quinta-feira, 25 de março de 2010

«O Lobo»

FIL Ilustração de FIL

«Filho de Marte, vagabundo de florestas, catalisador de medos e paixões, personagem mitológica e de histórias de terror, estava ali sem movimento no interior de um branco imaculado, superfície demarcada por quatro traços de lápis cinzento no interior de uma folha de papel.
Os olhos amarelos sobressaíram na cor branca ao redor. Primeiro num traço imperceptível, depois ficando da forma da lua cheia, quando o animal acordou. Sim, ele acordou. Ouviste bem. Afinal estamos a falar do lobo e das lendas que o acompanham. Então mesmo na folha de papel, ele acordou sim senhor, e não se fala mais nisso.»
in Celacanto nº 2 - Ecozine sobre o Lobo, de Vários Autores (citação extraída do texto de António Ribeiro)

Ilustração de Mafalda Paiva. Fotografia de Teté

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Nota: A exposição encontra-se patente até dia 11 de Abril, no Museu Nacional de História Natural, em Lisboa. Estão expostos alguns trabalhos dos 80 autores que participaram no Celacanto nº 2, dedicado ao Lobo.

segunda-feira, 22 de março de 2010

«Ilustrarte 09»

Está a decorrer até dia 4 de Abril a Ilustrarte 2009 - IV Bienal Internacional de Ilustração para a Infância. Esta conta com a participação de 50 autores de 14 países, incluindo Portugal, sendo que 150 das melhores ilustrações para crianças feitas em todo o mundo estão em exposição no Museu da Electricidade, em Lisboa.

A exposição encontra-se dividida em três núcleos:
- Ilustrarte 2009 onde se encontram 150 ilustrações originais de 50 artistas. Aqui podem-se observar belezas bem diferenciadas.
- Wolf Erlbruch onde estão dispostas 60 imagens de dez livros e um conjunto de objectos pessoais, traçando uma retrospectiva da obra deste ilustrador alemão.
- Luísa Ducla Soares onde podemos debruçar-nos sobre a obra de uma das mais importantes escritoras portuguesas de livros infantis.

Glenda Sburelin, Itália
Ilustração de Glenda Sburelin, Itália

Horário: 3.ª feira a Domingo, das 10h00 às 18h00.
Mais informação em http://www.ilustrarte.net/
Uma exposição a não perder!

domingo, 21 de março de 2010

«Paisagem»

Peniche
Passavam pelo ar aves repentinas,
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.

Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,
Era a carne das árvores elástica e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.

Eram os caminhos num ir lento,
Eram as mãos profundas do vento
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.

Eram os pinheirais onde o céu poisa,
Era o peso e era a cor da cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exaltação afirmativa.

Era a verdade e a força do mar largo,
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.
in Cem Poemas de Sophia, de Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, 16 de março de 2010

«Os filhos dos outros portam-se bem à mesa»

«Mas, quando nos aborrecemos, voltamos para casa... para deixar de sofrer muito com a vida dos outros e passamos a sofrer um bocadinho com os nossos. É que os nossos filhos são mais feios... a nossa mulher é mais gorda... os nossos pais estão menos mortos... os problemas dos outros, dos outros que fazem parte da raça sem sermos nós, são nobres, os outros são heróicos, os outros passam na televisão, os outros choram sem soltar ranho, morrem sem borrar as calças... e as dívidas de jogo são porque tiveram descuido, uma hesitação, uma fraqueza... nós não nós somos descuidados, hesitantes, fracos e nós não gostamos nem um pouco de nós porque queremos passar as tardes em casa do resto da raça a ajudar a raça a sentir-se melhor com ela própria. Nós queremos passar as tardes a jogar às cartas em casa do resto da raça humana e elogiar-lhes as cortinas... e os dentinhos de leite dos rebentos... enquanto os nossos filhos crescem órfãos, os nossos irmãos não nos conhecem, os nossos pais morrem de solidão nos asilos, os nossos cães morrem à fome no beco do caminho para as férias... [...] E por isso tudo fedemos a falhanço e levamos eternamente o rosto da derrota dos que se deixaram ficar... dos que não gostam de si... nem do que sai de si...»
in a verdade dói e pode estar errada, de João Negreiros

domingo, 14 de março de 2010

A Torre da Rapariga

Istambul é este ano Capital Europeia da Cultura, por isso nada melhor que partilhar uma pequena lenda desta bela cidade.

Em Istambul encontramos duas torres. A Galata Kulesi ou Torre de Gálata (local de onde tirei esta fotografia) e a Kiz Kulesi ou a chamada Torre da Rapariga. Esta última, com uma altura de 30 metros, foi edificado em 1763 e encontra-se situada numa pequena ilha junto à margem asiática do Bósforo. É um dos símbolos da cidade.

A lenda conta que no interior da Kiz Kulesi foi fechada uma rapariga. Esta era filha de um sultão, que a mandou fechar na torre para que a sua filha pudesse fugir a uma terrível profecia. Rezava a profecia que ela seria morta por uma serpente. Como as profecias têm de ser cumpridas, a reclusão não chegou para lhe salvar a vida, pois uma víbora foi até ela, escondida dentro de um cesto de fruta. A rapariga não tendo por onde escapar acabou por ser mordida pela víbora e morreu.
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Fonte: Geografia Universal, Grande Atlas do Século XXI, volume 17

quarta-feira, 10 de março de 2010

"Um homem é feito de histórias"

Não tenho escrito opiniões sobre livros por aqui, mas não tenho deixado de os ler. Também é certo que não gosto de escrever sobre eles assim que os termino, mas hoje tive de deixar a minha preguiça de lado e partilhar neste cantinho o livro que agora mesmo acabei de ler.

Os livros que devoraram o meu pai, de Afonso Cruz
Os livros que devoraram o meu pai, de Afonso Cruz é um livro com uma história simples, que deliciará jovens e adultos com toda a certeza!

Primeira análise foi que gostei imenso do título. Suscitou-me curiosidade! Depois gostei da capa e quando li a sinopse convenceu-me a trazê-lo para casa. São 128 páginas em que não damos pelo tempo a correr.

Elias Bonfim. Assim se chama o filho de Vivaldo Bonfim, que no aniversário dos seus doze anos ganha da avó a chave do sótão. Esta iria dar-lhe acesso à biblioteca de seu pai. É a partir daqui que Elias Bonfim fica a saber que o seu pai não morreu de enfarte, mas sim que tinha entrado dentro de um livro e desaparecido.

Vivaldo Bonfim «só pensava em livros (livros e mais livros!), mas a vida não era da mesma opinião, a vida dele pensava noutras coisas, andava distraída, e ele teve de se empregar.»

«Uma tarde, uma tarde como tantas outras, o meu pai estava a ler um livro que mantinha debaixo dum impresso de IRS para que o chefe não reparasse que ele não estava a trabalhar. E foi nessa tarde que ele, de tão embrenhado, tão concentrado na leitura, entrou livro adentro. Perdeu-se na leitura.»

Elias parte assim numa aventura literária em busca de seu pai. Percorre clássicos como A Ilha do Dr. Moreau, O Estranho Caso do Dr. Jekyll e de Mr. Hyde, Crime e Castigo e Fahrenheit 451. No meio encontra Borges, Proust, Tolstoi, Dante, Shakespeare, Orwell, Gorki, Bergerac, Pascal, Gogol, Calvino, Abbott, as histórias de Lao Tsé, contadas pelo seu amigo Bombo e outros.
E é nesta busca desenfreada, que Elias Bonfim espera encontrar o seu pai. Lê compulsivamente todos os livros do sótão e muito mais. Será que no fim consegue encontrar o seu pai? Pois é uma questão de lerem esta «estranha história de Vivaldo Bonfim»!

sexta-feira, 5 de março de 2010

"reflorindo no frangipani"

Cemitério de Istambul«Em vivo me ocultei da vida. Morto me escondi em corpo vivo. Minha vida, quando autêntica, foi de mentira. A morte me chegou com tanta verdade que nem acreditei. Agora era o último momento em que eu podia mexer no tempo. E fazer nascer um mundo em que um homem, só de viver, fosse respeitado. Afinal, não é o pangolim que diz que todo o ser é tão antigo quanto a vida?»
«O último sonho», in A Varanda do Frangipani, de Mia Couto

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