quinta-feira, 27 de setembro de 2012

"o ritmo buliçoso da vida de escritório"

Going to work, Slawek Gruca, Polónia

«Resolvi passar a chegar ao escritório uma hora mais tarde. Assim, estou muito mais descansado e fresco quando lá chego e evito aquela primeira hora desconsoladora do dia de trabalho, durante a qual o meu sistema nervoso, ainda lento, e o meu corpo fazem de todas as pequenas tarefas um tormento. Descobri que, se chegar mais tarde, o trabalho que executo é de muito melhor qualidade.»
Uma Conspiração de Estúpidos, John Kennedy Toole


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

8| livrarias e bibliotecas no mundo


«Library under the treetops» foram as palavras mágicas que me fizeram recuar uns passos para espreitar o que ali se escondia; que nos convidava a parar e a entrar na leitura ao ar livre. 

Ora esta pequena biblioteca, escondida sob as copas das árvores, pode ser encontrada na capital eslovena, Ljubljana, junto às margens do rio Ljubljanica. Achei a ideia um máximo e fiquei mesmo maravilhada com este achado, que ainda por cima estava bem composto de leitores!

Claro que depois de uma manhã animada de voltas e mais voltinhas, os pés já pediam descanso, por isso este foi o lugar ideal para descansar à beira-rio e saborear umas palavras do guia da cidade, que ainda pedia para ser descoberta.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

«Preocupo-me, Logo Existo!»


Preocupo-me, Logo Existo! de Eric Bogosian é a peça que sobe ao palco do Teatro das Figuras, esta sexta-feira, dia 21 de setembro, às 21h30 e que terá Diogo Infante na interpretação.

Refere o ator que, «Regressar ao universo de Bogosian é como rever um amigo de longa data que a vida se encarregou de afastar. Bastam apenas alguns minutos para que se recupere a intimidade. O tempo é uma medida curiosamente ilusória. O humor corrosivo e politicamente incorrecto de Bogosian talvez sirva demasiadamente bem a minha necessidade de questionar tabus, hipocrisias e demagogias de uma sociedade apática e deprimida, que precisa de novos paradigmas e de novas filosofias.»

Admiro imenso o trabalho de Diogo Infante e por isso aguardo com grande expetativa mais esta peça do ator. Aqui, Diogo Infante interpretará diferentes personagens: Bebé interior, Taxista, Espectador, Diabo, Músico, , Médico e Homem da Classe Média, «com os problemas que se aproximam às preocupações que os portugueses estão, actualmente, a viver».

Fica o aviso. A peça já está agendada para o Porto e ao que parece, ainda vai correr por algumas cidades do país. Para quem gosta de teatro, é melhor estar atento, pois o público de Lisboa aplaudiram com entusiasmo. :0)

sábado, 15 de setembro de 2012

É hoje!


«...eles não são estúpidos, percebem muito bem que isto pode tornar-se num rastilho de pólvora, pega-se fogo aqui e vai rebentar lá adiante, de todo o modo, já que para eles somos merda, então vamos sê-lo até ao fim, ombro com ombro, e desta merda que somos algo os salpicará a eles.» 
Ensaio sobre a lucidez, José Saramago

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O desafio dos 50

Hoje escrevo a propósito de listas de livros. Como sabem, existem muitas e estão constantemente a ser divulgadas. Umas para enumerar os melhores livros de sempre; outras para lembrar-nos dos livros que devemos ler antes de morrer; algumas feitas só com autores premiados com Nobel, Booker Prize e sei lá mais o quê; outras ainda com os livros mais difíceis de ler; ou até com os piores livros de sempre; etc.

Seja pela curiosidade de ver quais os livros selecionados, seja pela vontade de descobrir, quem sabe, outros livros/autores, confesso que tenho por hábito ler estas listas. Não é que lhes vá dar grande importância, porque cada um de nós tem a sua preferência de leitura, mas é também agradável encontrar nessas listas muitos livros que já lemos e que no final até concordamos com a escolha do crítico. 

No outro dia ao ler o blogue Viajar Pela Leitura, em que a Paula refere que já está "um bocado farta de listas" e o Nuno Chaves comenta que devíamos de fazer uma lista com os "50 livros a serem lidos até morrer", fiquei a matutar na ideia por a considerar bastante interessante e assim decidi aceitar o desafio de criar a minha lista de livros, mesmo correndo o risco de me esquecer de algum. E claro, também tenho consciência que daqui a uns dez anos a lista já não será a mesma, por ainda ter muitos por ler e descobrir!

A lista que se segue não tem qualquer ordem de preferência e não é bem a lista referida. Não é uma lista de livros obrigatórios, nem sequer dos melhores de sempre. É sim, uma lista de livros que foram marcantes, únicos, extraordinários, apaixonantes, viciantes, singelos, perturbadores, cómicos e entre outras coisas que nos tocam cá dentro, enquanto leitores que somos, e que de alguma forma também definem aquilo que sou. 

1| Memorial do Convento, José Saramago 
2| O Alienista, Machado de Assis   
3| Húmus, Raul Brandão 
4| Uma Casa na Escuridão, José Luís Peixoto 
5| Os Maias, Eça de Queirós 
6| O Estrangeiro, Albert Camus 
7| Poesias de Álvaro de Campos 
8| Metamorfose, Franz Kafka 
9| O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de la Mancha, Miguel de Cervantes
10| A Divina Comédia, Dante Alighieri 
11| O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde 
12| Mystic River, Dennis Lehane 
13| Pela Estrada Fora, Jack Kerouac 
14| O Deus das Moscas, William Golding 
15| A Quinta dos Animais, George Orwell 
16| O Principezinho, Antoine Saint-Exupéry 
17| A Lua de Joana, Maria Teresa Maia Gonzalez 
18| Beloved, Toni Morrison 
19| Capitães da Areia, Jorge Amado 
20| O Remorso de Baltazar Serapião, Valter Hugo Mãe 
21| Desgraça, J. M. Coetzee 
22| Crime e Castigo, Fiódor Dostoievski 
23| Anna Karénina, Lev Tolstoi 
24| Jane Eyre, Charlotte Brontë 
25| As Brumas de Avalon, Marion Zimmer Bradley 
26| Os Passos em Volta, Herberto Helder 
27| Rebecca, Daphne du Maurier 
28| O Amor em Tempos de Cólera, Gabriel García Márquez 
29| O Grande Gatsby, F. Scott Fitzgerald 
30| Por Favor Não Matem a Cotovia, Harper Lee 
31| O Homem que Via Passar os Comboios, Georges Simenon 
32| As Vinhas da Ira, John Steinbeck 
33| História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar, Luís Sepúlveda
34| O Dia dos Prodígios, Lídia Jorge 
35| A Mancha Humana, Philip Roth 
36| As Aventuras de João Sem Medo, José Gomes Ferreira 
37| O Barão Trepador, Italo Calvino 
38| Ele foi Mattia Pascal, Luigi Pirandello 
39| As Aventuras de Tom Sawyer, Mark Twain 
40| Contos de Natal, Charles Dickens 
41| Werther, J. W. Goethe 
42| A Arte de Amar, Ovídio 
43| Aparição, Vergílio Ferreira 
44| O Nariz, Nikolai Gógol 
45| Cândido, Voltaire 
46| Siddhartha, de Hermann Hesse 
47| Fazes-me Falta, Inês Pedrosa
48| Se Isto é um Homem, Primo Levi 
49| O Silêncio do Mar, Vercors 
50| A Última Fome, John Christopher 

Agora, e aproveitando a deixa do Nuno Chaves, desafio-vos a selecionar os vossos 50. :0)

terça-feira, 4 de setembro de 2012

"a vida nunca acaba bem"

Depois de ter lido Os livros que devoraram o meu pai, fiquei com imensa vontade de voltar a ler Afonso Cruz. A oportunidade só voltou a proporcionar-se com o lançamento do seu novo romance, Jesus Cristo bebia cerveja. Este é um livro que nos conta a história de Rosa, uma rapariga cobiçada pelo olhar lascivo dos homens, que vive no Alentejo com a sua avó Antónia. Rosa ficou órfã de pai e quando fez a primeira comunhão disse ao padre que a sua mãe foi substituída pela própria Virgem Maria. É apaixonada por westerns e está constantemente a ler ou a citar passagens do seu western preferido A morte não ouve o pianista, em que o personagem principal é um pistoleiro muito famoso, Harold Estefania. Gosta de chupar pequenas pedras como se fossem rebuçados, pois estas «são pedras que apanhou em lugares onde viveu algum tipo de felicidade ou de dor, momentos que não quer esquecer.» 

Para além de Rosa, vive nesta aldeia o padre Teves, que «começou a devotar uma constante atenção [às nádegas, uma] área tão desprezada – ou tão amada – da anatomia.» e tem uma predileção pelas nádegas mitológicas de Rosa. O pastor Ari, que é o único amigo de Rosa e um apaixonado por ela, que diz que não morre, «que é para não [a] deixar sozinha.» E outros personagens que ajudam a compor a história, como o Zé Romão, o caseiro Rato, a Matilde, a senhora Santos & Santos, o Alípio. Já numa outra aldeia próxima, ficamos a conhecer o professor Borja, um homem da ciência com mais de setenta anos, que gosta de pintar versos, assinados por um tal de Diógenes de Oenoanda, no muro impecavelmente branco, que limita a propriedade de Miss Whittemore, uma inglesa, que «dorme dentro de um cachalote que um antepassado seu caçou nos mares do Sul.» 

Um dia, a vida do professor Borja cruza-se com a de Rosa e este começa a visitá-la no monte, com alguma frequência. E é numa dessas visitas, que Rosa, muito chorosa, confessa-lhe que gostaria de satisfazer o sonho da sua avó, pois esta não queria morrer sem conhecer a Terra Santa. A partir daqui, os dois começam a engendrar possibilidades para levar a velha até Jerusalém, que é como quem diz: «- Se nós não conseguimos chegar a Jerusalém, temos de fazer com que Jerusalém venha até nós.» 

E já contei muito sobre esta história poética, tão trágica e tão cómica, em que Jesus Cristo bebia realmente cerveja, pois o vinho era a bebida dos romanos. Neste romance, sentimos a necessidade constante de parar para sublinhar algumas passagens e vontade de partilhar com alguém uma dessas passagens realmente fantásticas ou irónicas do autor. Gostei imenso!

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