"Todos sabiam da rapidez com que as autoridades israelitas se lançavam sobre uma estrada da Cisjordânia assim que um miúdo atirava pedras. No entanto, os soldados no posto de controlo, as tropas na base de Rama, os camiões de bombeiros nos colonatos vizinhos nada tinham feito, deixando o autocarro arder durante mais de meia hora."
"Arik queria explorar a razão pela qual os jovens israelitas podiam sentir mais ódio do que os mais velhos. Acreditava que aquela história seria útil para que a sociedade israelita se olhasse ao espelho. [...]
<<Estes pequenos palestinianos podem ser os terroristas do futuro. Não me venham com essa treta de que toda a gente é um ser humano. São cães, não pessoas, e merecem morrer.>> [...]
- Estamos a falar de crianças de 4 a 5 anos, sabes?
- Miúdos pequenos, sim. E depois?"
Um dia na vida de Abed Salama de Nathan Thrall é um livro não ficcional e bastante emotivo. A história de Abed Salama tem pairado nos meus pensamentos diários.
O jornalista norte-americano Nathan Thrall, a viver em Jerusalém, não nos relata somente o dia fatídico em que o palestiniano Abed Salama perdeu o filho de 5 anos num acidente rodoviário. Ao reconstituir a tragédia passada em 2012, o autor conta-nos também os últimos 50 anos de História do conflito israelo-palestiniano.
É um relato muito duro e perturbador sobre um quotidiano marcado por tensão e conflitos diários, marcado pelo domínio e ocupação dos colunatos, mas tão essencial para perceber o quanto há de crueldade na Humanidade.
São as feridas de ambos os lados que não cicatrizam e onde tudo se tornou banal. É o silêncio ensurdecedor do Ocidente.
"- Não importa se é de esquerda ou de direita. O facto de haver quem celebre a morte de pessoas obriga a que paremos, por um momento, e nos perguntemos como é que chegámos a este ponto."