domingo, 20 de outubro de 2024

"Só para o caso de precisares..."


 "[...] e deixava-se ficar em frente à Zee TV ou às notícias, para não olhar para o cadeirão vazio ao seu lado, o de Naina... e para encher os ouvidos de som, risos e conversas severas, assuntos mundiais importantes, para proteger a mente do silêncio ensurdecedor que o recebia sempre que chegava a casa todos os dias há dois anos."

Pensei que partia para um livro sobre livros e afinal este livro de Sara Nisha Adams tem mais camadas. "A lista de leitura" não é tão leve como o imaginara aquando o iniciei. 

Aviso que para quem ainda não leu os livros mencionados da lista de leitura e não gosta de "spoilers", isso poderá ser um entrave. No entanto, este livro abarca muito mais que isso. 

Fala de solidão, de depressão e o quanto é necessário cuidar da nossa saúde mental. E é aí que entra o benefício dos livros, do quanto eles podem ajudar-nos e também serem aconchego em diferentes fases da nossa vida, e do poder das bibliotecas, enquanto serviço para as comunidades onde estão inseridas. 

Já o tinha visto pelas redes sociais, mas pouco me disse. Desta vez, nesta minha última visita à biblioteca, chamou-me. Talvez tenha sido Naina a sussurrar: "- Leva-o. Só para o caso de precisares...". 

Serviu como um bálsamo para estes dias menos bons. Por vezes, temos que deixar que as lágrimas caiam. 

Nota: Da lista, não li o último (nem conhecia): "Um bom partido" de Vikram Seth. Claro, que terei de o ler!

domingo, 6 de outubro de 2024

"a avó tem pássaros na cabeça"


"Ouvi dizer que a avó tem pássaros na cabeça.

Não é de estranhar que as aves se aproximem dela, pensando que é uma nuvenzinha."

Não é fácil envelhecer. Ficámos mais vagarosos, perdemos muitas das faculdades e o corpo parece não querer responder. Na verdade, voltamos ao início, de quando éramos pequeninos e precisávamos de quem olhasse por nós.

Quando somos crianças dizem-nos, constantemente, que parece que temos a cabeça nas nuvens. E vivemos muito no mundo do imaginário.

Assim, quando chegamos a velhinhos, por vezes a mente também viaja para outros lugares. "É como se as nuvens descessem à cabeça" e não nos deixassem seguir com a vida ou reconhecer aqueles que nos são queridos.

A maior dor é para quem cuida. Pois a demência num ente que nos é querido é algo que nos destrói e nem sempre é fácil de lidar.

"Nuvens na cabeça" de Elena Val é um livro belíssimo que nos mostra as fragilidades de uma criança e uma velhinha. E que nos ensina a nós, "que temos os pés bem assentes na terra", que nem tudo tem de ser questionado.

Deixar de lado a razão e a lógica e aprender a desfrutar dos momentos de amor são a magia para viver cada dia como se fosse único.

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