Lisboa, Portugal
Eu fui. Mas o que fui já me não lembra:
Mil camadas de pó disfarçam, véus,
Estes quarenta rostos desiguais.
Tão marcados de tempo e macaréus.
Eu sou. Mas o que sou tão pouco é:
Rã fugida do charco, que saltou,
E no salto que deu, quanto podia,
O ar dum outro mundo a rebentou.
Falta ver, se é que falta, o que serei:
Um rosto recomposto antes do fim,
Um canto de batráquio, mesmo rouco,
Uma vida que corra assim-assim.
in Os Poemas Possíveis, José Saramago
3 comentários:
Não sou muito de ler poesia, nem Saramago tão pouco, como sabes. Curioso é que as poucas frases ou poemas que li dele me agradam bastante. Como é o caso deste poema... :)
Uma grande beijoca!
Saramago que, como poeta, ele mesmo não se achava nada de especial, tem neles (seus poemas) frases, momentos de nos criar borboletas no nosso interior. O seu "Jogo do Lenço", então, é qualquer coisa de...de...eu sei lá. Delicioso?
Quando te decides finalmente a ler Saramago, Teté?! ;)
Beijoca
Delicioso, sim, Carlos!
Tanto que ele nos deixou.
Quem é que hoje se vai deliciar com o teu livro, quem é? ;)
Beijinhos
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