segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

"Os livros, esses animais opacos"

寄り道 (desvio), Jun Kumaori, Japão

«OS LIVROS, ESSES ANIMAIS SEM PERNAS, mas com olhar, observam-nos mansos desde as prateleiras. Nós esquecemo-nos deles, habituamo-nos ao seu silêncio, mas eles não se esquecem de nós, não fazem uma pausa mínima na sua vigia, sentinelas até daquilo que não se vê. Desde as estantes ou pousados sem ordem sobre a mesa, os livros conseguem distinguir o que somos sem qualquer expressão porque eles sabem, eles existem sobretudo nesse nível transparente, nessa dimensão sussurrada. Os livros sabem mais do que nós mas, sem defesa, estão à nossa mercê. Podemos atirá-los à parede, podemos atirá-los ao ar, folhas a restolhar, ar, ar, e vê-los cair, duros e sérios, no chão.»
«Uma casa cheia de livros» in Abraço, José Luís Peixoto

1 comentário:

Teté disse...

Gosto deste profundo amor que o escritor denota pelos livros... :)

Beijocas!

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