Alcanede. Fotografia de Rogério.
«Versos, trazei-me Dáfnis da cidade.
Assim como a novilha já cansada
de procurar por bosque e vale, vai,
se deita junto ao rio nas verdes ervas
e nem à noite cede já tardia,
assim o meu amor a Dáfnis prenda
e nem cuide eu de lhe levar remédio.
Versos, trazei-me Dáfnis da cidade.
Ó despojos deixados pelo pérfido
como penhor de amor que me entregava,
eu os confio à terra que mos guarde
e a mim de novo tragam o meu Dáfnis.
Versos, trazei-me Dáfnis da cidade.
As ervas estas e os venenos estes
no Ponto em que eles nascem colheu Méris,
ele próprio mos dando, o tendo eu visto
por os beber em lobo se mudar,
em bosque se esconder e dos sepulcros
as almas invocar longe levando
searas semeadas noutros campos.
[...]
Ó meus versos, parai, que da cidade,
ó parai, versos meus, me chega Dáfnis.»
«Bucólicas», in Obras de Virgílio
4 comentários:
Andaram os poetas 2000 anos a cantar o bucolismo e nunca ninguém conseguiu regressar à beleza dos clássicos.
Formidável!
:)
A beleza singela de um clássico :)
Aproveito e deixo um convite: participe na Blogagem de Março do blogue www.aldeiadaminhavida.blogspot.com. O tema é: “Onde cresceu o meu Pai”. Basta enviar um texto máximo 25 linhas e 1 foto para aminhaldeia@sapo.pt (+ título e link do respectivo blog) até dia 8 de Março. Participe. Haverá boa convivência e possíveis prémios (veja mais no dia 28/02 no blog da Aldeia)!
Jocas
Lena
Hummm... muito bucólico! :)
Não percebi muito bem, mas pronto!
Beijocas!
Teresa não sei se ajuda, mas esta passagem foi transcrita da oitava bucólica. A oitava bucólica é cantada por dois pastores, Dámon e Alfesibeu, que cantam o seu amor contrariado. Esta parte transcrita é cantada pelo último, que está a fazer de mulher rejeitada por Dáfnis, o seu amor. Alfesibeu canta rituais mágicos para prender o amado.
Penso que seja isto, pelo menos assim o entendi... :)
Beijinhos e bom fim-de-semana!
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