quarta-feira, 16 de novembro de 2022

#saramago100

 


"Depois de muito caminhar, ainda o amanhecer vinha longe, achei-me no meio do campo com uma barraca feita de ramos e palha, e lá dentro um pedaço de pão de milho bolorento com que pude enganar a fome. Ali dormi. Quando despertei, na primeira claridade da manhã, e saí, esfregando os olhos, para a neblina luminosa que mal deixava ver os campos ao redor, senti dentro de mim, se bem recordo, se não o estou a inventar agora, que tinha, finalmente, acabado de nascer. Já era hora."
As pequenas memórias, José Saramago

Para celebrar o centenário de Saramago, estou a ler os Cadernos de Lanzarote. Pretendo ler todos até ao final do ano, sendo que iniciei o volume IV este mês.

Também comecei a ler As Pequenas Memórias. Para quem nunca leu o autor, este é um excelente livro para descobrir o Nobel.

Ler Saramago, sempre.

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Adeus, meu pai


 «com a morte, também o amor devia acabar. acto contínuo, o nosso coração devia esvaziar-se de qualquer sentimento que até ali nutrira pela pessoa que deixou de existir. pensamos, existe ainda, está dentro de nós, ilusão que criamos para que se torne todavia mais humilhante a perda e para que nos abata de uma vez por todas com piedade. e não é compreensível que assim aconteça. com a morte, tudo o que respeita a quem morreu devia ser erradicado, para que aos vivos o fardo não se torne desumano. esse é o limite, a desumanidade de se perder quem não se pode perder. foi como se me dissessem [...] vamos levar-lhe os braços e as pernas, vamos levar-lhe os olhos e perderá a voz, talvez lhe deixemos os pulmões, mas teremos de levar o coração, e lamentamos muito, mas não lhe será permitida qualquer felicidade de agora em diante.»
a máquina de fazer espanhóis, Valter Hugo Mãe

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