"O homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe."
Jean-Jacques Rousseau
Depois de ter lido O Deus das Moscas de William Golding fiquei realmente com sérias dúvidas. Será que o homem não é mau por natureza e a sociedade é que lhe condiciona?
Um avião despenhado. Uma ilha deserta. Um grupo de miúdos, sem adultos por perto. O que podia ser uma história inocente não o é. É antes uma narração perturbadora e arrepiante.
A história começa com Rafael e Bucha. O primeiro será escolhido para liderar o grupo e o segundo será a voz da sensatez e da razão. Será também o portador do fogo através dos seus óculos e o único que realmente pensa.
Inicialmente tudo começa bem. Tirando as brincadeiras e a troça constante com o Bucha, todos se dão bem. O chefe dita as regras para manter a ordem e a sobrevivência. Através do sopro do búzio convoca as reuniões e quem o tiver é autorizado a falar. O búzio é sinal de poder. Todos são cooperativos e tentam, dentro do caos, organizar os dias da melhor forma, mas Jack Merridew começa a ganhar força dentro do grupo e ambiciona o búzio. Tanto que mais tarde, Jack tenta ser eleito chefe, mas não consegue. Raivoso separa-se do grupo e leva consigo alguns rapazes.
A ilha passa a ser povoada por dois grupos. Os que tentam manter o fogo aceso, como única forma de saírem da ilha e os das pinturas e das danças selvagens que caçam, têm festas e divertem-se, tentando desta forma atrair mais rapazes para a tribo.
Sedento de caça, Jack parte em busca de mais carne e é numa destas caçadas que nos é apresentado o Deus das Moscas. Este tem a forma de uma cabeça de porca coberta de moscas, que o grupo colocou numa estaca para dar de oferenda à fera, que eles acreditavam que vivia na ilha.
Os selvagens gostam de festas e numa destas festas loucas de "Mata a fera! Corta-lhe as goelas! Espalha o sangue!", Simão, o único que sabe a verdade sobre a fera, é morto. A tragédia acontece e entre eles é como se nada tivesse acontecido. Só que tudo tende a piorar…
Inocência e maldade, ordem e caos, organização e anarquia, civilização e barbarismo tudo numa ilha.
«Mas a ilha estava carbonizada como lenha velha, Simão estava morto e Jack tinha... As lágrimas saltam-lhe dos olhos e os soluços sacodem-no. Entrega-se-lhes agora pela primeira vez desde que pisara aquela ilha; grandes e estremecidos espasmos de mágoa, que pareciam torcer-lhe todo o corpo. A sua voz eleva-se sob a negra fumarada perante os destroços ardentes da ilha, e, infectados por aquela emoção, os outros rapazinhos tremem e soluçam. E, no meio deles, de corpo imundo, cabelo emaranhado e nariz sujo, Rafael chora o fim da inocência, o negrume do coração do homem e a quedo pelo ar daquele verdadeiro e sensato amigo que se chamava o Bucha.»
Numa palavra apenas, defino este livro como inquietante.