quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

"Cemitério dos Livros Esquecidos"

Library Head, Paul Rumsey, Reino Unido

«Seguimos o guardião através daquele corredor palaciano e chegámos a uma grande sala circular onde uma autêntica basílica de trevas jazia sob uma cúpula retalhada por feixes de luz que pendiam lá do alto. Um labirinto de corredores e estantes repletas de livros subia da base até à cúspide, desenhando uma colmeia tecida de túneis, escadarias, plataformas e pontes que deixavam adivinhar uma gigantesca biblioteca de geometria impossível. [...]

- Este lugar é um mistério, Daniel, um santuário. Cada livro, cada volume que vês, tem alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro muda de mãos, cada vez que alguém desliza o olhar pelas suas páginas, o seu espírito cresce e torna-se forte. [...] Dir-te-ei o que o meu pai me disse a mim. Quando uma biblioteca desaparece, quando uma livraria fecha as suas portas, quando um livro se perde no esquecimento, os que conhecemos este lugar, os guardiães, asseguramo-nos de que chegue aqui. Neste lugar, os livros de que já ninguém se lembra, os livros que se perderam no temo, vivem para sempre, esperando chegar um dia às mãos de um novo leitor, de um novo espírito.»
A sombra do vento, Carlos Ruiz Zafón

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

"Os livros, esses animais opacos"

寄り道 (desvio), Jun Kumaori, Japão

«OS LIVROS, ESSES ANIMAIS SEM PERNAS, mas com olhar, observam-nos mansos desde as prateleiras. Nós esquecemo-nos deles, habituamo-nos ao seu silêncio, mas eles não se esquecem de nós, não fazem uma pausa mínima na sua vigia, sentinelas até daquilo que não se vê. Desde as estantes ou pousados sem ordem sobre a mesa, os livros conseguem distinguir o que somos sem qualquer expressão porque eles sabem, eles existem sobretudo nesse nível transparente, nessa dimensão sussurrada. Os livros sabem mais do que nós mas, sem defesa, estão à nossa mercê. Podemos atirá-los à parede, podemos atirá-los ao ar, folhas a restolhar, ar, ar, e vê-los cair, duros e sérios, no chão.»
«Uma casa cheia de livros» in Abraço, José Luís Peixoto

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

«Uma casa cheia de livros»

L'archiviste, François Schuiten, Bélgica

«Eu já vi muitos livros e não contava surpreender-me mas, depois, prestei mais atenção. Enquanto ouvia a descrição do cenário em que encontraram os livros - uma casa cheia de livros, todas as paredes cheias, do chão ao tecto, prateleiras com duas fileiras de livros, pilhas de livros - foquei o meu olhar nas lombadas, nos títulos. [...] Tratava-se de uma organização que previa a dimensão estética - o tamanho das edições, as colecções, as cores das capas - mas, também, uma vertente literária - géneros, história da literatura - e alfabética - B depois do A. Por vincos ínfimos, dava para perceber que eram livros lidos. Mas tão bem tratados, tão minuciosamente acarinhados. Ao mesmo tempo, entre prateleiras, entre salas, fui percebendo quais eram os autores que, criteriosamente, não estavam representados e quais os que tinham toda a sua obra naquelas estantes; fui percebendo quais os períodos e os temas que interessavam à pessoa que juntou todos aqueles milhares de livros.»
in Abraço, José Luís Peixoto

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Trilho de Castelo Rodrigo

Percurso: Pedestre 
Localização: Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda 
Distância aproximada: 1,5 km 
Duração aproximada: 30 minutos 
Grau de dificuldade: Baixo 

Castelo Rodrigo estava assinalado no mapa como sendo o nosso terceiro destino. Esta freguesia que se avista ao longe é mais uma que prima por um bonito cenário pedonal. O percurso tem início na porta nascente, sendo que ao entrarmos nas muralhas é só subir pela Rua do Relógio em direcção à Torre do Relógio, que se vislumbra ao fundo da rua. Daqui podemos contemplar a planície e toda a vila. 

Seguindo o nosso percurso, vamos dar ao Palácio Cristóvão de Moura e mais à frente encontramos a Igreja Matriz. Já no lado esquerdo da igreja, podemos encontrar o Pelourinho, de estilo manuelino.  

No final do passeio podemos relaxar com um chá/café e levar para casa uns doces regionais deliciosos.

Próxima paragem: Marialva





sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

1| Problema de expressão


Os seis anos, a pintar em tons de azul, chegaram. 
O tempo é incrivelmente fugaz... Ainda me lembro do dia em que decidi criar-te a ti, tonsdeazul! Ainda não ultrapassamos a crise dos sete anos, por isso vamos lá ver até onde conseguimos caminhar juntos. 

Este ano não vou fazer nenhuma retrospectiva, nem balanço de coisa alguma. Até porque foi um ano completamente inesperado. E ainda bem que assim foi! 

Para assinalar estes maravilhosos seis anos, que marcam a entrada na escola primária (quem não se lembra do seu primeiro dia de aulas?), o tonsdeazul terá a partir de hoje uma nova tinta, Problema de expressão. Basicamente, serão frases criadas (ou não) a partir de uma fotografia minha, tirada algures por aí. 

Beijinhos e abraços.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

sábado, 10 de dezembro de 2011

«Ausência»

La Gramatica del amor, Meritxell Ribas, Espanha

«Quero dizer-te uma coisa simples: a tua
ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não
magoa, que se limita à alma; mas que não deixa,
por isso, de deixar alguns sinais, um peso
nos olhos, no lugar da tua imagem, e 
um vazio nas mãos, como se as tuas mãos lhes
tivessem roubado o tacto. São estas as formas
do amor, podia dizer-te; e acrescentar que
as coisas simples também podem ser
complicadas, quando nos damos conta da
diferença entre o sonho e a realidade. Porém,
é o sonho que me traz a tua memória; e a
realidade aproxima-me de ti, agora que
os dias correm mais depressa, e as palavras 
ficam presas numa refracção de instantes,
quando a tua voz me chama de dentro de 
mim - e me faz responder-te uma coisa simples,
como dizer que a tua ausência me dói.» 
in Pedro, Lembrando Inês, Nuno Júdice

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

«parto»

Io sono albero foglia vento, Laura Medei, Itália

«há pessoas que têm medo de dizer o que pensam
há pessoas que têm medo de dizer o que sentem
há pessoas que têm medo de pensar o que dizem
há pessoas que têm medo de sentir e não dizem
há pessoas que têm medo de não dizer o que não sentem
há pessoas que têm medo de falar como quem não diz
beijar como quem não ama
sorrir como quem sofre
nascer como quem chora
fugir como quem regressa
caminhar como quem dorme
chorar como quem sonha
há pessoas que têm medo
tanto medo que não conseguem caminhar
e cada passo que dão só os leva para o mesmo sítio
para o útero da mãe que é quente e confortável e tem um sofá 
[com naperons nas costas que os faz sentir quentinhos seguros
e aí todos somos o mesmo
aí todos somos um
aí todos somos aquele que ainda não chorou mas que está quase
e quando começar já não se pode voltar para trás
e passamos toda a vida com olhos na nuca a querer voltar 
[para casa
a querer voltar para dentro porque neva lá fora
e lá dentro é tão quentinho
deixem-me entrar
agora
depois é tarde demais
deixem-me ser o antes
quero ser o antes que seja tarde»
in a verdade dói e pode estar errada, João Negreiros

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

"agora diz o que nós somos"

«- Os homens como nós, que trabalham nas herdades, são os camaradas mais solitários do Mundo. Não têm família. Não pertencem a nenhum lugar. Chegam a uma herdade e trabalham até juntarem algum dinheiro e depois vão à cidade e deitam fora o dinheiro, e então não têm outro remédio senão entrar a sacudir o rabo noutra herdade. Não podem esperar nada do futuro.
[...]
- Connosco não acontece o mesmo. Temos um futuro. Temos alguém com quem falar, alguém que pensa em nós. Não somos obrigados a ficar sentados num café, deitando dinheiro fora, só porque não há outro lugar aonde ir. Se esses outros vão para a cadeia, ficam lá a apodrecer e ninguém se importa. Mas connosco é diferente.
- Mas connosco é diferente! - interrompeu Lennie. - E porquê? Porque... porque eu tenho a ti para cuidar de mim, e tu tens a mim para cuidar de ti, por isso. - Soltou uma gargalhada de prazer. - Continua, George!»

John Steinbeck tem uma particularidade muito especial de contar histórias sobre as gentes que trabalham a terra. Em Ratos e Homens voltamos à ruralidade da Califórnia.
George e Lennie, os protagonistas, caminham juntos numa constante procura de trabalho. Devido à deficiência mental de Lennie, George vê-se obrigado a não deixar falar o amigo, quando este é questionado pelos patrões. Lennie é um gigante bastante capacitado para o trabalho duro do campo, mas quando fala antes de ser contratado, acabam por já não ficar. Para além disso tem uma obsessão em fazer festas a tudo o que seja macio como a seda. O que por vezes acarreta chatices.
Ambos desejam conseguir juntar dinheiro suficiente para comprarem um pedaço de terra e nela poderem cultivar a terra e criar animais. Sonham acordados com essa vida calma e só deles.
Depois de terem fugido de Weed, chegam a Gabilan, perto de Soledad, para trabalhar num rancho. Advertido por George, Lennie fica calado e ambos conseguem o emprego. Só que Lennie parece que está sempre a meter-se em apuros, mesmo não tendo intenção de magoar seja quem for. Sempre com o sentimento de culpa e consciente do constante fardo que é para George, Lennie tenta esconder os seus erros para evitar que George se zangue ou o impeça de criar os coelhos que irão ter no seu pedaço de terra.
Quando ambos conhecem a mulher de Curley, o filho do patrão, George prevê grandes confusões…
Estas cem páginas, que retratam a amizade e os sonhos de quem nada tem, embelezam em palavras a rudeza e frieza visual da história, aqui tão bem contada pelo o autor. 

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

a longa espera


Há anúncios que valem bem a pena ver repetidas vezes! Foi também uma excelente escolha esta de pegar no original dos The Smiths, Please, please, please, let me get what I want.

Pinturas populares (últimos 30 dias)