível como, tantos anos depois, estas palavras do Eça ainda são tão actuais! ;)

Beijocas!

susemad disse...

Lamentavelmente são, Teté!
Beijinhos

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