domingo, 6 de outubro de 2024

"a avó tem pássaros na cabeça"


"Ouvi dizer que a avó tem pássaros na cabeça.

Não é de estranhar que as aves se aproximem dela, pensando que é uma nuvenzinha."

Não é fácil envelhecer. Ficámos mais vagarosos, perdemos muitas das faculdades e o corpo parece não querer responder. Na verdade, voltamos ao início, de quando éramos pequeninos e precisávamos de quem olhasse por nós.

Quando somos crianças dizem-nos, constantemente, que parece que temos a cabeça nas nuvens. E vivemos muito no mundo do imaginário.

Assim, quando chegamos a velhinhos, por vezes a mente também viaja para outros lugares. "É como se as nuvens descessem à cabeça" e não nos deixassem seguir com a vida ou reconhecer aqueles que nos são queridos.

A maior dor é para quem cuida. Pois a demência num ente que nos é querido é algo que nos destrói e nem sempre é fácil de lidar.

"Nuvens na cabeça" de Elena Val é um livro belíssimo que nos mostra as fragilidades de uma criança e uma velhinha. E que nos ensina a nós, "que temos os pés bem assentes na terra", que nem tudo tem de ser questionado.

Deixar de lado a razão e a lógica e aprender a desfrutar dos momentos de amor são a magia para viver cada dia como se fosse único.

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

"Sol" de Diogo Carvalho


Passei parte da minha adolescência a ler ficção científica, por isso ler Sol de Diogo Carvalho foi um regressar a esse tempo. Li de um só fôlego. E digo-vos que o Diogo soube misturar bem todos os ingredientes, entre argumento e arte.

Tocando em temas como a destruição dos recursos e o aniquilamento das populações, Sol é uma história que envolve e capta a nossa atenção logo nas primeiras páginas e depois já não nos deixa parar.

Viajamos para um futuro onde o poder e ganância dos mais fortes arrasta para o "fundo dos mega edifícios na escuridão" os mais fracos. Os fortes colonizam, dominam a exploração espacial e descartam o não essencial.

Só que em todas as histórias tem de haver um herói, certo? Aqui temos Sol, uma rapariga que perdeu o pai em criança e que está prestes a perder também a mãe, infectada pela "doença dos colonos".

Mas até "aonde irias no Universo para salvar alguém que amas?"

quarta-feira, 31 de julho de 2024

"É preciso saber sair dos sítios no momento oportuno"

 


Tinha as expectativas em alta, porque Pátria foi um dos meus melhores livros do ano passado. Há dias terminei o Regresso dos Andorinhões de Fernando Aramburu e senti que fui atropelada e sobrevivi. Só que deixei de ser a mesma, após chegar até às entranhas de Toni.

Começamos em Agosto com Toni, o personagem deste livro, a informar-nos que não vai durar muito. Um ano. Foi o limite que colocou a si próprio. Aos 54 anos, prevê suicidar-se daqui a um ano e até diz-nos a data exata: 31 de julho, quarta-feira, à noite. 

"É o prazo que concedo a mim mesmo para pôr os meus assuntos em ordem e averiguar porque é que não quero continuar na vida."

Toni não gosta da vida e eu, nos primeiros meses, não consegui simpatizar com Toni. Pois o personagem, a par de ir libertando-se de objetos, decide também escrever notas retrospetivas de toda a sua vida ao longo desse ano que lhe resta. E no decorrer desses dias e meses fui dissecando Toni através das suas impressões. Daí que dei por mim a detestar e até sentir repulsa por este homem comum, professor de Filosofia, que tem um discurso, tantas vezes, repugnante para com as mulheres, e até de ódio para com os que lhe são mais próximos.

Só que à medida que os dias e meses vão avançando na história, a minha raiva apazigua-se e dou por mim enredada num turbilhão de outros sentimentos. 

A honestidade e a transparência das suas reflexões, com os seus altos e baixos, colocam a nu até os flashes da sua vida mais íntima. Toni desarma.

Questiono, questiono, questiono, ... 

Toni partilha o balanço da sua vida, com data de validade, em 802 páginas.

Poxa o quão a vida pode ser frágil e a solidão ruidosa!

"Há muito tempo que não me ria tanto. Não me ocorria outra forma de ocultar a tristeza que me embriagava."

Sim, porque... "É do caraças; se fores um homem, obrigam-te a morrer como um cão; se fores um cão, facilitam-te uma morte indolor, fazendo o mais possível para que estejas tranquilo e não te sintas só."

sábado, 20 de julho de 2024

"História de um desastre nuclear"


☢️ "Catorze dias é quanto dura a evolução da síndrome aguda da radiação. Em catorze dias uma pessoa morre..."

"A noite de 26 de abril de 1986... Numa só noite deslocámo-nos para um outro lugar da História."

"Demorei a escrever este livro... Quase vinte anos... Encontrei-me e conversei com antigos trabalhadores da central, cientistas, médicos, soldados, samosely [cidadãos que depois de evacuados preferiram voltar às suas casas]..."

"Durante toda a nossa vida, ou estávamos em guerra ou nos preparávamos para a guerra, sabemos tanto sobre ela - e de repente! A imagem do inimigo mudou."

"Nos primeiros tempos éramos todos transformados em objetos raros."

"O mundo está dividido: existimos nós, chernobylianos, e existem vocês, todas as outras pessoas. Reparou nisso? Nós aqui não especificamos: sou bielorrusso, sou ucraniano, sou russo..."

"Chernobyl acelerou a desintegração da União Soviética."

"A minha primeira viagem à Zona...

Durante a viagem eu pensava que estaria tudo coberto de cinzas. [...] Chegas e vês tudo bonito."

"... se eu não posso mudar nada na vida deste homem, tudo o que posso fazer é comer com ele a sanduíche contaminada, [...]".

"Veio para casa todo feliz... Com uma condecoração..."

"Fomos enganados. Fora-nos prometido que regressaríamos três dias depois."

"E eles não compreendiam o que tinha acontecido, queriam acreditar nos cientistas, em qualquer pessoa letrada, como um sacerdote. Mas ouviam repetidamente: <<Está tudo bem. Não tem nada de mal. É só lavar as mãos antes de comer...>> [...] estivemos todos envolvidos... No crime... [Silêncio.]"

Quis somente transcrever algumas das "Vozes de Chernobyl" para vos falar deste livro de Svetlana Alexievich, que me marcou profundamente. 

Não há palavras que consigam abarcar a dimensão desta tragédia. A autora soube fazê-lo de uma forma notável e impactante.

terça-feira, 9 de julho de 2024

24| livrarias e bibliotecas no mundo


 "Lee, lee, lee

y ensancha el alma" ❤️

José Miguel Valle


Foi com esta pequena frase que fomos brindados ao atravessar a porta da ala infantil da biblioteca municipal de Orotava.

Situada na calle Tomás Pérez, em pleno centro histórico, esta bonita biblioteca está, desde 1985, no edifício do antigo Casino. 

Com um acervo de 49 590 livros, esta biblioteca de dois pisos conta com uma sala de leitura, uma área infantil e um espaço mais lúdico para consulta de jornais e revistas. 

Termino, referindo que passamos uma boa hora a ler livros infantis em espanhol e que o bibliotecário que nos recebeu foi uma simpatia. 

quarta-feira, 26 de junho de 2024

Sobre a vida


 "A vida é a hesitação entre uma exclamação e uma interrogação. Na dúvida, há um ponto final."

Livro do Desassossego, Bernardo Soares (Fernando Pessoa)

sexta-feira, 21 de junho de 2024

El Chinyero

 


O vulcão El Chinyero, de 1.561 metros de altura, foi o último a entrar em erupção, em Tenerife, e fica bastante próximo do Teide.

Foi na Reserva Natural del Chinyero que realizamos um dos percursos mais bonitos da ilha. 

Aqui contemplamos uma das paisagens vulcânicas mais impactantes, que ficará registada na nossa memória.

Pinturas populares (últimos 30 dias)