domingo, 31 de outubro de 2010
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
a Biblioteca
La Cité des Livres, François Schuiten, Bélgica
«Chegada a noite, volto a casa e entro no meu escritório; e, na porta, dispo a roupa quotidiana, cheia de lama e de lodo, e visto trajes reais e solenes; e, vestido assim decentemente, entro nas antigas cortes dos homens antigos, onde, recebido amavelmente por eles, me alimento da comida que é só minha, e para a qual nasci; onde eu não me envergonho de falar com eles e de perguntar-lhes as razões das suas acções. E eles com a sua bondade respondem-me; e, durante quatro horas, não sinto tédio nenhum, esqueço-me de toda a ansiedade, não temo a pobreza, nem a morte me assusta: transfiro para eles todo o meu ser.»
«Chegada a noite, volto a casa e entro no meu escritório; e, na porta, dispo a roupa quotidiana, cheia de lama e de lodo, e visto trajes reais e solenes; e, vestido assim decentemente, entro nas antigas cortes dos homens antigos, onde, recebido amavelmente por eles, me alimento da comida que é só minha, e para a qual nasci; onde eu não me envergonho de falar com eles e de perguntar-lhes as razões das suas acções. E eles com a sua bondade respondem-me; e, durante quatro horas, não sinto tédio nenhum, esqueço-me de toda a ansiedade, não temo a pobreza, nem a morte me assusta: transfiro para eles todo o meu ser.»
Carta a Francesco Vettori, de Maquiavel
domingo, 24 de outubro de 2010
momentos do lado do sentir
Depois de ter aguardado a sua última obra com grande ansiedade, de só ter sido possível adquiri-la um dia depois do lançamento e de a ter lido sofregamente, só podia aguardar alegremente pelo dia da sua chegada aos algarves para o autógrafo e para mais um momento de troca de dois dedos de conversa.
Como sempre José Luís Peixoto não desiludiu. Recebeu os seus leitores com um largo sorriso e manteve com eles uma calorosa e animada conversa. Gostei imenso dos nossos 5 minutos, onde lhe pude transmitir o quanto tinha gostado deste Livro e mostrar-lhe as passagens que mais me tinham marcado, maravilhado e surpreendido.
É sempre muito bom poder haver esta ligação entre o autor e o leitor!
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
21º Amadora BD: Passa a Palavra
A cidade da Amadora recebe, de 22 de Outubro a 7 de Novembro, a 21.ª edição do Festival Internacional de Banda Desenhada. O principal ponto de encontro será, novamente, no Forum Luís de Camões, na Brandoa.
O Centenário da República é o tema de destaque deste ano. Assim, é de realçar as seguintes mostras: «A I República na Génese da Banda Desenhada e no Olhar do Século XXI; Schuiten e Peeters; Centenário de Fernando Bento; e uma mostra de Richard Câmara, autor do desenho original dos diversos materiais gráficos e autor português em destaque.»
Mais uma vez, o Festival prima pela descentralização e haverá exposições noutros pontos da cidade, tais como: Galeria Municipal Artur Bual, Casa Roque Gameiro, Recreios da Amadora e Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem. E este ano também irão estar na Kidzania/Centro Comercial Dolce Vita Tejo.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Trilho de São Lourenço
Percurso: Pedestre
Localização: Quinta do Lago, Almancil, concelho de Loulé
Distância aproximada: 3-4 km (ida e volta)
Duração aproximada: 1h30
Grau de dificuldade: Baixo
O percurso, que está integrado no Parque Natural da Ria Formosa, tem início e término na Ponte de Ancão, Quinta do Lago. Do lado da ria é possível observar o extenso cordão dunar, a laguna e o sapal. Do outro lado encontram-se os campos de golfe e o pinhal.
Neste trilho de terra batida e sem declives encontram-se dois observatórios de aves. O primeiro junto à ria e o segundo situa-se no lago artificial do campo de golfe de São Lourenço. Através destes pontos, os adeptos desta actividade podem observar uma grande variedade de aves aquáticas, tais como o Camão (Porphyrio porphyrio), a Garça-pequena (Ixobrychus minutus), o Galeirão (Fulica atra), o Mergulhão-pequeno (Tachybaptus ruficollis) e entres outras. A Pega-azul (Cyanopica cyanus) e o Camaleão (Chamaeleo chamaeleon) também têm por hábito assinalar a sua presença nos Pinheiros-Mansos e nos Pinheiros-Bravos.
Ao longo do percurso deparamo-nos com diferentes tipos de vegetação, como o Saganho-Mouro (Cistus salvifolius), a Aroeira (Schinus terebinthifolius), o Tojo-do-Sul (Genista hirsuta algarbiensis), o Junco (Juncus effusus), a Esteva (Cistus ladanifer) e muitas outras.
Ao chegarmos às ruínas romanas é hora de fazer o percurso inverso e regressar ao ponto inicial. Neste ponto volta-se a ter contacto com a ria e com as suas aves, como as Limícolas e os Flamingos.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
terça-feira, 12 de outubro de 2010
"Linhas Cruzadas"
«Este é um capítulo curto porque o verão passou muito depressa com o seu sol ardente e suas noites plenas de estrelas. É sempre rápido o tempo da felicidade. O Tempo é um ser difícil. Quando queremos que ele se prolongue, seja demorado e lento, ele foge às pressas, nem se sente o correr das horas. Quando queremos que ele voe mais depressa que o pensamento, porque sofremos, porque vivemos um tempo mau, ele escoa moroso, longo é o desfilar das horas.»
O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, de Jorge Amado
sábado, 9 de outubro de 2010
O guardador de sonhos
ilustração: phermad
Ainda não sei bem o que vos vou contar… Caminho sozinho no infinito azul há milhares de anos. Sinto-me como um prisioneiro dos sonhos. Talvez por isso me chamem o guardador de sonhos! Dizem por aí que guardo os sonhos do mundo! Sonhos que chegam até mim de todos os tamanhos e feitios. Sonhos que carregam a fé dos Homens. Sonhos que não estão em mim, porque não me pertencem. Sim, talvez seja um guardador de sonhos! No entanto, entristece-me saber que guardo os sonhos do mundo, mas não me posso permitir sonhar.
Ainda não sei bem o que vos vou contar… Caminho sozinho no infinito azul há milhares de anos. Sinto-me como um prisioneiro dos sonhos. Talvez por isso me chamem o guardador de sonhos! Dizem por aí que guardo os sonhos do mundo! Sonhos que chegam até mim de todos os tamanhos e feitios. Sonhos que carregam a fé dos Homens. Sonhos que não estão em mim, porque não me pertencem. Sim, talvez seja um guardador de sonhos! No entanto, entristece-me saber que guardo os sonhos do mundo, mas não me posso permitir sonhar.
Dizem que existo, porque eles lá em baixo não se cansam de sonhar. Sonham, sonham e sonham! Sonham despertos e enquanto dormem. São uns sonhadores famintos!
Os meus dias são uma correria desenfreada, pois os sonhos não me dão o divino descanso! Estão sempre a chegar. Talvez não saibam, mas os sonhos são pedaços de Céu. Pedaços de Céu que eu cuidadosamente coloco neste infinito azul incompleto. E digo incompleto, porque por vezes chega o dia em que os sonhos deixam de ser sonhos. Nesse dia, pedaços de Céu soltam-se, entram em negras nuvens e descem à Terra sob a forma de pingos de chuva.
Nesse dia, enquanto os pingos de chuva se deixam cair, observo os sonhadores a escapar aos seus sonhos. Tapam-se da cabeça aos pés. Abrem objectos estranhos para se protegerem. Correm. Tssss… São uns cegos! Apenas os chamados tolos se deixam alimentar por eles.
Ah! Lamento, mas por agora não vos posso contar mais, pois a mim, apenas me chamam o guardador de sonhos.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Sonho 1 | "Amo-te"
Amo-te
ainda que o não saiba
para além do fulgor dos beijos
no roçar das palavras
pelos lábios sedentos
Amo-te
em cada curva
em cada traço
atravessando o espaço
Amo-te
na desproporção
dos corpos
deitados na tela
Amo-te
na tinta dos sonhos
que ainda não ousamos pintar
ainda que o não saiba
para além do fulgor dos beijos
no roçar das palavras
pelos lábios sedentos
Amo-te
em cada curva
em cada traço
atravessando o espaço
Amo-te
na desproporção
dos corpos
deitados na tela
Amo-te
na tinta dos sonhos
que ainda não ousamos pintar
___________________
Autora: Cartas a Si
Blogue: http://cartasasi.blogspot.com
Nota: Parece que já ninguém sonha... Que andam todos de cara em baixo e deixaram de olhar para o Céu. Sendo assim, agradeço à única participante que me enviou este lindíssimo poema. Aguardo na minha caixa do correio a tua morada para fazer seguir o prémio azulado!
Parabéns e continua a sonhar, sempre! ^.^
sábado, 2 de outubro de 2010
"estou acima do comum dos mortais"
Fiódor Dostoievski é daqueles autores que sempre tem algo mais para contar nos seus livros do que uma simples história. Crime e Castigo, que tem traços autobiográficos, é sem dúvida um desses livros, que nos revela não somente um crime cometido por um jovem, mas também tudo o que está para além desse acto, ou seja, tudo o que se esconde nas profundezas do espírito humano.
Raskólnikov é um ex-estudante pobre que vive sozinho num pequeno quarto em São Petersburgo, pois a magra ajuda que a mãe lhe envia não lhe permite continuar os estudos. Contudo, a sua irmã Dúnia está disposta a casar com um certo Lújin, de modo a melhorar a condição de vida dos três. Mas os seus pensamentos têm vindo a vaguear para algo grande. Algo que está para além das convenções e da moralidade. Algo que o colocará acima do comum dos mortais. Algo que fará dele um Napoleão! Não pode mais adiar o que há muito tinha planeado fazer. Matar e roubar. Assassinar «um piolho abjecto e nocivo, uma velha agiota, uma inútil […], que sugava o sangue dos pobres». E poderá isso ser considerado um crime?
É com esses pensamentos que Raskólnikov sai de casa. Está decidido a praticar um assassínio que o fará um grande homem, pois age por uma causa. Irá matar a velha e roubar-lhe todas as jóias. E não é a pobreza ou a necessidade que o movem, mas sim uma certeza, talvez até uma fé, que o acto em si lhe colocará numa sociedade superior. Assim, já na casa de Aliona Ivanovna com as suas «mãos horrivelmente fracas», «quase sem consciência de si, e quase sem esforço, quase maquinalmente», ergue o machado com as duas mãos e mata a velha agiota. Atrapalhadamente apressa-se a roubar o que tem para roubar, mas após alguns minutos é surpreendido pela irmã dela, Lizaveta. Não hesita e empunha o machado. Lizaveta Ivanovna tomba. Após este segundo assassínio, absolutamente inesperado, o medo começa a dominá-lo. Tinha de sair dali o mais depressa possível.
«As pessoas como que se dividem em «vulgares» e «invulgares». As pessoas vulgares devem obediência e não têm direito de transgredir a lei porque, está a ver?, são vulgares. Mas as invulgares têm direito a cometer todos os crimes e transgredir a lei, precisamente porque são invulgares.»
A partir deste episódio tudo muda na vida de Raskólnikov, mas não como ele imaginava. Ele considerava-se uma pessoa invulgar, mas após ter cometido os dois assassínios não mais a consciência da culpa e os delírios o deixaram. Afinal será que não passava de uma pessoa vulgar?
Ao longo de toda a história vamos descobrindo a fragilidade da consciência e da sanidade. O quanto um acontecimento pode desencadear uma série de reacções contraditórias na razão e na loucura de Raskólnikov. Mas outras histórias vão-se desenvolvendo paralelamente à história central. E é nessas outras histórias paralelas que também presenciamos a frágil fronteira existente entre o discernimento e a alienação. Na mente de Raskólnikov e dos outros personagens que o rodeiam percorremos também pelas nossas comuns imperfeições. As hesitações, as reflexões, as interrogações, as desconfianças, os vícios, a premeditação, a culpa, o conflito, a degradação, a loucura, o delírio, a miséria, o sofrimento, o sacrifício, a ostentação, a bondade, a amizade, o equilíbrio, a maldade, a crueldade, a vileza, a luxúria, a perda, o medo, a mentira, o orgulho, a solidão, o abismo, o arrependimento, a esperança, a redenção, o amor, etc.
Um autêntico retrato da mente humana! Uma obra perfeita para o estudo da psicanálise!
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
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