Um ano passou desde a última opinião literária que aqui publiquei... Não tenho dedicado muito tempo aos livros, é verdade! Mas finalmente terminei um livro que há mais de um ano esperava, pacientemente, na mesa de cabeceira a sua hora final. E quando digo "finalmente" não pensem que foi uma tortura lê-lo. Nada disso. Afirmo com toda a convicção que foi um dos livros mais arrebatadores que li nos últimos tempos. Tinha de ser lido assim, bem devagarinho.
Falo-vos de uma autobiografia que descreve-nos, pacientemente, a história de uma vida. A história real de uma pessoa genuinamente extraordinária e que todos nós devíamos ter como inspiração diária, pois nos dias de hoje falta-nos heróis assim.
A história de um homem que teve uma vida de luta e de derrota, mas que teve na derrota a força da resiliência e da esperança para saber aguardar pelo dia da mudança e do triunfo.
É nas suas palavras francas e até ingénuas, que vamos assistindo às mudanças de um homem que nasceu livre, mas que cedo percebeu que essa liberdade era uma ilusão e por isso teve de lutar pela sua liberdade. E não só lutou por ela, como também pela liberdade do seu povo.
«Foi durante esses anos longos e solitários que a minha ânsia de liberdade para o meu povo se dilatou numa ânsia de liberdade para todos, brancos e negros. Estava ciente de que o opressor precisava tanto de ser liberto como o oprimido. Um homem que rouba a liberdade a outro homem é um prisioneiro do ódio, está trancado atrás das grades do preconceito e da estreiteza mental. Ninguém é totalmente livre quando rouba a liberdade de outrem, do mesmo modo que não é livre aquele a quem tiram a liberdade. O opressor e o oprimido são igualmente despojados da sua humanidade.»
Um longo caminho para a liberdade, de Nelson Mandela, é um relato sereno, profundo e cativante de «um homem que ao procurar cumprir o seu dever para como o povo foi inevitavelmente arrancado à família, pois ao tentar servir o seu povo apercebeu-se de que ficava impedido de cumprir as suas obrigações de filho, irmão, de pai e de marido.»