Já devo ter escrito
algures aqui de que gosto e tenho sempre curiosidade em ler os escritores
laureados com o prémio Nobel. Nem sei bem o porquê. Talvez seja a ânsia de
descobrir algo de extraordinário que ainda não tenha lido num outro escritor. Nesta busca constante li Rudyard
Kipling, William Yeats, Luigi Pirandello, Pearl S. Buck, Hermann Hesse, Ernest
Hemingway, Albert Camus, John Steinbeck, Pablo Neruda, Saul Bellow, Gabriel García
Márquez, Nadine Gordimer, José Saramago, Günter Grass, Imre Kertész, Orhan
Pamuk e Doris Lessing. No vasto leque de autores, encontrei estilos bem distintos e marcantes, outros nem tanto. Todos eles sempre me permitiram desfrutar de histórias
únicas, que no final deixavam-me a vontade de voltar num
futuro próximo. Sendo que a todos eles voltei, ficando até viciada em Hemingway, Camus,
Steinbeck, García Márquez e Saramago (o único que descobri a obra antes
do prémio).
Isto tudo para dizer, que
no mês passado terminei mais um Nobel, Os Anões de Harold Pinter, e tive a minha
primeira desilusão “nobelesca”. As
únicas expectativas que tinha eram: se é Nobel então será com toda a certeza
uma boa leitura! Pois, grande erro. Ao 18.º Nobel descobri a excepção.
«O que eu quero que tu entendas, acima de tudo, é que devemos
ter uma oportunidade de deixar um olho negro um ao outro, se decidirmos que é
preciso. E também que, pessoas como tu e eu, que não são propriamente uma
bênção pura, deviam sobreviver a uma história de amor sem se tornarem
ressentidos, estúpidos ou cegos.»
Os Anões centra-se na vida
de quatro personagens, Len, Mark, Pete e Virginia, que tem uma relação com este último.
Nos primeiros capítulos
apercebi-me de imediato que o livro é quase todo ele com diálogos e assim senti-me
como que reconduzida para uma peça de teatro. Claro que não era este o motivo
para colocar o livro de lado, pois experiências anteriores tinham-me
surpreendido bastante. Só que os primeiros capítulos não entusiasmavam a
continuar. Como romance este livro não estava a desempenhar bem o seu papel e
como peça de teatro escrita também não me estava a convencer. Se estivesse a
presenciá-la em palco seria uma outra questão e até quase que arrisco a dizer que iria adorar a peça! Mas assim surgiu
a dualidade: ler ou largar? 254 páginas foram o pretexto para continuar.
A história está dividida em três partes e começa com Len e Pete a esperar por Mark na casa deste. Enquanto esperam pela chegada de Mark vão espreitando os recantos da casa e conversando sobre trivialidades. Os diálogos soam a absurdo
e sem sentido, apesar de nem sempre o serem. E por vezes até parece que estão a ter uma conversa de surdos.
Ao longo dos capítulos
vamos conhecendo um pouco de todos eles. Len trabalha numa estação de comboios, mas dedica-se também à música. Pete trabalha num escritório e passa os dias a
desmiolar a cabeça da sua namorada Virginia com as suas argumentações de pseudo-intelectual.
E Mark é um actor ao que parece falhado, que adora andar encaixado em mulheres,
não colocando de lado a sua possível tentativa com Virginia.
Os três amigos aparentemente
têm uma amizade forte, sendo Virginia a figura extrínseca que poderá mexer nas arestas desta amizade, uma vez que a relação entre os três também tem as suas limitações: está
restrita à intimidade de cada um, é frágil, impetuosa, perturbante e
destrutiva.
Todo o ambiente em que se
movimentam parece vazio e inseguro. Os personagens vão deambulando umas vezes pela
casa de Mark, outras pela casa de Virginia, outras ainda por um parque ou por
um pub qualquer da cidade londrina. Entre os diálogos e monólogos vão-se revelando as fragilidades e frustrações que, de capítulo em capítulo, encaminham-se para a nudez da verdade. Nestas controversas interlocuções, os nossos amigos ora argumentam sobre
Shakespeare e Bach, ora discutem sobre os autocarros que fazem o percurso de
Notting Hill, ora falam sobre o absurdo. E como já o disse, parece que não há um sentido. Os personagens
andam perdidos entre si e os seus diálogos também. Existe um certo caos e uma certa vertigem em toda a história. O fim encontra a degradação destrutiva da amizade.
Todo este niilismo podia
entusiasmar, mas sinceramente não me cativou. Talvez não fosse a altura ideal
para o ler... O certo é que se o autor tivesse mais algum romance, eu não
voltaria a lê-lo.