Não penso muito, deixei-me disso.
Passo despercebido no desconforto de admitirem que existo.
Sou interpretado por quem ainda repara em mim, talvez pela inconveniência do meu cheiro, ou pelo espanto de tal existência. A minha.
Vou existindo no meu mundo, onde os conceitos têm muitas vezes o significado oposto do daquele onde deposito o meu peso. Lixo é bom. É onde como, me visto e me abrigo. E isto é só um exemplo.
Durmo num qualquer banco de jardim; um ritual imposto pela ordem dos dias, do tempo. Acordo com os jactos de água dos lavadores de rua. Vivo (vivo?) em estagnado sobressalto, lânguido e despojado. Afinal o que sinto? Não me lembro. Poucos são os momentos em que me martirizo com a lucidez. Habituei-me, simplesmente. Penso que nem mereço mais. Há mais?
Este sou eu na mente de quem escreve sobre mim e me vê.
Habituei-me ao silêncio das minhas ideias. As palavras pouco significado têm... Um sibilo lembra-me que tenho fome. É o silêncio do costume...
Mas há um silêncio diferente... Agora. Sim, é nesta altura. Um silêncio que eu sinto, um que vem de fora. Que não peço, mas que me é dado. É nesta época... Agora.
Este silêncio que faz sentido, que me faz pertencer a algum lado. Afinal o Sol também se põe para mim. O céu azul despede-se em rosa e lilás ao som dos pássaros e da brisa que me afaga. (Há quanto tempo não me tocam?) Isto é para mim também. É um abraço. É morno e suave. Como o colo da minha Mãe.
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Autora: Humming
Blogue: http://omeusussurro.blogspot.com/
terça-feira, 8 de julho de 2008
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5 comentários:
Este é um daqueles textos que mexe e remexe com o interior de cada um de nós...e por mais que o leia, já o li mais de uma vez, continua a sobressaltar-me e a inquietar...intrigante e cativante.
Não só está deitado como está em baixo... necessita erguer-se para tentar levantar a moral...
Terá que pensar menos naquilo que as outras pessoas pensam sobre ele... terá que partilhar as suas ideias... procurar quebrar o silêncio ou, então, apenas procurar alguém com quem partilhar o silêncio... esse tal silêncio diferente...
Aproveitando as palavras da Su...
É um texto, sem dúvida, cativante!
Não pensando, não pensando, escreveste aquilo que todos não pensam, numa prosa a raiar o poético!
5 *!
Que lindo!O autor(a)estava muito inspirado(a).Gosto de todas,mas essa é imensamente cativante.
Parabéns!
adoro este teu texto e dizer isto assim é demasiado banal.
apesar de ser profundo, é com certa facilidade que o leio e se vai entranhando em mim, como se escrevesses algo que sinto. com as devidas diferenças, como graduações de uma mesma cor.
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