Começamos em Agosto com Toni, o personagem deste livro, a informar-nos que não vai durar muito. Um ano. Foi o limite que colocou a si próprio. Aos 54 anos, prevê suicidar-se daqui a um ano e até diz-nos a data exata: 31 de julho, quarta-feira, à noite.
"É o prazo que concedo a mim mesmo para pôr os meus assuntos em ordem e averiguar porque é que não quero continuar na vida."
Toni não gosta da vida e eu, nos primeiros meses, não consegui simpatizar com Toni. Pois o personagem, a par de ir libertando-se de objetos, decide também escrever notas retrospetivas de toda a sua vida ao longo desse ano que lhe resta. E no decorrer desses dias e meses fui dissecando Toni através das suas impressões. Daí que dei por mim a detestar e até sentir repulsa por este homem comum, professor de Filosofia, que tem um discurso, tantas vezes, repugnante para com as mulheres, e até de ódio para com os que lhe são mais próximos.
Só que à medida que os dias e meses vão avançando na história, a minha raiva apazigua-se e dou por mim enredada num turbilhão de outros sentimentos.
A honestidade e a transparência das suas reflexões, com os seus altos e baixos, colocam a nu até os flashes da sua vida mais íntima. Toni desarma.
Questiono, questiono, questiono, ...
Toni partilha o balanço da sua vida, com data de validade, em 802 páginas.
Poxa o quão a vida pode ser frágil e a solidão ruidosa!
"Há muito tempo que não me ria tanto. Não me ocorria outra forma de ocultar a tristeza que me embriagava."
Sim, porque... "É do caraças; se fores um homem, obrigam-te a morrer como um cão; se fores um cão, facilitam-te uma morte indolor, fazendo o mais possível para que estejas tranquilo e não te sintas só."