terça-feira, 18 de junho de 2013

«Passado, Presente, Futuro»

Lisboa, Portugal

Eu fui. Mas o que fui já me não lembra: 
Mil camadas de pó disfarçam, véus, 
Estes quarenta rostos desiguais. 
Tão marcados de tempo e macaréus. 

Eu sou. Mas o que sou tão pouco é: 
Rã fugida do charco, que saltou, 
E no salto que deu, quanto podia, 
O ar dum outro mundo a rebentou. 

Falta ver, se é que falta, o que serei: 
Um rosto recomposto antes do fim, 
Um canto de batráquio, mesmo rouco, 
Uma vida que corra assim-assim. 
in Os Poemas PossíveisJosé Saramago

3 comentários:

Teté disse...

Não sou muito de ler poesia, nem Saramago tão pouco, como sabes. Curioso é que as poucas frases ou poemas que li dele me agradam bastante. Como é o caso deste poema... :)

Uma grande beijoca!

Carlos Rocha disse...

Saramago que, como poeta, ele mesmo não se achava nada de especial, tem neles (seus poemas) frases, momentos de nos criar borboletas no nosso interior. O seu "Jogo do Lenço", então, é qualquer coisa de...de...eu sei lá. Delicioso?

susemad disse...

Quando te decides finalmente a ler Saramago, Teté?! ;)
Beijoca


Delicioso, sim, Carlos!
Tanto que ele nos deixou.

Quem é que hoje se vai deliciar com o teu livro, quem é? ;)
Beijinhos

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