quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

«[Não basta abrir a janela]»

Castelo de Vide

«Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.»

«Não basta abrir a janela», in Alberto Caeiro, poemas escolhidos

domingo, 27 de dezembro de 2009

“As cidades e os olhos”

Clear Bubble. Fotografia de richard.heeks.

Grão Kan manda chamar Marco Polo e pede-lhe para descrever uma nova cidade…

Para conhecer Sana é imprescindível a arte do pulo. Só assim é possível entrar na cidade, pois perder o instante é ficar na linha de partida como o viajante que apenas vê passar comboios.
Sana é uma cidade bola de sabão, que tudo vê. Onde não se percorrem ruas, nem calçadas. Flutua-se.
Através de Sana, vislumbra-se ao longe as outras cidades invisíveis, mas não é permitido vê-la pela íris do viajante. A cidade deixa-se ver em outros olhos.
A lua aparece nas manhãs sob o céu azul e o sol brilha nas noites, por baixo do lençol de mar.
Em Sana o tempo é irrelevante. A passagem não se dá entre os vivos e os mortos.
As casas são de madeira e encontram-se penduradas por molas em fios de lã multicolor. O solo é coberto por um largo braço de mar, que esconde as ruínas da cidade e as cidades que no futuro serão Sana.
Puff! Assim rebenta a cidade e o viajante pode continuar o seu caminho. Logo o vento sopra por baixo do largo braço de mar, que se espalhou pela terra e uma nova cidade de Sana toma forma. Esta sobe bem alto para trilhar outras viagens, outras vidas.
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Baseado no livro As cidades invisíveis, de Italo Calvino.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Final da contagem

Os doze mais de 2009
O tonsdeazul festeja hoje quatro anos e nada melhor do que aproveitar o dia para fechar a contagem dos livros lidos em 2009.
Nunca me deu para contar os livros que leio, mas no início deste ano decidi aceitar o desafio da Canochinha e hoje dou por terminada a contagem.
E se não me enganei a contar... Foram 93 os livros lidos este ano!
Como não vou enumerar todos, deixo apenas registado os doze livros que extravasaram e surpreenderam-me de maneiras bem diferentes:
- 1984, de George Orwell
- A Arte de Amar, de Ovídio
- Anna Karénina, de Lev Tolstoi
- A Queda, de Albert Camus
- As Cidades Invisíveis, de Italo Calvino
- D. Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes
- História do Rei Transparente, de Rosa Montero
- Húmus, de Raul Brandão
- O Arquipélago da Insónia, de António Lobo Antunes
- O Evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago
- Os Passos em Volta, de Herberto Helder
- Rebecca, de Daphne du Maurier

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