Em boa hora decidi juntar-me a um grupo de leitura conjunta de O Retorno de Dulce Maria Cardoso. Assim, iniciei o novo ano com um livro magistral que me levou a uma leitura voraz.
A Tinta da China lançou uma nova edição em capa dura para comemorar os 10 anos do livro e foi esta que adquiri. E que bela surpresa foi ao deparar-me com o texto manuscrito pela autora, no início de cada capítulo!
Já tinha ouvido falar maravilhas deste livro desde o seu lançamento, mas fui sempre adiando a sua leitura, apesar do tema ser um atrativo: pós 25 de abril, descolonização, regresso dos portugueses à Metrópole.
A autora relata-nos esse nosso passado através da voz do filho mais velho de uma família de retornados. O Rui. E neste relato cru de um adolescente, vemos o quão duro foi esta perda, não apenas desta família, mas de tantas outras que tiveram de voltar. Famílias estas que eram vistas como "os restos do Império", "os exploradores", que retornavam a uma terra que já não era a sua terra, que tiveram de encontrar o seu lugar na Metrópole, mesmo quando não eram bem vistas. E que na verdade, também já não eram bem-vindas na terra que deixaram para trás. Havia que deixar para trás o passado e olhar para o futuro. Recomeçar.
Dulce Maria Cardoso é uma contadora de histórias poderosa. O Retorno é um relato honesto sobre a Perda, mas também sobre a Memória e o que era o Mundo Português. Não há julgamentos, mas sim um convite à reflexão. Daí esta escolha sublime da autora colocar como narrador um adolescente de 15 anos. Um rapaz que observa, absorve e depois diz as coisas com a ousadia própria de um adolescente.
Este livro trouxe-me também à memória uma excelente série que passou em tempos na RTP: "Depois do Adeus", deixo aqui a referência que vale muito a pena para quem não viu.
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